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"BORN SINGER": A essência que conecta passado, presente e futuro [AS CARTAS DO BTS]

Writer: efeitobtsefeitobts




Falar sobre “Born Singer” é fazer um passeio pelo tempo e revisitar o BTS lá em 2013, para que possamos, depois, olhar e celebrar o BTS de 2022.


Por isso, mergulhando nessa música, precisamos ter conhecimento de dois contextos:


Primeiro, “Born Singer” é uma lembrança dos primeiros dias do BTS. A data oficial de debut do grupo é 13 de junho de 2013, mas eles tiveram o seu showcase de debut no dia 12 e lançaram a faixa exatamente um mês depois, em 12 de julho, como reflexo dessa experiência.





Em segundo lugar, “Born Singer” se baseia em uma outra música lançada também em junho de 2013: “Born Sinner” (“Pecador de nascença”), de J. Cole, que era uma das estrelas em ascensão mais promissoras da cena do hip hop americano na época.





Assim, o fato do BTS ter reinventado - com o coreano e com a sua experiência - uma das faixas mais quentes do momento mostrou que o grupo estava atento ao hip hop contemporâneo com muita paixão, além de demonstrarem respeito a um artista que muito admiravam. 


"Born Singer”, portanto, está repleta de memórias literalmente dos primeiros 20 dias após o debut do BTS. E poderíamos esperar que o período imediatamente após o debut fosse um momento maravilhoso e de felicitações, mas esse não foi o caso.


Foi ali que, 20 dias apenas após o seu debut, o BTS, composto por jovens nos seus apenas 15 a 19 anos de idade, aprendeu de forma dura que o debut não seria uma linha de chegada, mas tão somente um ponto de partida. Que o mar sempre poderia revelar em si um deserto azul.


Na data ainda em que “Born Singer” foi lançada, Namjoon publicou uma carta no então fancafe do grupo junto ao ARMY e nós sentimos a necessidade de traduzir essas palavras para o português - para que você, ARMY, pudesse sentir o impacto da sinceridade do garoto Namjoon.


Link do post no fancafe: cafe.daum.net/BANGTAN/jbaQ/15





Dessa forma, “Born Singer” não é uma música nem feliz, nem triste. Nada estava garantido para eles e, portanto, havia apenas a incerteza e, ao mesmo tempo, a esperança. Por isso, essa é uma música nua e crua. É real.


E, sendo uma faixa que nasce também do respeito e identidade do Bangtan junto ao hip hop, é na voz da nossa rap line que as emoções do grupo ganham vida de forma intensa nessa letra - cada um com foco em um ponto diferente, mas igualmente impactantes e reflexivos.


Nos versos do SUGA, veremos a expressão de raiva e frustração diante de falácias de que ele havia mudado completamente por debutar como um idol. Como se tivesse deixado para trás toda a sua essência junto ao hip hop apenas por desejar fazer algo diferente sob o nome do BTS.


Nos versos do RM, a seguir, em contraste, mas em companhia à raiva de SUGA, temos o medo. O processo de lidar com as expectativas de um mundo que, enfim, parece virar o olhar para lhe ceder o holofote e, ao mesmo tempo, o medo de decepcioná-lo.


Com j-hope, resgatamos aquilo que está com o grupo e que faz o BTS ser o BTS ainda hoje: a unidade. Um relacionamento de confiança e diálogo combinado ao convívio cotidiano, de modo que eles mantêm a sua atitude de humildade, essência e intenção original dos seus primeiros dias.


Por fim, passaremos pelo refrão de “Born Singer”, que é a epítome do que o BTS tinha a dizer e ainda hoje compartilha com o mundo ao abrir o seu álbum antológico nove anos mais tarde: “Eu sou um cantor de nascença” e, independentemente do que aconteça, isso é parte do que SOMOS.





O BTS debutava tendo dois diferenciais muito importantes: primeiro, a sua realidade. “Tudo o que tínhamos era o nosso sonho”, foi o que o grupo narrou também em WAB: The Eternal. O BTS não vinha das “Grandes 3”. Não era o mais querido pela imprensa e muito menos pela indústria.


O segundo diferencial era o seu amor e integração abertamente declarados ao hip hop, não apenas como música, mas como movimento e forma de ver o mundo enquanto buscavam seu espaço e voz. É mais do que simplesmente fazer rap ou ter uma rap line no grupo.


Por exemplo, caso você não saiba, a nossa rap line era ativa em movimentos artísticos - cada qual na sua cidade - muito antes da origem do BTS. Inclusive, esse fator é mencionado por SUGA aqui em seus versos ao dizer que, ao performar pela primeira vez sob o nome de BTS, ele revisitou também a sua primeira experiência em um palco de três anos atrás.





Três anos atrás pois, quando ainda estava em Daegu, sua cidade natal, Yoongi, sob o nome artístico de GLOSS, compunha um grupo (crew) de hip hop underground chamado D-Town. Ele já havia trilhado um certo caminho.





Além dele, Namjoon, sob o pseudônimo de Runch Randa, já era um nome de destaque no hip hop underground sul-coreano, tendo em vista que a sua capacidade lírica de escrever letras fantásticas junto ao flow da batida era absurda já em torno dos seus 15 anos.





Hoseok, por sua vez, era parte de um grupo de dança underground em Gwangju chamado NEURON - que inclusive é também mencionado na letra de sua música CHICKEN NOODLE SOUP.





Ah! Importante pontuar que, quando dizemos “underground”, estamos fazendo uso de uma expressão típica do hip hop que nos remete a movimentos que buscam explorar - artisticamente, socialmente, culturalmente - formas alternativas de enxergar a própria vida. Além disso, grupos, músicos, movimentos underground são marcantes na sua afronta e luta diante de ideias hegemônicas, preconceitos, autoritarismos, etc.


No entanto, ao debutarem como um grupo que unia “idol” e “hip hop” sob a mesma identidade, o BTS causou estranheza em uma indústria que não estava pronta ou disposta a recebê-los. "Os idols do hip hop", como eram chamados, geraram controvérsia entre os fãs de ambas as faces dessa moeda.





Sobretudo Yoongi e Namjoon, que já possuíam uma certa posição e reconhecimento no mundo underground do hip hop, foram massacrados. Ouviram risadas que afirmavam que, por debutarem em um grupo, usarem maquiagem ou fazerem um penteado, o seu caráter de rapper estava absolutamente perdido.


Isso gera raiva e frustração, que são expressas por SUGA nos seus versos em “Born Singer”, e é por isso que ele discute o viver “no limite entre idol e rapper”. “Eu ainda sou o mesmo!” é o que ele grita diante de um mundo que queria lhe dizer o que é ser um rapper ou não.


Contudo, mesmo sob todo esse contexto, subir ao palco e fazer rap, cantar e dançar como BTS fazia com que Yoongi ainda se sentisse vivo. E esse sentimento trazido pelo palco e pela esperança de que mais aplausos e apoio chegariam era capaz de superar até mesmo a exaustão de seu corpo e mente.


“Eu ainda mantenho a minha essência como sempre, eu ainda sou um rapper”. Trazendo à perspectiva mais presente… GLOSS, Yoongi, SUGA, prod. by SUGA, Agust D, cada um certamente com traços particulares, mas todos sob uma mesma essência: o amor pela música.


Ao entrarmos nos versos do RM, nos encontramos com a segunda emoção que queremos explorar aqui: o medo.


Namjoon sabia da sua curta, mas sólida trajetória até ali também. Assim como sabia e afirmava o seu desejo e sonho de “surpreender o mundo”.


No entanto, expressar sonhos e objetivos ao mundo pode, muitas vezes, ser sinônimo de receber uma carga de pressão e expectativas que, de fato, despertam medo em nós. Medo de falhar. Medo de frustrar. Medo de decepcionar nós mesmos, aqueles que amamos e, no caso do rapper, o público ouvinte.





O verso em que RM debate a “expectativa do mundo” traz um detalhe intrigante!


Na análise do educador @/ColinSH3 (via Twitter), diretamente da língua coreana, ele destaca uma curiosidade gramatical que, poucas vezes, é percebida na letra de “Born Singer”. Colin afirma que, ao falar sobre a sua assimetria frente às expectativas do mundo, RM usou um termo que, geralmente, é encontrado apenas em textos de matemática ou física: “비대칭” (bih-dae-ching). Matematicamente falando, uma assimetria é um desequilíbrio ou irregularidade no arranjo, formato ou padrão espacial de um objeto ou figura. Contudo, aqui em “Born Singer”, Namjoon, um então estudante de altíssimo nível de Ilsan, utiliza um termo completamente científico de forma criativa a fim de sublinhar os medos que o debut e o palco poderiam revelar desproporcionalmente entre o seu talento inegável e as expectativas pesadas desse novo caminho.





É ainda interessante como RM descreve a nova sensação pós-debut de ser assistido por aqueles a quem ele assistia e de olhar de cima para aqueles a quem ele, antes, olhava de baixo ou admirava. Essa é uma referência intensa até mesmo ao pensarmos no contraste artista x plateia, sobretudo em shows ou os programas de music shows. Antes, ele estava na plateia ou pela TV e assistia aqueles que olhavam para ele de cima. Aqui, em “Born Singer” e no primeiro palco do BTS, essas posições se invertem.





Namjoon coloca em evidência ainda a dualidade vivida pelo artista no palco e fora dele no que diz respeito ao esforço, o que é um debate fundamental. Seja pelo nervosismo, pelo deslumbre, pelo próprio tempo passando ou até pelo cansaço, os seus três anos e processos enquanto trianee parecem se esgotar no palco em nada mais que três minutos. Essas palavras nos levam a pensar, sem dúvida, na dedicação, prática, trabalho que existe nos “bastidores” do palco ao qual sobe um artista de alta performance e, sobretudo, um artista que vive “no limite entre idol e rapper”.


Ainda assim, mesmo nesse misto de caos e harmonia do momento que passa de maneira tão fugaz, RM afirma enfaticamente que se entrega por completo ao subir naquele palco. Que se coloca naquele espaço de forma nítida, sendo o idol, o rapper ou o que quer que seja. Ele é “real pra caralho” no seu sonho e pelo seu sonho, e isso importa.





Em seguida, descrevendo as muitas sensações e emoções envolvidas naquela primeira apresentação, é linda a forma como RM descreve o contato entre os membros do BTS após descerem do palco. “Eu poderia ler a sua mente” e “um sorriso gentil em vez de um ponto de interrogação”, enquanto dão tapinhas nos ombros uns dos outros. Certamente, seria difícil tentar se expressar ali no momento com palavras, mas o sentimento dos sete era uníssono. E um sorriso brotava naturalmente, ganhando destaque sobre todos os pontos de interrogação e incertezas com os quais ainda tinham que lidar. Naquele momento, nada disso importava: era apenas os sete, o ARMY já nos seus primórdios, o palco e a música.





Por fim, RM retoma em seus versos um pouco do que SUGA já havia tocado no que se refere ao hate, preconceito, opressão e palavras tão duras que o BTS recebeu como balas antes sequer de debutar - fosse do lado idol, do lado do hip hop ou ainda de terceiros.


Porém, em toda a sua sabedoria para brincar com as palavras no coreano, RM rebate as atitudes e palavras dessas pessoas com a mesma força: digite, poste, faça vídeos falando sobre mim ou tentando me derrubar. Enquanto isso, estarei aqui trabalhando e correndo atrás dos meus sonhos - o que era real em 2013 e se mantém ainda em 2022.





Não foram poucas as vezes em que assistimos os membros do Bangtan declararem que são “apenas sete garotos da Coreia que amam música e amam fazer música juntos”. Essa atitude de ser e de se apresentar diante do mundo é algo que não mudou no BTS em 2013, em 2017 ou em 2022. Na sua essência, há raízes diversas, mas união e o desejo de se moverem na direção dos seus sonhos e do que desejavam dizer e fazer com integridade - não apenas por si, mas por uma geração.


É observando já em 2013 essa essência do grupo que j-hope canta dois lembretes que permaneceriam junto à identidade do BTS:


Não esqueça a intenção original.


E não esqueça quem você é ou de onde você veio.





A intenção original do BTS já estava clara desde o seu trailer de debut: 


“Lutar contra preconceito/opressão

Lutar pela nossa geração

Lutar pela minha música”


E quem o BTS é?


Sete, mas também um. Um, mas também sete. Um, mas também milhões em todos nós hoje. Música. Expressão por meio das artes. Sonho. Juventude. Jornada. Esperança. Resistência. Amor. E tantos outros substantivos que poderíamos colocar aqui.


Mas antes e acima de tudo, a identidade do BTS está no título e no refrão dessa música, que é onde chegamos agora: “Born Singer”. “Cantor de nascença”. Alguém que nasceu para viver e expressar-se na vida por meio da voz.





Finalmente, o refrão de “Born Singer”, que tanto abre como medeia e encerra a música, traz a nossa vocal line cantando a sua confiança de que o tão aguardado debut e a primeira performance eram, sim, uma revelação. Uma confirmação. Tal experiência convenceu aqueles sete garotos de que, de fato, a música e o ser cantor é parte do que são por natureza e de que eles tinham o que era necessário para ter sucesso na música. Por isso, o próprio título da faixa.


É claro que a sua confiança não era plena e inabalável - e prova disso são as emoções tão sinceras pelas quais passamos até aqui. A sua confiança existia na mesma medida em que se fazia presente a vulnerabilidade e isso é algo que, pela forma como se deu a sua trajetória, o Bangtan jamais perdeu.


É nesse misto de confiança e vulnerabilidade que o BTS usou ali a palavra “고백” ou “confissão”. Uma confissão dupla: da sua certeza de que eram cantores natos, mas também da sua compreensão de que, talvez, após apenas uma primeira apresentação, essa declaração fosse ainda muito prematura - embora parecesse também tardia por já terem passado por tanto juntos.


Ainda assim e independentemente de qualquer circunstância, em “Born Singer”, ganha lugar o alívio de, enfim, poderem chamar um palco de seu após tanto sangue, suor e lágrimas. “Eu estou tão feliz, eu estou bem”. No palco, o BTS encontra pertencimento - na música, no ARMY e neles próprios.





Amostra disso são as performances que podemos assistir de “Born Singer” em anos passados e a forma como esses três elementos são primordiais ali. O BTS começa cantando com os membros virados de frente uns para os outros, virados ao centro do palco. No entanto, ao caminharem para o fim da apresentação da faixa, eles se viram de frente para o ARMY e, na maioria das vezes, choram. Choram porque “uma miragem que costumava estar sempre tão distante está diante dos meus olhos”, de modo que os palcos cresceram cada vez mais, bem como o ARMY. E nas palmas, vozes e sorrisos daqueles que os ouvem, o Bangtan encontra reafirmação de que “Born Singer” é real.


Por isso, feliz 9 anos, Bangtan, e obrigada VOCÊS, Seokjin, Yoongi, Hoseok, Namjoon, Jimin, Taehyung e Jungkook, por escolherem confessar ao mundo que já nasceram tendo música e voz como prova e porta.




1 Comment


Stephane Santos
Stephane Santos
Oct 30, 2022

Obrigada por mostrar a teoria dessa linda música!💜

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