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ANÁLISE & TEORIA: O MV de "Fake Love" [#MêsLoveYourself]

Bem-vindo de volta, ARMY! Estamos prestes a embarcar em um dos MVs mais complexos e marcantes do BTS até aqui. Preparados?


Antes de adentrarmos o MV, precisamos ressaltar algumas observações:


⚫️ Primeiramente, temos duas versões de MV para “Fake Love”: o MV oficial e o MV em versão estendida. A versão estendida, obviamente, tem como base o oficial e nos concede como bônus algumas cenas a mais, que nos permitem alcançar uma compreensão maior das ações e significados do vídeo. Sendo assim, para a nossa análise, partiremos dela;


⚫️ Os teasers do MV de “Fake Love”, especialmente o teaser 1, são fundamentais para entendermos mais do que se passa com cada personagem no videoclipe - tendo como pano de fundo a Loja Mágica. Por isso, ontem trouxemos aqui uma breve análise do primeiro teaser e, caso você não a tenha conferido, te convidamos a fazer isso primeiro clicando aqui;


⚫️ Essa análise, tendo em vista que passa pelos personagens, acontecimentos e símbolos do BTS Universe, pode conter menções a conteúdos sensíveis como morte, abandono, violência e afins. Portanto, pedimos que você se atente a esses fatores e, caso sinta algum desconforto, interrompa a leitura;


⚫️ Por fim, como é comum aos MVs do BTS, sobretudo aqueles que envolvem o BU, temos muitas cenas embaralhadas. Por isso, buscando facilitar a compreensão de tudo o que se passa, faremos agrupamentos em seções de acordo com os personagens, deixando SeokJin e JungKook por último.



Você se lembra do que havíamos assistido no teaser? Cada um dos personagens trocava um item que representava o seu medo por outro que parecia trazer positividade - que nos remetiam às garotas dos Highlight Reels, colocando os seus traumas, angústias e problemas em segundo plano.


No entanto, como discutimos ontem, nem sempre vamos na direção daquilo que realmente pode nos levar a soluções. Apenas mascaramos os problemas com a possibilidade de algo positivo, mas que não representam uma saída, apenas um atalho - às vezes, para lugares bem mais sombrios.


O amor falso de “Fake Love” segue esse sentido. Os objetos que representavam as garotas, por exemplo, eram símbolo de positividade, de novidade, de algo bom para os personagens, mas estavam longe de ser a solução, pois a solução não está externa a eles, mas interna. Dessa maneira, eles voltariam a cair nos mesmos medos, traumas e problemas.


Aqui no MV de “Fake Love” partimos disso: os nossos personagens do BU ainda presos ao seu passado, aos seus traumas, dores e problemas. Prova disso é que, em cada cenário individual, os personagens parecem tentar evitar que algo entre naquele ambiente. Observe, por exemplo, a cena em que HoSeok segura a porta do seu cenário ou a cena em que JiMin fecha a torneira da pia. Essas ações nos indicam que havia gatilhos que poderiam trazer de volta à tona todo o caos dos problemas e medos não resolvidos e que eles estavam, a todo custo, tentando evitá-los ao invés de enfrentá-los.



Inicialmente, esse cenário, no qual vemos os membros do BTS dançando e cantando entre cenas que nos mostram os personagens do BU, possui um destaque especial: a escultura que aparece na tela ao fundo.



Acreditamos que a imagem tenha sido produzida especialmente para o MV e seu conceito, pois, assim como a própria coreografia da música, ela traz as expressões dos chamados “Três Macacos Sábios”.



Essas figuras ilustram a porta do Estábulo Sagrado, um templo do século XVII localizado no Santuário Toshogu, na cidade de Nikkō, Japão. A sua origem é baseada em um provérbio japonês. Os nomes dos macacos seriam mizaru, kikazaru e iwazaru, o que se traduz como “não ouça o mal, não fale o mal e não veja o mal”.


Na presença dessa escultura e dessa referência, apenas se reitera tanto a mensagem de “Fake Love” como o que assistimos em relação à Loja Mágica. Fechar os olhos, tapar os ouvidos e cobrir a boca para aquilo que é ruim, ignorar o que faz mal, mas não necessariamente tentar resolvê-lo.


Outro cenário grupal que vemos é esse no qual os membros também dançam e cantam. Perceba pelo estrutura do espaço que se trata do mesmo lugar em que antes, no teaser, vimos a Loja Mágica.



Daqui em diante, no nosso propósito de facilitar a compreensão dos fatos, separaremos uma seção para cada personagem, buscando apresentar os significados do que existe em cada um dos seus cenários individuais.



YOONGI


Vemos YoonGi sentado em um quarto absolutamente destruído e remendado com pedaços de madeira, como se tentasse impedir a entrada de algo.



Esse quarto, especialmente pela presença do piano como objeto de destaque, nos leva a pensar na morte da mãe do personagem. Conforme o que lemos pelas notas, a mãe do YoonGi falece em um incêndio na antiga casa da família, provavelmente no quarto dela, onde havia um piano - figura simbólica que marca a vida do personagem tanto pela música como pela sua mãe e a perda dela.


Em uma cena mais a frente, podemos ver que, além do piano, YoonGi tem um violão no seu cenário, o qual ele lança ao chão e quebra. O violão nos indica a garota que conhecemos pelos Highlight Reels, a sua parceira de trabalho - essa pessoa que representava, como vimos pelo teaser, uma possibilidade de positividade, de algo bom. Porém, não poderia ser duradouro porque era um atalho e não uma saída.



Perceba que, em uma determinada cena, podemos ver YoonGi olhando na direção do que parece ser uma lareira no cenário, a qual ele teria também coberto e bloqueado com pedaços de madeira. No entanto, ele sabe que, por mais que esteja tentando evitá-lo, o gatilho segue ali presente - o que pode estar simbolizado na lareira pela relação desse elemento com o fogo.




HOSEOK


O cenário do HoSeok, mais uma vez, se inspira em um parque de diversões. O parque de diversões foi o local onde, quando tinha apenas cerca de 7 anos, ele foi abandonado pela sua mãe. Assim, esse cenário com uma atmosfera bastante sinistra e objetos que nos indicam o parque é uma representação nítida do maior medo e também trauma do personagem: o de ser abandonado.



Em uma cena, podemos ver que HoSeok também tenta impedir que algo adentre o seu cenário. Ele segura a porta como se algo estivesse tentando entrar à força. Assim como vimos com o YoonGi, no fim das contas, HoSeok sabe que o gatilho ainda se faz presente - o que é representado para nós pela barra de chocolate, o Snickers, que primeiramente é jogado para o personagem pela fechadura da porta. A barra de chocolate, assim como os elementos do parque de diversão, nos remetem ao abandono do HoSeok, pois a sua mãe teria o deixado naquele local com nada mais que uma barra de chocolate.



Assim, de que adiantava HoSeok ter tentado segurar a “porta”? Ignorar ou evitar o seu medo? Quando o seu gatilho aparentava ter se acalmado, quando a porta não estava mais sendo empurrada foi que a barra de chocolate entrou de forma sorrateira.




NAMJOON


O cenário individual do NamJoon engloba sutilmente dois ambientes: o container onde o personagem mora e o ônibus que toma no seu dia-a-dia, representado aqui pelas argolas que vemos na lateral esquerda do espaço. Além desses elementos, há ainda um destaque nesse cenário a um espelho na lateral direita.



O container em si nos indica, como bem sabemos, a condição de pobreza enfrentada pelo personagem - condição que é, de fato, assustadora e se relaciona também à sua família.


Já o ônibus nos relembra a garota do elástico de cabelo amarelo, dos Highlight Reels.


O grande medo do personagem também se expressa com maestria nesse cenário: o medo exatamente de quem ele é, medo pela forma como se sente impotente diante da vida - também decorrente da sua pobreza.


Por isso, o gatilho do NamJoon não poderia ser outro que não o seu próprio reflexo - como tínhamos visto desde a era HYYH com os escritos de “Devo sobreviver” em espelhos, na era WINGS por meio de “Reflection” e, agora, ao vermos esse espelho no cenário individual do personagem em “Fake Love”.



Observe a maneira como NamJoon se encara no espelho e a sua imagem nele é diferente. Ele pode evitá-lo, abrir mão ou desistir de coisas e pessoas por ele, porém o seu reflexo, a condição de quem ele é, é algo que ele não poderá ignorar constantemente.




JIMIN


O cenário individual do JiMin traz um ambiente que já conhecemos: o estúdio de dança do Just Dance. Aqui, porém, pela atmosfera pesada do que estamos discutindo, o estúdio aparece degradado, destruído, frio. Esse ambiente pode nos levar a pensar também na dançarina que conhecemos pelo Highlight Reel e no que o personagem parecia sentir por ela.



Além do próprio estúdio de dança, há na parede desse cenário um detalhe essencial: uma pintura de árvores, inspirada novamente no quadro que vimos no Short Film de “Lie” na era WINGS e na foto que vimos JiMin entregando no teaser de “Fake Love”. Assim, esse detalhe posiciona sutilmente o Arboreto dentro do cenário do JiMin, ambiente que representa o seu maior trauma e medo, tendo em vista que lá o personagem - ainda na sua infância - presenciou um provável sequestro de uma criança.


Temos ainda mais um detalhe que deve capturar a nossa atenção: a pia com a torneira em uma das paredes do estúdio. Desde “I NEED U” e dos primórdios do BU, sabemos que a água é um símbolo marcante do personagem do JiMin, por ser um gatilho que o leva de volta ao dia do seu trauma no Arboreto - isso se explica pelo fato de que, naquele dia, chovia muito e o pequeno JiMin não tinha um guarda-chuva para se proteger, o que foi o motivo inicial para que ele procurasse um galpão para se esconder e presenciasse o que presenciou.



Assim, em um movimento similar ao dos personagens anteriores, perceba que há uma cena em que JiMin se aproxima da pia e fecha a torneira, impedindo, consequentemente, a passagem da água. Nessa ação também, vemos a representação do personagem tentando conter o gatilho do seu medo e trauma, o que ele sabe que, no fim das contas, será inevitável.




TAEHYUNG


O cenário do TaeHyung é emblemático na presença de elementos simples, porém que dizem muito.



Vemos ali um celular na sua mão e incontáveis celulares ou aparelhos eletrônicos anexados às paredes. Além dos celulares, o outro elemento de destaque é uma parede ao fundo que parece congelada, como a camada de gelo que debatemos em “Singularity”, e que traz o ambigrama típico do personagem: “Save Me”, ou seja, “Me Salve” e, ao mesmo tempo, “I’m Fine”, ou seja, “Estou Bem”.


Que significados residem desses elementos? Primeiramente, como já dissemos, “I’m fine” e “Save Me” são duas faces muito dolorosas de uma mesma moeda que é enfrentada pelo personagem do TaeHyung. É uma frase que, assim como a vida do personagem, revela muito, mas também oculta muito. TaeHyung vivia uma realidade de profunda violência doméstica na figura do seu pai, além do abandono por parte da sua mãe, os quais são base de muitos problemas que observamos se desenrolarem.


Em algumas notas HYYH, por exemplo, NamJoon nos fala sobre ver o TaeHyung trocando de camiseta e perceber as suas costas completamente machucadas - devido às agressões do seu pai. Sendo o mais próximo do TaeHyung, NamJoon, assim como outros dos garotos, suspeita de algumas possibilidades, mas não sabe ao certo o que TaeHyung enfrenta e nem o que fazer para ajudar, pois o próprio TaeHyung ainda não se abriu sobre o assunto.


Por isso, “I’m fine” e “Save Me” são parte da realidade do personagem e que tenta ser compreendida pelos demais. TaeHyung vive em uma montanha-russa de emoções, com um constante pedido de socorro em sua mente, mas por uma sequência de fatores, tende a escondê-lo atrás do seu “sorriso quadrado” e afirma, com a sua risada marcante, que está bem.


Junto a todos esses significados, o ambigrama pode nos trazer à memória também a garota que TaeHyung conhece na loja de conveniência, pois o personagem escreve essa frase com o grafite no ponto de ônibus quando estava junto a ela.


Agora, tanto o ambigrama como os celulares nos levam diretamente a outro personagem: NamJoon. NamJoon era possivelmente uma das, senão a pessoa mais importante da vida do TaeHyung. Era o seu hyung, que representava refúgio e acolhimento até mesmo quando TaeHyung se escondia da polícia ou fugia do seu pai ao ir ao container do NamJoon no meio da noite.


No entanto, em diferentes versões das linhas do tempo, nos deparamos com diferentes conflitos entre TaeHyung e NamJoon. Um exemplo deles é quando ambos se afastam após o retorno à praia e, assim, TaeHyung escreve o ambigrama “Save Me” + “I’m Fine” no ponto de ônibus pelo qual NamJoon passava cotidianamente, como uma mensagem ao seu amigo.


Outro exemplo e o mais importante aqui é a forma como, nas linhas do tempo em que TaeHyung ataca seu pai e o mata, a primeira coisa que ele faz em seguida é buscar refúgio, ajuda nele: NamJoon. As notas nos contam que TaeHyung liga para NamJoon com seu celular, mas que não tem resposta. No momento em que mais precisou do seu hyung, NamJoon exitou e não esteve lá ao seu lado.



Por isso, os celulares nesse cenário revelam o caos tanto da relação do TaeHyung com o NamJoon, por vezes, e até mesmo da sua relação com o seu pai. Podemos interpretar, por exemplo, o celular que se desfaz em areia nas suas mãos como a ligação que jamais foi atendida e a ajuda que jamais veio. Já os celulares na parede, além de indicarem a ligação, simbolizam a dura realidade do personagem com seu pai.


Desse modo, quando os celulares começam a piscar caoticamente, temos mais uma representação daquilo que o personagem gostaria de poder fugir, evitar.




SEOKJIN


Chegamos, finalmente, ao personagem principal do BTS Universe, SeokJin, e em seguida ao personagem principal desse MV, JungKook.


A primeira cena em que vemos SeokJin nos mostra o personagem em um grande quarto que possui 7 janelas (4 à esquerda e 3 à direita). Perceba que quase todas as janelas têm as suas cortinas fechadas e SeokJin está fechando as que ainda estiverem abertas.



Pela primeira vez no BU, vemos o personagem fechando cortinas! Estamos acostumados a ver SeokJin abrindo as cortinas do seu quarto em 11 de abril do ano 22, representando mais uma volta no tempo. Porém, aqui não. Aqui SeokJin está escondendo algo.


O que há no centro desse cenário? Alguns poucos objetos e ele, o elemento fundamental: o Smeraldo - encapsulado, protegido dentro de um recipiente.


Como bem sabemos, o significado literal do Smeraldo é “a verdade que não foi dita” e, dessa forma, podemos tomá-lo como representação da verdade, da realidade, seja ela qual for.



O fato de termos 7 janelas nesse quarto pode nos indicar que cada uma delas se refere a um dos 7 personagens do BU. 5 cortinas estão fechadas e 2 abertas inicialmente. SeokJin fecha essas duas e, na última, a câmera nos revela o seu rosto e o rosto do JungKook. O que isso tudo quer dizer?



Nesse ponto do enredo do BU, SeokJin acreditava que havia finalmente conseguido salvar os seus amigos. Contudo, como foi que ele fez isso? Contando aos seus amigos sobre a sua habilidade de voltar no tempo e as desgraças que cada um deles iria enfrentar, de maneira que os próprios meninos talvez poderiam tomar ações diferentes? Não, o personagem tem essa mudança de postura apenas em The Notes 2, ponto do BU em que estamos hoje. Lá, SeokJin ocultava a verdade, retornava ao passado e resolvia - ainda que “manipulasse” os demais para se ajudarem - as coisas com as próprias mãos.


Assim, as 5 cortinas fechadas poderiam nos indicar os 5 amigos que já haviam, em tese, sido “salvos” junto à ocultação da verdade - representada pelo Smeraldo: YoonGi, HoSeok, NamJoon, JiMin e TaeHyung.


Porém, temos as 2 cortinas abertas que SeokJin vem a fechar: uma que pode nos remeter a ele e outra ao JungKook. Isso implica em alguns pontos. Primeiro, que ele ocultava alguma verdade também de si próprio. Segundo, que JungKook não necessariamente estava salvo - fato que se confirma pela forma como ele sofre o acidente após o retorno da ida à praia, momento no qual SeokJin acreditava já ter resolvido todas as coisas. E terceiro e mais importante: a maneira como JungKook encara o SeokJin ao mesmo tempo em que ele fecha as cortinas - com uma expressão não muito feliz, diga-se de passagem - evidencia que JungKook sabia ou suspeitava que SeokJin estava escondendo algo, fato que também se confirmou a nós mais a frente pelas notas HYYH a medida em que JungKook suspeita ilusoriamente que SeokJin seria o responsável pelo seu acidente e que seguia ocultando a verdade em relação a isso ou algo ainda maior.


Já no que se refere a ocultar a verdade a si próprio, SeokJin faz isso de novo e de novo. Quando tenta ser um bom filho para o seu pai ou um bom menino para o diretor da escola. Quando tenta ser uma boa pessoa, a pessoa que se encaixa aos moldes da garota do diário. E, sobretudo, quando dá mil e umas voltas no tempo em favor dos seus amigos porque, em vez de olhar para a forma como ele precisava aprender a aceitar suas falhas e faltas e se amar, SeokJin se apaga.


De qualquer maneira, o que SeokJin quer é proteger os demais e, para isso, “protege” a verdade dos outros e, consequentemente, de si. Diante disso, os medos do personagem se refletem na própria realidade, que a qualquer momento estava sujeita a desmoronar ou explodir em mil pedaços.



Isso é explicitado a nós no MV quando, em meio a uma explosão por todos os lados do quarto, ou melhor, por todas as janelas - que simbolizavam as realidades de cada um dos personagens, SeokJin se vê primeiramente estático, mas em seguida se lança ao chão e não pensa duas vezes antes de proteger o Smeraldo encapsulado ao invés de si mesmo.



Porém, no fim das contas, não importa o quanto ele tentasse proteger e mascarar a verdade da realidade, ela vem à tona. Prova disso é que, após o fim da explosão, SeokJin se levanta sobre os entulhos no quarto e o que restou ali foi apenas a cápsula. O Smeraldo não está mais ali dentro. Como dissemos ontem em relação à letra de “Fake Love”, amar os seus amigos ou a garota ou até mesmo o seu pai ao mascarar a realidade ou a si próprio não era amar de verdade. Era apenas um falso amor que começava errado e, inevitavelmente, terminaria errado.




JUNGKOOK


Aqui, como dizem, é onde “o bagulho fica doido”, meus amigos. Vocês se lembram das cenas finais do teaser de “Fake Love”, nas quais JungKook recebia uma chave na Loja Mágica - chave que potencialmente representava uma esperança?



Pois bem, representava uma esperança no sentido de que, diferente dos seus hyungs que permaneciam mascarando seus medos e traumas com aspectos positivos fugazes demais para serem a solução, JungKook poderia enfrentar os seus: o medo de estar sozinho, o medo de não saber quem é e, especialmente, o medo de perder os seus hyungs.


Como já debatemos diversas vezes, o personagem do JungKook encontra nos seus amigos, desde o princípio do BU, uma família, de modo que o garoto é profundamente dependente da figura de seus hyungs; vivia o que eles viviam, sentia o que eles sentiam; a sua identidade, até então, partia da deles.


A partir da chave que recebe, diferente dos outros que estão em “quartos individuais” dessa Loja Mágica buscando evitar a entrada dos gatilhos que podem desmascará-los e trazer à tona o medo e a dor, JungKook pode transitar por vários pontos desse espaço ao invés de ter um cenário individual específico.


A verdade é que o personagem do JungKook sequer sabe o que deve enfrentar em si ou como enfrentar em si, de modo que ele toma a ação que é usual ao personagem: ele observa os hyungs.


É por isso que em determinados momentos nas cenas individuais de cada um dos hyungs, podemos ver JungKook observando eles - seja por uma fresta entre pedaços de madeira, por uma abertura no teto ou ao encará-los de frente. Veja:



De certo modo, podemos perceber também que todos os hyungs estão conscientes de que JungKook os observa, tendo em vista a forma como vários entre eles até mesmo olham de volta na direção do JungKook. Contudo, duas interações, em especial, parecem ser muito relevantes aqui: a com YoonGi e a com NamJoon. São apenas com esses dois personagens que o ato de observação do JungKook vai para além de “apenas olhar”.


No caso do NamJoon, vemos JungKook, de forma muito interessante, estendendo o seu braço na direção desse hyung, enquanto ele se olhava no espelho. Isso nos leva a pensar em como, nas notas HYYH, JungKook diversas vezes descreveu NamJoon como um adulto forte e responsável. Em uma nota, JungKook chega a dizer que gostaria de crescer e conseguir se tornar um adulto como NamJoon. Assim, essa interação, para além do observar, pode nos remeter a como NamJoon - bem como todos os hyungs, até certo ponto - era um exemplo para o personagem.



Já no caso do YoonGi, a ação triplica na sua intensidade. Sabemos que YoonGi e JungKook compõem um dos duos de personagens do BU, ou seja, duplas de personagens que tem uma afinidade gigantesca e que se conectam de forma especial. YoonGi é esse hyung para o JungKook e JungKook faria o que fosse necessário pelo YoonGi. Por exemplo, desde o MV de “Euphoria”, já havíamos discutido como, em algumas linhas do tempo, JungKook até mesmo adentra o incêndio no quarto do motel para impedir que YoonGi, já desacordado, tirasse a sua própria vida.


Aqui em “Fake Love”, o mesmo acontece na cena em que vemos JungKook correndo em um corredor cujo chão está desmoronando. O personagem dá tudo de si para chegar a outra extremidade do corredor. Por que? Porque é nessa extremidade que, abaixo de um quadro, estavam as frestas entre as madeiras pelas quais JungKook conseguiu observar o YoonGi. Assim, se reafirmou a nós a conexão singular entre esses personagens e a importância da figura do YoonGi para o JungKook.



Após observar todos os seus hyungs, vemos JungKook chegar a um cenário absolutamente diferente. Algo como uma parede, uma barreira com uma cascata de água. Ali, não há nada além da cápsula que antes continha o Smeraldo (a verdade, a realidade) e uma boa quantidade de areia que parece ter se esvaído da própria cápsula.



Por que o Smeraldo não está mais ali? Porque, na observação dos seus hyungs como vimos nas cenas anteriores, JungKook viu a “verdade não dita” de cada um deles.


Além disso, a areia, simbolicamente, nos remete ao tempo. Por isso, a cápsula vazia sobre a areia que dela se esvaiu poderia estar nos indicando que, com o passar do tempo - sob a metáfora da observação que vimos aqui, JungKook pôde conhecer a realidade dos hyungs. Com o tempo, a verdade, de uma forma ou outra, se esvai e se revela.


JungKook toma um pouco daquela areia na mão e ela se transforma em pétalas de flores que agora passeiam pelo ar daquele cenário. As pétalas de flores, simbolicamente, podem representar recomeços e esse parece um significado muito certeiro ao que vemos aqui.



Desse passar do tempo e do observar os hyungs, JungKook acreditou que sempre poderia caminhar para ter uma nova chance de recomeço seguindo os passos deles.


Quer uma possibilidade ainda mais maluca? Veja os elementos que temos aqui: areia, água… podem nos trazer à memória a própria praia, cenário fundamental do BU que representa toda união e reunião dos sete garotos - sendo provavelmente um dos lugares mais importantes e especiais da vida do personagem do JungKook. No ano 22, depois de tanto tempo afastados, os sete retornam à praia juntos, o que para o JungKook simbolizava quase um recomeço, pois finalmente estava junto aos seus hyungs novamente.


De qualquer forma, é o que JungKook enxerga: o decorrer do tempo, as realidades observadas e a ilusão de novos recomeços que partem dos hyungs e não dele próprio. Por isso, em seguida, o que antes parecia ser uma barreira se transforma em uma passagem para JungKook e ele avança. Contudo, esse recomeço é também um recomeço falso.


No mesmo momento, retornamos a cenas individuais dos demais personagens e o caos toma conta. Os medos, os traumas, as dores e angústias os consomem. Tudo vem à tona. Vemos isso, por exemplo, quando JiMin é engolido por uma gigantesca quantidade de água, quando YoonGi se vê diante de uma bola de fogo ou ainda quando HoSeok afunda em uma montanha de barras de chocolate.



O mais assustador de tudo é a maneira como os personagens sequer se movem diante dos seus medos ou dos gatilhos dos seus medos. Pense bem: Se você visse tubulações completas de água explodindo logo atrás de você, você não correria? Ou se algo pegasse fogo ao seu lado, você não fugiria daquele calor insuportável? Mas os nossos personagens não, porque eles não conseguem. Mais uma vez: os seus problemas foram apenas mascarados em uma ideia ilusória de “estou feliz” ou de “me sinto amado” quando se tratava, na verdade, de um falso amor, uma falsa solução. Em vista disso, eles seguem presos, estáticos, imóveis diante do que os assombra.



Finalmente, JungKook atravessa a passagem e, com a tal chave, vemos o personagem abrir mais uma vez o cômodo com os cabideiros e o encapuzado. Como dissemos ontem, há ali exatamente 6 cabideiros, 3 de cada lado, além do ser encapuzado. Isso nos leva a deduzir que cada um dos cabideiros se refere a cada um dos outros personagens que já teriam também passado por ali. Passaram por ali e pegaram as suas vestes e seguiram adiante, ainda mascarando aquilo que os consome.



O personagem se coloca, então, diante da figura encapuzada que ainda restava naquele quarto. JungKook encara, na verdade, a si próprio e a possibilidade de também vestir uma máscara ou de não vesti-la e agir conforme a esperança que lhe foi dada.


Contudo, JungKook ainda não quer enfrentar a si próprio porque não sabe ao certo o que enfrentar. Como discutimos anteriormente, ele segue os passos dos hyungs. A sua identidade se condiciona a deles.


Assim, na sua identidade apagada no seu amor pelos hyungs, eles próprios são o gatilho para que JungKook seja levado aos seus medos: o de estar sozinho, o de estar sem eles e o de não saber quem é sem eles.



Diante disso, vemos JungKook abrir as portas seguintes a aquele quarto e se encontrar de frente com os seus hyungs, também já com as suas vestes. Perceba que esse cenário é o mesmo em que vemos os membros dançando em alguns pontos do MV e é o mesmo no qual a Loja Mágica se encontrava no teaser. Agora, porém, esse espaço que era símbolo de uma troca positiva, de uma possibilidade de positividade está completamente seco, arenoso, frio, sem vida.


Assim como a letra “Fake Love” que analisamos ontem, o MV - levando em consideração a relevância do teaser - também tem início e fim no mesmo espaço, o qual nos mostrava algo que parecia bom, porém que os próprios personagens já sabiam que seria como uma flor que jamais poderia florescer. Estava fadado a desmoronar porque começou em máscaras e, com o decorrer do tempo, apenas as reafirmou.



JungKook caminha e se junta à fileira dos seus hyungs e, olhando para os lados, observa que todos os demais haviam colocado as suas máscaras. O que se pode fazer? JungKook também coloca a sua e também segue se apagando em virtude do amor por eles.


Para amar e caminhar ao amadurecimento e soluções, ao invés de mascarar-se, é necessário primeiro se enfrentar, se aceitar, se amar. Senão, de fato, está fadado a desmoronar - que é exatamente o que vemos no último segundo do MV.



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