Nessa semana, demos início à leitura coletiva de “A Arte de Amar”, escrito por Erich Fromm, livro que foi uma das inspirações da era Love Yourself!
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Durante essa Semana Wonder 起, realizamos a leitura, então, do 1º capítulo e do ponto I do 2º capítulo. Para que possamos ter um material a recorrer se quisermos relembrar algum detalhe do livro ou mesmo para termos uma síntese das ideias ali contidas de maneira prática, semanalmente traremos também uma resenha do que foi lido ao longo da última semana. A partir dela, você poderá até mesmo utilizar o famoso Ctrl + F e encontrar um termo ou ideia específica de forma muito mais rápida! Vamos começar?
*As páginas que serão indicadas junto às citações se referem à numeração do livro como disponibilizamos gratuitamente no nosso site. Caso queira acessá-lo para encontrá-las, clique aqui.
Já nas páginas iniciais do livro, Erich Fromm dá algumas pinceladas nas ideias das quais ele estaria prestes a discorrer de forma brilhante.
Um exemplo é a afirmação categórica de que o amor individual ou próprio não pode ser alcançado sem o amor ao próximo nas suas muitas formas.
Outro exemplo é quando ele nos apresenta uma provocação para reflexão: “Numa cultura em que tais qualidades são raras, o alcance da capacidade de amar deve permanecer uma conquista rara.” (p. 9)
Desse modo, já abrimos as alas de “A Arte de Amar” nos questionando: Como a nossa cultura pauta o amor? Seja a nossa cultura contemporânea e capitalista ou podemos pensar até mesmo mais especificamente nas nossas realidades, nos questionando como a nossa cultura local - brasileira - compreende o amor?
Daqui em diante, começamos a mergulhar nas propostas e ideias do autor.
Fromm afirma um fato: o de que muitos acreditam no amor como sorte ou acaso. Pense, por exemplo, em como crescemos aprendendo muito mais a narrativa de “Você eventualmente encontrará o amor” do que a de “Você deve aprender sobre o amor e aprender a amar”.
É absolutamente naturalizada na sociedade contemporânea a ideia de que não há nada que precisamos aprender em relação ao amor. Essa proposta está embasada em algumas premissas bastante superficiais. Elas são:
1️⃣ “A maioria das pessoas vê o problema do amor, antes de tudo, como o de ser amado em lugar do de amar.” (p. 11)
Convenhamos, quem é que nunca na vida se perguntou: Como eu posso ser amado por alguém? O que eu preciso fazer para ser sequer considerado “amável”?
Algumas saídas comuns para essas perguntas que surgem na forma como se move a nossa cultura são:
Alcançar sucesso, poder, riqueza, status social;
Construir uma determinada imagem, pelo culto ao corpo, a maneira de se vestir e de se adornar;
Demonstrar modos agradáveis e socialmente bem vistos como ser modesto, ser prestativo, ter boa conversa e afins.
Por isso, de forma muito dura, porém com os pés bem ao chão, Fromm diz que “o que a maioria dos de nossa cultura considera ser amável é, essencialmente, uma mistura de ser popular e possuir atração sexual.” (p. 11)
2️⃣ “[...] a ideia de que o problema do amor é o problema de um objeto e não o de uma faculdade. Pensa-se que amar é simples, mas que difícil é encontrar o objeto certo a amar - ou pelo qual ser amado.” (p. 11)
Enxergar o amor como objeto e não como capacidade é um baita problemão que começamos a desconstruir já nas primeiras páginas. A grande razão por trás desse fator é o modo como, nas suas origens e pilares essencialmente mercantis, “toda a nossa cultura se baseia no apetite da compra, na ideia de uma troca mutuamente favorável” (pág 12). Ou seja, em outras palavras, tudo e todos são direta ou indiretamente vistos como produtos.
O ser humano moderno, especialmente na sociedade contemporânea e capitalista, baseia a sua felicidade - metaforicamente ou não - em olhar uma vitrine ou um catálogo e selecionar o que é mais atraente, qual produto mais lhe agrada. Colocamos isso em prática desde quando fazemos uma compra até quando, por vezes, escolhemos os nossos cursos acadêmicos e carreiras ou estabelecemos relacionamentos em todos os seus tipos.
Fromm traz novamente uma provocação: Se o que torna uma pessoa ou um objeto atraente varia de acordo com a moda da época, bem como do local e afins, o que é considerado como “atraente” hoje na sociedade em que estamos inseridos? Quais são as padronizações - como de produto - existentes por trás dessa noção de “atraente”?
Sob essa lógica, o autor afirma: “Assim, duas pessoas se apaixonam quando sentem haver encontrado o melhor objeto disponível no mercado, considerando as limitações de seus próprios valores cambiais.” (p. 12)
Confesso que essa passagem me trouxe à memória até mesmo experiências pessoais bastante complexas. É algo pesado, porém que se faz evidente na atualidade ao ouvirmos, por exemplo, alguém dizendo “Não sou bom/boa o suficiente para X”, “Não sou tão ... como X e Y para conviver nesse mesmo grupo” ou “Como é que alguém como X acabou junto a alguém como Y?”. Pessoas são reduzidas a objetos melhores ou piores, mais procurados ou menos procurados e, muitas vezes, somos nós que levantamos esses pensamentos sobre nós mesmos.
Desse modo, essa segunda premissa nos mostra que as relações do amor humano acabam seguindo também os mesmos padrões da nossa cultura mercantil, a qual está muito mais enraizada em nós do que parece.
3️⃣ “[...] na confusão entre a experiência inicial de ‘cair’ enamorado e o estado permanente de estar amando, ou como poderíamos dizer melhor, de ‘permanecer’ em amor.” (p. 13)
Nessa terceira premissa, Fromm discute esse estágio inicial do encontro com a sensação do amor, com a paixão, poderíamos dizer. Ele explica essa experiência como uma unidade inicial em que os envolvidos se sentem como um só, compartilhando de um sentimento miraculoso e admirável.
Isso nos lembra o que discutimos ao longo da semana também com Love Yourself: Wonder e “Euphoria”, não é mesmo? Sobre a euforia, a utopia da chegada de um sentimento deslumbrante e inexplicável?
No entanto, esse “tipo” de amor não é duradouro pela sua própria natureza que se baseia nessa surpresa, nessa maravilha inicial. Assim, a medida em que a intimidade aumenta entre as pessoas envolvidas, esse caráter miraculoso do relacionamento vai diminuindo.
Diante dessas três premissas que, muitas vezes, tiram o nosso foco daquilo que importa, Erich Fromm questiona: O que é que podemos fazer?
A resposta do autor é a mesma que foi destacada pelo BTS em Love Yourself e é a mesma a qual estamos nos propondo agora através dessa leitura: A resposta é realmente estudar o amor, o amar e as suas significações.
Para tal propósito, segundo Fromm, o primeiro passo é “tornar-se consciente de que o amor é uma arte, assim como viver é uma arte” e que “[...] se quisermos aprender como se ama, deveríamos proceder do mesmo modo por que agiríamos se quiséssemos aprender qualquer outra arte.” (p. 13)
Imagine, por exemplo, que você quisesse aprender a tocar um instrumento ou a dançar ou a pintar. O que é que fazemos?
O processo tem duas partes: a TEORIA e a PRÁTICA. Na junção das duas, está a essência do domínio de qualquer arte - inclusive a arte de amar.
Além delas, há algo ainda mais importante que talvez seja o motivo pelo qual a nossa cultura naturaliza como normal considerarmos que não temos nada a aprender sobre o amor: a preocupação, o compreender como é importante voltarmos a nossa atenção para aprendermos essa arte também.
“Quase tudo mais é considerado mais importante do que o amor: o sucesso, o prestígio, o dinheiro, poder. [...] Dar-se-á que só se considerem dignas de ser aprendidas aquelas coisas com as quais se pode obter dinheiro ou prestígio. [...] o amor ‘só’ traz proveito à alma.” (p. 14)
Como toda boa análise e teoria, devemos começar do começo: o ser humano, a própria existência humana.
Fromm nos conduz em uma jornada de volta às origens da existência essencialmente humana, a partir da sua separação com a natureza - instintiva e animal. A única possibilidade que restou, então, foi o desenvolvimento da razão para que fosse possível encontrarmos uma nova harmonia que fosse propriamente humana em lugar da harmonia da natureza pré-humana, que já foi perdida e não pode ser readquirida.
O ser humano, assim, sendo dotado de razão, chega à consciência de si. Como Fromm coloca de forma muito dura, o homem chega à consciência de que nasceu não por sua vontade própria, de que morrerá também independentemente da sua vontade e de que, nesse curto intervalo de tempo, por não estar mais junto à natureza, está coberto por essa separação e solidão. Na sua impotência diante de fatos que agora compreende e que não pode mudar, o ser humano tem na existência uma prisão.
Ao tomar consciência de si e de todos esses fatores, a experiência de separação da natureza desperta a ansiedade e dá origem à sensação de vergonha e ao sentimento de culpa.
Por exemplo, você se lembra da história bíblica de Adão e Eva? Nela, ambos provam da árvore e de um fruto do conhecimento, desobedecendo às ordens que tinham recebido. E aqui destaco um grifo pessoal, pois achei essa frase muito impactante: “Não há bem nem mal a menos que haja a liberdade de desobedecer” (p. 16). Assim, até nessa metáfora, o homem se emancipa da sua harmonia animal e original com a natureza.
A partir do reconhecimento dessa separação, surge a mais profunda necessidade da existência humana: a de superar a sua separação. Em todas as eras e culturas, a pergunta foi a mesma. E a resposta, por mais diversa que seja, sempre vem do mesmo campo: A própria existência humana e as condições dessa existência.
Portanto, Erich Fromm nos apresenta alguns exemplos de meios para se “fugir” da separação do ser humano à natureza e encontrar alguma forma de “união”. São eles:
1️⃣ Todos os tipos de “estados orgíacos”
Ao ouvirmos a palavra “orgia” e seus derivados, geralmente pensamos em sexo, Dionísio, as festas bacanais da Antiguidade ou coisas semelhantes, não é verdade?
Porém, “orgia” diz respeito, na verdade, a um estado de confusão, de desorientação. É por essa razão que Fromm usa o termo “estados orgíacos” para nos falar sobre transes autoprovocados como através do uso de drogas, do consumo de bebidas ou da própria experiência sexual que nos levam a um estado de exaltação - quase como uma utopia que, momentaneamente, nos permite esquecer ou transcender a separação.
Assim, todas as formas de união orgíaca são intensas e violentas, ocorrem envolvendo tanto o corpo como o espírito e, sobretudo, são transitórias.
2️⃣ A conformidade com o grupo
Exatamente pelo fato de que os estados orgíacos são momentâneos, a forma de fuga da separação mais escolhida pelo ser humano é a da união baseada na conformidade com o coletivo, com o grupo à nossa volta.
Nessa insana “necessidade de pertencer”, ao nos conformarmos, desaparece cada vez mais o individual, pois o alvo é conseguir pertencer ao rebanho. Por isso, Fromm é muito firme ao afirmar que, na sua maioria, as pessoas mais querem conformar-se ao invés de serem forçadas a conformar-se. Muitos vivem sob a ilusão de que seguem suas próprias ideias e ideais, quando, na verdade, infelizmente estão apenas seguindo um fluxo do espírito da época.
Segundo o autor, isso se expressa até mesmo, por vezes, na pauta atual da igualdade. A noção de igualdade se modificou e muito pela sociedade capitalista. Antes, a igualdade era vista como uma condição para o desenvolvimento da individualidade - talvez, se assemelhe mais ao que chamamos hoje de "equidade". Na sociedade capitalista contemporânea, porém, a “igualdade” significa uma mesmice em vez de unidade.
Desse modo, assim como os produtos foram padronizados, vem a padronização do homem. Nesse conformismo da padronização e além dele, vem também o papel do trabalho e o prazer da rotina. Pare um segundo e pense sobre como se organiza o seu cotidiano, ARMY. Para isso, Erich Fromm diz:
“Do nascimento à morte, de segunda a segunda-feira, de manhã à noite, todas as atividades são rotinizadas e pré-fabricadas. Como poderia um homem apanhado nessa rede de rotina deixar de esquecer que é um homem, um indivíduo único, alguém a quem só é dada esta oportunidade única de viver, com esperanças e decepções, com tristezas e temores, com a ânsia de amar e o horror ao nada e à separação?” (p. 21)
Assim, ao contrário da união pelos estados orgíacos, a união pela conformidade ao grupo não é intensa, nem violenta. Pelo contrário, é calma e vem disfarçadamente na nossa rotina, diz respeito mais à nossa mente do que ao nosso corpo e, principalmente, não é transitória. É permanente, podendo durar toda uma vida caso não ousemos pensar fora dessa caixa.
3️⃣ A atividade criadora
O terceiro meio possível de se alcançar a união é o que Fromm chama de “atividade criadora”, literalmente o ato de criar, produzir a partir da criatividade que reside em nós. Isso se justifica pois quem cria algo se une ao seu material e, assim, o ser humano pode se unir ao mundo nos processos de criação.
No entanto, no trabalho moderno - operário, mecanizado, padronizado, essa qualidade criadora da obra também basicamente desapareceu.
Em resumo, todos esses meios buscados pelo ser humano como resposta ou são passageiros, ou são falsos, de modo que a única resposta completa para o problema da existência humana e da separação está na unidade interpessoal (entre pessoas), na fusão das pessoas umas com as outras. Assim, a resposta plena está no amor.
Fromm busca diferenciar, então, o amor - sendo esse uma resposta amadurecida a todo o problema da existência humana - e algo que ele nomeia como “união simbiótica” - que surge da perspectiva de que dois são um.
Essa “união simbiótica” pode ser dividida de duas formas e tente pensar em como elas, de fato, se aplicam à realidade de muitos relacionamentos - e não apenas amorosos:
⚫️ União simbiótica passiva ou masoquismo
Esse exemplo tem como base a SUBMISSÃO. Assim, uma pessoa, para fugir da separação e da solidão da existência, se torna uma parte submetida de outra que a dirige. Se torna parte da “grandeza” desse outro alguém, mas não é independente, ou seja, há uma renúncia da integridade de quem ela é.
⚫️ União simbiótica ativa ou sadismo
Esse exemplo tem como base a DOMINAÇÃO e se expressa em uma pessoa que se expande e se valoriza somente ao incorporar outra pessoa que a adora.
O amor, no entanto, completamente diferente desses dois extremos, é explicado pelo autor da seguinte maneira: “Em contraste com a união simbiótica, o amor amadurecido é a união sob a condição de preservar a integridade própria, a própria individualidade” (p. 23).
Por isso, é apenas no amor que pode ocorrer o paradoxo de que dois seres sejam um e, ao mesmo tempo, permaneçam como dois. Amar alguém - independentemente da forma do relacionamento - não significa deixar quem ou o que se era anteriormente.
Ao admitirmos, então, essas características e também o fato de que devemos aprendê-lo, Fromm nos apresenta o amor também como uma ATIVIDADE.
Nesse tópico, se abre mais um problema, tendo em vista que a nossa compreensão acerca dessa palavra hoje é, de certa forma, ambígua. Na compreensão moderna dessa palavra, “atividade” se refere a “uma ação que produz mudança numa situação existente por meio do gasto de energia”. Tome como exemplo os nossos estudos ou os nossos trabalhos, que se dirigem sempre a um alvo exterior a ser alcançado.
Por outro lado, Fromm nos fala sobre atividades da alma como a meditação ou como a contemplação. Enquanto a atividade no seu conceito moderno é passiva e se refere ao uso de energia para executarmos metas externas, essa outra noção de atividade se refere a aquilo que é “inerente ao homem”, já pertencente ao ser humano, sem que importe a produção de algo externo.
Para entendermos melhor a sua ideia, Fromm traz Baruch Espinoza - filósofo e racionalista do século 17 - para a conversa na sua diferenciação de afetos ativos e passivos, ou em outras palavras, a diferença entre ações e paixões:
⚫️ AFETO ATIVO ou AÇÃO → Aqui, “o homem é livre, é senhor do seu afeto”.
⚫️ AFETO PASSIVO ou PAIXÃO → Aqui, “o homem é impelido, é objeto de motivações de que ele próprio não tem consciência”.
Assim, o amor é uma AÇÃO, uma ATIVIDADE que só pode ser exercida na liberdade e nunca como resultado de uma compulsão.
Sendo o amor, então, uma atividade, é comum que surja a famosa descrição de que, no amor, é mais importante DAR do que RECEBER. Porém, existem equívocos muito grandes por trás dessa ideia.
Um deles surge ao compreendermos DAR como sacrificar, abandonar, se privar. Outro equívoco exemplar é, na mesma lógica mercantil, dar mas apenas em troca de receber, porque dar representa um empobrecimento.
Na verdade, está longe disso. Dar não significa se privar, nem sacrificar, nem perder, mas sim expressar a sua potência e vitalidade. Expressar abundantemente quem você é. Desse modo, fica claro que a mais importante esfera do “dar” não é a das coisas materiais. O que temos de mais precioso? Nós mesmos, o nosso tempo e o todo que somos.
“Dar implica fazer da outra pessoa também um doador e ambos compartilham da alegria de haver trazido algo à vida. [...] o amor é uma força que produz amor.” (p. 26)
O amor que gera amor pode se expressar tanto na figura de uma criança, de uma nova vida, por exemplo. Porém, pode também se expressar nas pequenas e simples coisas do cotidiano que desfrutamos a partir do compartilhar do amor.
Partindo do amor como atividade e dessa nova dimensão do “dar”, Fromm nos traz alguns elementos básicos que são comuns a todas as formas e formatos de amor. São eles:
⚫️ O CUIDADO
“Amor é preocupação ativa pela vida e crescimento daquilo que amamos.” (p. 27)
Essa frase do autor fala por si, não é? Estar atento e pronto a demonstrar cuidado, em momentos bons ou ruins, é demonstração ativa do amor.
⚫️ A RESPONSABILIDADE
“Ser responsável significa ter de responder, estar pronto para isso.” (p. 28)
Geralmente, a palavra “responsabilidade” é compreendida como dever, mas esse não é o seu verdadeiro sentido. É, na verdade, um ato inteiramente voluntário e diretamente ligado ao cuidado.
⚫️ O RESPEITO
“Respeito não é medo e temor, [...] é a capacidade de ver uma pessoa tal como é, ter conhecimento de sua individualidade singular.” (p. 28)
O respeito sempre caminha junto à liberdade, não importa a dimensão da relação ou relações que estejamos falando. Na ausência do respeito, surge o perigo de submissão ou dominação, como discutimos antes.
⚫️ O CONHECIMENTO
Fromm escolhe nos falar sobre esse elemento por acreditar que esteja “diretamente ligado ao desejo especificamente humano de conhecer o segredo do homem”.
“Nós nos conhecemos, e contudo, mesmo apesar de todos os esforços que possamos fazer, não nos conhecemos. Conhecemos nosso semelhante, e contudo não o conhecemos, porque não somos uma coisa, nem o nosso semelhante é uma coisa.” (p. 29)
Esse desejo de conhecer o outro e nós mesmos, ou seja, o segredo da humanidade, pode levar o ser humano a atitudes grotescas como várias formas de destruição. No entanto, o outro caminho possível para se conhecer o “segredo” é amar. É o amor.
“O amor é o único meio de conhecimento que, no ato da união, responde à minha pergunta. No ato de amar, de dar-me, no ato de penetrar a outra pessoa, encontro-me, descubro-me, descubro-nos a ambos, descubro ao homem.” (p. 29)
Assim, o amor nos permite transcender o pensamento e as palavras e conhecer mais a fundo a própria humanidade.
No entanto, Erich Fromm nos alerta que o conhecimento pelo pensamento, que é o conhecimento psicológico, também é uma condição necessária para termos o pleno conhecimento ao amarmos.
Conhecer o ser humano de uma forma objetiva é importante para podermos sempre enxergar a realidade e superar as ilusões. Dessa forma, o amor e o amar não são irracionais.
Até aqui, o autor tratou sobre o amor como essa superação madura à separação humana da natureza. Na reta final dessa primeira porção do 2º capítulo, no entanto, ele discorre sobre uma outra necessidade humana, uma que se direciona mais ao sentido biológico e, especificamente, o desejo de união entre os pólos masculino e feminino.
Segundo Fromm, há diversos mitos que levam a que ideias relacionadas a esse tópico prevaleçam, como o de que homem e mulher eram um só, se separaram como metades repartidas que agora buscam um ao outro para se completar.
Além disso, o autor discorre rapidamente - acredito que não era o seu foco principal - sobre a forma como todo ser humano é psicologicamente bissexual, possuindo tanto um pólo masculino como feminino. Ele diz:
“O homem, tal como a mulher, só encontra união dentro de si na união de sua polaridade masculina e feminina. Essa é a base de toda a criatividade.” (p. 32)
Nesses trechos finais do tópico “Amor, resposta ao problema da existência humana”, Fromm realmente mergulha em algumas proposições mais voltadas à Psicologia, porém não se aprofunda necessariamente nelas. Por isso, te convidamos, caso seja uma área do seu interesse, a conhecer outras obras como “Análise do Homem”, do próprio Fromm, ou então livros que estejam mais ligados a outras linhas teóricas da Psicologia, porém que tragam ideias semelhantes - como o livro “Jung: O Mapa da Alma”, no qual podemos entender um pouco sobre anima e animus, conceitos do Carl Jung que também nos levam a uma exploração dessas características psicológicas humanas.
Por fim, nessa seção, o autor emite alguns pensamentos bastante polêmicos sobre a sexualidade, sobre a homossexualidade e sobre a própria masculinidade e feminilidade, das quais não compartilho. No entanto, como comentamos em nosso grupo nos últimos dias, é de se compreender que ele explana uma perspectiva técnica e bastante biológica, além de ter escrito essa obra na década de 50 - dezenas de anos atrás.
De qualquer maneira, apenas nessas poucas páginas que lemos ao longo dessa primeira semana, já nos vimos diante de incontáveis reflexões e, sobretudo, perguntas. Perguntas que podem nos levar a revermos e reinventarmos a maneira como entendemos o amor e como amamos tanto a nós mesmos como os que estão à nossa volta.
Por exemplo, pensando no amor como arte e atividade, como algo que se aprende e se aprimora, que respeita e potencializa a individualidade e a singularidade de todos os lados e que se fortalece no cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento, como podemos aplicar isso à forma como amamos a nós mesmos? Como podemos aplicar isso à forma como amamos o nosso companheiro ou companheira? Como aplicamos isso à forma como amamos os nossos familiares, os nossos amigos e até mesmo à forma como amamos o BTS, por exemplo?
Esperamos que essa leitura tenha sido proveitosa e lá vamos nós para a segunda semana! 😉
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