“Epiphany” ou “Epifania”, faixa-solo do Jin, é uma canção cuja beleza e significado vão muito além do que as nossas palavras são capazes de alcançar. Por isso, “Epiphany” foi a música perfeita para abrir as portas de Love Yourself: Answer e dar início ao fim da era Love Yourself.
Ontem discutimos aqui a letra de “Epiphany” nas suas vastas possibilidades de reflexão. Ao conhecermos a letra dessa música, compreender também o seu MV se torna mais fácil e alguns detalhes ganham sentido exatamente por entendermos a mensagem do que está sendo cantado.
Assim, caso você não saiba do que se trata a letra de “Epiphany” ou não tenha conferido a nossa análise dela, nós te convidamos a fazer isso primeiro clicando aqui!
Hoje voltaremos o nosso olhar, então, para o MV ou o trailer de comeback de “Epiphany”, o qual é tão significativo quanto a própria música, especialmente por dois motivos:
1) Retrata em metáforas perfeitas a decisão que é tomada na letra da música;
2) Sendo um conteúdo certificado como parte do BTS Universe, traz todos os sentidos de “Epiphany” também para o personagem do SeokJin dentro desse universo.
Que tal compreendermos esse vídeo mais a fundo?
O trailer de comeback tem início com SeokJin sentado em um cômodo como uma sala ou um quarto. Além do próprio personagem, temos dois objetos de destaque nesse cômodo e é fundamental que você os perceba: os copos-de-leite ou lírios do Nilo dentro do vaso e o diário da garota sobre a cadeira - dois elementos que já haviam aparecido também no último Highlight Reel de Love Yourself.
Como já analisamos diversas vezes, de forma muito interessante, o copo-de-leite, embora não pertença à mesma família do lírio, é também chamado de lírio do Nilo, provavelmente pela semelhança nos formatos e nas formas de cuidar dessas flores. Assim, o copo-de-leite, enquanto flor, possui também simbolismos muito próximos aos do próprio lírio, tais como vida e morte, recomeço e até mesmo ritos de passagem ou mudança na vida. Simbolismos esses que são temáticas perfeitamente justapostas ao SeokJin do BU, tanto em relação à garota, como em relação aos seus amigos ou às voltas no tempo.
Já o tal diário vermelho se trata do diário da garota que SeokJin conhece e pela qual se apaixona. Baseado nesse diário - o qual a garota havia derrubado e SeokJin havia, sem que ela soubesse, encontrado e pegado - o personagem se transforma, se adapta para ser não quem é, mas sim uma pessoa que correspondesse ao que ela escrevia nesse caderno. Dessa forma, o diário é também símbolo de toda a trajetória que acompanhamos do personagem do SeokJin dentro da era.
“Ela não sabia que eu tinha seu diário. Ela nunca seria capaz de imaginar que eu segui a lista do seu diário para todas as coisas que nós fizemos juntos pelo último mês. Eu não devolvi seu diário ou disse que eu estava com ele. Eu sabia que era errado. Eu sabia que era quase como enganá-la. Eu tentei contar a verdade algumas vezes, mas eu estava com medo. Eu tinha medo que ela me deixasse, como meus amigos. Eu tinha medo que seu coração se tornaria frio uma vez que ela visse os meus erros, equívocos, besteiras e medo.” (Nota do SeokJin em 15 de agosto do ano 22)
A partir daqui, no MV, nos vemos diante de uma grande questão: Por que é que vemos vários SeokJins? O que é que está acontecendo?
A verdade é que não estamos vendo “clones” do SeokJin, mas o mesmo SeokJin em diferentes pontos no tempo - ou nas suas linhas do tempo. Você se lembra de como debatemos que a epifania em si significa o momento de tomada de consciência da essência de algo? Sendo assim, uma epifania representa não o fim de uma busca por respostas, mas sim um início que se dá também através de uma revisão do passado.
É por isso que o MV nos traz essa compreensão em uma metáfora imagética através das múltiplas repetições, que nos apresentam diferentes temporalidades que convergem e divergem. Desse modo, o que assistimos é uma representação do SeokJin em diferentes linhas do tempo nas quais ele retornou sob a tentativa ou de se adaptar ao que era ideal para a garota, ou de tentar impedir a morte dela (pelo acidente que vimos no Highlight Reel), ou ainda de salvar os seus amigos e protegê-los. Porém, por meio da sua epifania, há nesse MV um SeokJin do presente que mudará o rumo das coisas. Em breve, chegaremos lá!
Bom, partindo dessas explicações iniciais, vemos um SeokJin sentado no sofá e um SeokJin 2 se olhando no espelho logo atrás. Vemos ainda os objetos de destaque que mencionamos e há mais um detalhe essencial: nesse ponto inicial do MV, não há cores. Tudo está preto e branco. Essas cores, ou melhor, essa ausência de cores apenas reitera a nós a situação em que o personagem do SeokJin se encontrava. Como dissemos, em face de um amor que ele buscava desenvolver a qualquer custo, o personagem se apagou, se mascarou e se construiu em uma imagem que não era a sua.
O SeokJin 2, que estava se observando no espelho, checando suas roupas e cabelo, sai pela porta e, importante, sai sem nada em suas mãos. O diário da garota é deixado para trás, o que nos indica que aquele SeokJin daquela linha do tempo não havia ainda “aberto o jogo” para ela. Seguia guardando o seu diário e seguindo cada vírgula dele como uma instrução. Assim, podemos até mesmo deduzir que aquele SeokJin 2 que saiu pela porta estaria indo se encontrar com a garota.
Ao mesmo tempo, a música tem início e, enquanto ouvimos a parte da letra em que se canta sobre como esse outro alguém era tão amado a ponto de que ele se adaptasse cega e absolutamente por essa pessoa, perceba que o SeokJin 1, que está no sofá, volta os seus olhos para as flores e também segura o diário nas suas mãos - cenas rápidas que reforçam a importância do simbolismo desses objetos.
Enquanto o SeokJin 1 observa o diário, a câmera se afasta e revela a nós um SeokJin 3. Nós o vemos sentado logo abaixo da janela e, além de parecer molhado, ele parece cabisbaixo, frustrado, triste. Assim, deduzimos que esse SeokJin representa o personagem em uma versão da linha do tempo em que ele já havia saído, se encontrado com a garota mantendo a sua máscara de ser exatamente quem ela precisava, havia caminhado pela chuva - como o que veremos se repetir daqui a pouco - e, por fim, havia retornado para casa tentando suportar “a tempestade dentro do seu coração”, como a letra nos diz nesse trecho, pelo fato de saber que seguia se apagando. Poderíamos pensar até mesmo que esse SeokJin 3 fosse uma continuação mais a frente do SeokJin 2, que havia saído pela porta.
Agora, o SeokJin 1, que estava sentado no sofá, se levanta e caminha até o closet para pegar um casaco. Ao mesmo tempo, chegamos à parte da música em que as palavras “Eu sou quem eu deveria amar” são cantadas. Por isso, observe atentamente que é nesse momento que o MV ganha cores. Há alguma mudança acontecendo a partir daqui:
O SeokJin 1, então, veste um casaco, se olha no espelho - assim como o SeokJin 2 havia feito - e sai pela porta, novamente com as mãos vazias e deixando o diário sobre a cadeira.
Contudo, dessa vez, nós acompanhamos o SeokJin 1 na sua saída. Ele não vai ao encontro da garota, nem mesmo dos seus amigos. Pelo contrário, ele vai ao encontro de si. A letra de “Epiphany”, logo após o seu primeiro refrão, nos diz:
“Mesmo se você estiver abalado e com medo
Siga em frente
Encontre o seu eu verdadeiro
Que você escondeu dentro da tempestade”
Enfrentar a tempestade é necessário. Em seguida, o que é que assistimos no MV? Exato. O SeokJin 1 caminha sozinho por uma chuva intensa. Podemos ver relâmpagos e ouvir trovões. É mais uma representação em imagem dessa tomada de decisão do personagem de que não era mais possível continuar dessa maneira. Perceba até mesmo como SeokJin ergue o seu rosto e a sua mão para sentir a chuva, como se sentisse a força de todo o seu ser lhe dizendo que não dava mais. Ele ergue sua mão e logo simplesmente a deixa cair, o que, enquanto um gesto corporal, nos leva a compreender que ele está desistindo, cedendo, abrindo mão desse falso amor e da sua máscara. É hora de recomeçar, de voltar ao ponto de origem.
O que vemos em seguida, por alguns segundos, é a chuva invertendo a sua direção e correndo para cima, de volta ao céu, ao invés de cair. Esse detalhe, como é costumeiro em conteúdos relacionados ao BU, explicita uma nova volta no tempo. No entanto, dessa vez, ele voltaria despido da sua máscara para fazer o que era necessário - ao menos no que diz respeito à garota.
Observamos, então, o SeokJin 1 retornar ao cômodo inicial absolutamente ensopado pela chuva. Ele entra e se direciona à janela, de modo que imaginávamos que ele se sentaria na mesma posição em que vimos antes o SeokJin 3, por exemplo.
Ao mesmo tempo, já estava no cômodo o SeokJin 4, sentado no sofá. Aqui chegamos ao ponto fundamental desse MV: o SeokJin 4 é a expressão do personagem posterior ao SeokJin 1, quando tomou a decisão de mudar em amor a si mesmo ao invés de amor a outra pessoa.
Prova disso é que, ao se levantar do sofá, ele age de forma diferente do que vimos antes. SeokJin caminha até a janela e lá, onde poderíamos imaginar que estaria o SeokJin 1 que retornou da chuva, já não há mais ninguém. Basta de se apagar ou se ocultar. O SeokJin que desejava isso ou que agia dessa forma já não está mais aqui.
SeokJin 4 caminha até a janela, observa o que há lá fora como se observasse a beleza da própria vida e, por um breve segundo, assente com a sua cabeça, como se nos dissesse que sabe o que precisa ser feito.
Ele fecha as cortinas, porém não como vimos em “Fake Love”. Não como se quisesse ou tivesse que esconder algo, mas como se demonstrasse que não voltaria mais no tempo por aquilo que, na verdade, não era amor.
SeokJin caminha, então, novamente até o closet, veste o casaco e se olha no espelho. No entanto, aqui vem a mudança que não pode passar despercebida: Antes de sair pela porta, SeokJin pega o diário da garota e leva junto em suas mãos.
Esse simples ato antecede o que podemos ler em uma nota HYYH que, inclusive, acompanhou o álbum Love Yourself: Answer. Veja:
“Ela olhou para o diário que pensou ter perdido e parecia envergonhada. Os filmes que ela gostava, os lugares que ela queria ir, as flores que ela gostava, os sonhos que ela tinha para o futuro apareciam a cada página virada. Também havia as coisas que eu tinha feito por aquela garota. As palavras "Sinto muito" não saíram direito. O diário vermelho ficou entre nós como a luz de um semáforo em um cruzamento.
Eu queria fazê-la feliz. Eu queria fazê-la sorrir. Eu queria ser uma pessoa boa. Eu pensei que isso aconteceria se eu seguisse as palavras escritas naquele diário. Mas não foi assim. Quanto mais eu tentava ser alguém diferente, mais eu sentia medo. Será que a imagem do meu eu verdadeiro seria descoberta? Ela não ficaria decepcionada e me deixaria? Eu me escondi desesperadamente e virei o rosto para mim mesmo. No entanto, assim como eu não posso colocar um ponto final em uma frase que perdeu seu sujeito, eu perdi o meu eu verdadeiro e hesitei, incapaz de prosseguir.
Eu sei agora. Minhas faltas, meus erros e falhas são parte de mim. Não importa o quão cruel e agonizante, apenas depois de eu ser honesto comigo mesmo, eu posso dar um passo à frente. Eu levantei do meu assento e ela não tentou me impedir.
Eu saí para a rua e tirei o meu boné. Conforme eu passava a mão no cabelo, as vezes em que eu me esforcei tentando ser alguém diferente, escaparam pelos meus dedos. Eu virei a cabeça e cruzei o olhar com o eu refletido no vidro de uma janela. O rosto pálido, lábios acinzentados e ombros magros. Eu parecia infinitamente acabado. Eu ri. O eu do reflexo no vidro da janela riu junto.”
SeokJin, pela sua epifania e decisão de que “sou eu quem eu deveria amar”, leva o diário em suas mãos porque ele iria ao encontro da garota e diria a verdade. Devolveria o diário a ela, revelando não apenas a verdade à garota, mas também revelando a si próprio. Mesmo que isso significasse perdê-la, significava ao mesmo tempo e sobretudo reencontrar a si mesmo.
É por isso também que, enquanto esse SeokJin está se vestindo, se olhando no espelho e pegando o diário para sair, observe que as cores do MV novamente somem e dão lugar ao preto e branco. Por que? Por que ele iria se mascarar diante da garota novamente? Não. A resposta é porque ele retornaria ao ponto de origem, retornaria a aquele que é pré-condição ou condição mútua da capacidade de amar outras pessoas: o amor próprio.
A estrutura narrativa de Love Yourself, como analisamos ao longo de todo o mês, é linear. Porém, ela é também circular, de modo que a necessidade de retorno aos pontos de origem ou que a ideia de que o fim de algo é também o início de outro ficassem em evidência.
Vimos isso em “Singularity”, vimos isso em “Fake Love” e vimos isso sutilmente até mesmo nos títulos de cada uma das músicas que serviram como intros para cada porção da era. “Euphoria” (E), “Serendipity” (S), “Singularity” (S) e “Epiphany” (E) , ou seja, E S S E. As iniciais se encontram e se conectam.
O MV de “Epiphany”, ao retratar esse jogo com as cores, apenas reitera essa mensagem e atitude.
Finalmente, surge na tela uma fala do personagem em forma escrita, a qual resume com maestria tudo o que temos analisado e refletido. A tradução é:
“O destino que alcancei ao final da minha busca para me encontrar era, na verdade, o ponto de partida. No fim, o que tenho que encontrar é o mapa da alma, que é o início e o marco de tudo. É aquilo que todos possuem, mas nem todos conseguem encontrar. Eu vou tentar encontrá-lo, começando agora.”
Junto a todas as temáticas e reflexões de Love Yourself, estava aqui a brecha, a dica para que, alguns meses depois, chegasse a nós a era Map of the Soul, ou seja, Mapa da Alma!
Além disso, essas palavras do personagem do SeokJin nos trazem à memória a relação intrínseca que existe entre o amor e o conhecimento. Se amo algo ou alguém, desejo conhecê-lo da mesma forma que a medida em que conheço algo ou alguém, aprendo a amá-lo. Assim como viver e amar, conhecer e amar também caminham lado a lado.
Por isso, esse “fim” da era Love Yourself, de todas essas experiências frente ao amor e de uma resposta em relação à importância do amor próprio, na verdade, se revelam ao personagem e a nós como um ponto de partida, bem como nos conduzem a novas perguntas. Um ponto de partida e perguntas que nos levam a querermos nos conhecer não de maneira superficial, mas profundamente. Conhecer o todo que somos, a integralidade daquilo que nos compõe por dentro e por fora. Conhecer o mapa da nossa alma.
Finalmente, o trailer de comeback de “Epiphany” se encerra com essa foto que nos leva de volta à polaroid mais significativa de toda a história do BU. Se trata da foto que os sete garotos tiram ao retornarem à praia juntos.
Primeiro, SeokJin aparece sozinho na foto, apenas junto à sua caminhonete. Em seguida, a imagem se transforma com um certo tremor e os seus seis amigos reaparecem na foto.
Esse momento, além de ser simbólico por nos mostrar uma cena tão importante do BU, expressa aquilo que o personagem do SeokJin também começaria a descobrir e desenvolver: que amar a si mesmo também era a resposta para as suas voltas no tempo e para lidar com os seus amigos.
Veja o que SeokJin diz em uma nota mais a frente no BU:
“Você acha que consegue consertar os erros e equívocos e salvar a todos vocês? Eu finalmente fui capaz de responder a pergunta. E agora eu sabia por que eu estava de volta no loop do tempo de novo quando eu achei que tinha acabado. A pergunta em si estava errada. Eu não tinha que nos salvar. Eu não tinha que consertar os erros e equívocos também. O que eu tinha que fazer era aceitar todos os meus erros e equívocos como parte de mim. A única pessoa que eu não conseguia salvar era eu e eu tinha que perdoar, aceitar e amar a mim mesmo. Essa era a única resposta.”
Você é quem você deveria amar e, além de isso ser uma resposta, essa é uma epifania que nos abre a conhecimentos mais profundos. Que alegria podermos conhecer um videoclipe tão belo e significativo quanto o de “Epiphany” que traz à tona essa atitude de amor.
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