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BTS & MAP OF THE SOUL: Do que estamos falando e como isso começou?

Antes de mais nada, é essencial pontuarmos que tudo o que será dito daqui para frente consiste em:


➡️ Interpretações e teorias a partir de estudos pessoais. Não somos graduados ou especializados na área de Psicologia, mas temos nos esforçado em estudos intensos sobre o assunto;

➡️ Questões levantadas pelo Dr. Murray Stein ao longo de seu livro, “Jung - O Mapa da Alma”, ou de suas participações em episódios de um podcast chamado “Speaking of Jung” ("Falando sobre Jung"), de Laura London (https://open.spotify.com/show/7ndyZNV5xYZxSYXhLzVpBl);

➡️ Outras referências a outros livros e obras que sejam relevantes ao assunto.


Talvez você seja um(a) Baby ARMY, dando seus primeiros passos em direção a conhecer o que o BTS trilhou e construiu até aqui, e esteja se perguntando: “Socorro, o que é esse bendito Map of the Soul que tanto falam? Não tô entendendo é nada!”. Calma, vamos te ajudar! Bom, “Map of the Soul”, primeiramente, é o nome da série de álbuns que o grupo tem desenvolvido desde o primeiro semestre de 2019. Já passamos por “Map of the Soul: Persona” (2019), “Map of the Soul: 7” (2020) e, mais recentemente, “Map of the Soul: 7 ~ The Journey” (2020).


Capa dos álbuns da era MAP OF THE SOUL


Sem dúvida alguma, esta atual sequência de álbuns, assim como as anteriores, é composta de músicas absolutamente fantásticas, com uma impressionante variedade de ritmos e emoções capaz de deixar qualquer um de queixo caído. No entanto, lá vai um segredo: quando se trata de BTS, nós podemos e devemos sempre ir mais fundo. Por que? Porque a existência do BTS em si desafia as nossas lógicas de semiótica.


"Semiótica” é um campo de estudo que se aplica em decifrar fenômenos de significação e representação na comunicação humana. Ao observarmos as artes, culturas e, principalmente, as formas de entretenimento que nos rodeiam nos dias atuais, sobretudo no Ocidente, não é difícil perceber como geralmente estamos expostos a uma excessiva simplificação da semiótica e a expressões superficiais, as quais carregam maior preocupação com as medidas convencionais de “sucesso” do mercado e com a manutenção de padrões e valores estáticos.


Porém, de tempos em tempos, há artistas que surgem não apenas para abalar as estruturas da indústria musical, mas acima de tudo para construir significados tão profundos e complexos a partir das suas produções que são capazes de chachoalhar uma geração por completo e despertar transformações imensuráveis, sejam coletivas ou individuais. BTS é um destes casos. Através da sua multiplicidade de expressões artísticas — canto, dança, iconografia, atuação, literatura, jogos, entre muitos outros — e, principalmente, por meio das bases filosóficas, psicológicas, históricas, mitológicas, culturais que se unem como alicerce de seus trabalhos, o grupo nos abre as portas da imaginação e da intelectualidade para a possibilidade de construção de significados que fogem à superficialidade e nos levam às profundezas da vida, do mundo e de nós mesmos.


Após o desenrolar da era “Love Yourself”, BTS atingiu um ponto determinante para avançar rumo a um amadurecimento mais complexo e intenso e, assim, chegamos a “Map of the Soul”, uma era na qual acreditamos que ainda vamos permanecer por algum tempo.


Para começo de conversa, “Map of the Soul” ou "Jung - O Mapa da Alma" é, na verdade, o nome de um livro publicado originalmente em 1998 pelo Dr. Murray Stein. Nessa obra, o autor vai detalhar, da forma mais simples e didática possível, as teorias de um grande teórico do campo da Psicologia: Carl Jung. Guarde bem esse nome, você provavelmente verá ele bastante pela sua timeline do Twitter! Stein disse sobre Jung em seu livro:


"Enquanto cientistas e astronautas exploravam e faziam um mapa do universo físico, Carl Jung e os psicólogos analíticos que seguiram seu trabalho começaram a traçar um mapa do mundo interior da psique humana.”


Desse modo, são os processos e elementos desse mar de mistérios da psique humana, apresentados por esses teóricos, que passaram a dar vida ao que representa “Map of the Soul” no BTS.


Capa do livro "Jung - O Mapa da Alma" por Dr. Murray Stein


Como dissemos no início, já passamos por três álbuns nessa era. Assim, o nosso objetivo aqui é te apresentar, de uma forma simples e resumida, esse universo da Psicologia que o grupo vem explorando, álbum a álbum e música a música.


Antes de continuar especificamente para as músicas, MVs e conceitos, gostaríamos apenas de citar algumas frases trazidas pelo Dr. Stein no capítulo introdutório de seu livro a respeito do que seria esse mapa que começamos a explorar e que, talvez, sejam essenciais para não apenas entendermos, mas permitirmos que esse processo também nos transforme - como tem transformado o BTS.


“É um mapa que descreve a psique em todas as suas dimensões, e também procura explicar a sua dinâmica interna. […] É o mapa de um mistério que não pode, em última instância, ser captado em termos e categorias racionais. É o mapa de uma coisa viva, palpitante, mercurial — a psique.” (STEIN, 2006, p. 15)


“[…] É necessário ter em mente que o mapa não é o território. O conhecimento do mapa não é a mesma coisa que ter uma experiência da psique profunda.” (STEIN, 2006, p. 15)


Bom, vamos lá. Onde foi que a era “Map of the Soul” começou? Foi em 27 de março de 2019, com o Comeback Trailer “Persona”. É um vídeo bastante dinâmico e poderoso, tanto pela atitude de Namjoon quanto pelas palavras que estão sendo cantadas ou pelos cenários. Um dos pontos mais marcantes, talvez, seja a lousa que aparece ao fundo com dezenas de palavras e frases e TODAS são referentes às teorias de Carl Jung. “Persona”, “Ego”, “Shadow” tem ali maior destaque, mas também vemos frases como “I am not what happened to me, I am what I choose to become.” ("Eu não sou o que aconteceu comigo, eu sou o que eu escolho me tornar"), do próprio Jung.


Reprodução idêntica da lousa produzida por três ARMYs coreanas



Além disso, a letra dessa música é absolutamente BRILHANTE e nítida acerca da mensagem que deseja passar. Veja alguns exemplos nestes versos:


“ ‘Quem sou eu?’, uma pergunta que tenho feito a mim mesmo durante toda a minha vida”


“O mundo, na verdade, não está interessado no meu jeito desajeitado”


“Então, eu estou perguntando mais uma vez / Quem diabos sou eu? / Diga-me todos os seus nomes, baby”


“O ‘eu’ que criei por mim mesmo para falar o que penso / Sim, posso estar me enganando, posso estar mentindo / Mas, eu não tenho vergonha disso, este é o mapa da minha alma”


O tema geral aqui é a PERSONA, uma das estruturas da psique humana segundo Jung. A persona, segundo o livro do Dr. Stein, é “um nome inspirado pelo termo romano para designar a máscara de um ator. É o rosto que usamos para o encontro com o mundo social que nos cerca.” (STEIN, 2006, p. 98) Além disso, “a persona é a pessoa que passamos a ser em resultado dos processos de aculturação, educação e adaptação aos nossos meios físico e social.” (STEIN, 2006, p. 101) Por isso, “a persona é um complexo funcional cuja tarefa consiste tanto em esconder quanto em revelar pensamentos e sentimentos conscientes de um indivíduo para outros.” (STEIN, 2006, p. 101)


Resumindo de forma mais simples, no plano psicológico, a persona é como nós nos apresentamos diante das pessoas e do mundo em diferentes circunstâncias. Por exemplo, a forma como agimos com nossos pais não é a mesma forma como agimos com nossos amigos ou nosso chefe no trabalho. Esse processo é natural e faz parte da convivência humana. Porém, segundo Jung e Stein, o problema estaria em quando a nossa personalidade acaba caindo em uma identificação total com essa persona, ou seja, seria como assumir e vestir uma máscara e se esquecer do que ou de quem existe por trás dela.


Assim, tanto no vídeo, como na música, como na própria carreira do grupo que acompanhamos, sabemos que existe o RM e o Namjoon — bem como acontece para todos os integrantes. Por isso, essa primeira faixa já vem para levantar esse conflito existente diante dos meninos: as suas personas. E, ao mesmo tempo, pretende provocar uma reflexão sobre as nossas. “Persona, who the hell am I?”


Cena do MV de "Intro: Persona (Comeback Trailer)"


Por fim, ainda sobre “Intro: Persona”, Dr. Stein ressalta, no episódio 44 do podcast que citamos anteriormente, que Namjoon questiona “Where’s your soul?” ("Onde está a sua alma?") em meio à letra da canção. Esse é um aspecto particularmente interessante e importante porque Carl Jung escreveu um livro ao longo de sua vida ao qual chamou de “Red Book”. Nesse livro, ele retrata a sua jornada pessoal de desenvolvimento psicológico, mas a forma como esse livro se inicia é o ponto em questão aqui: Jung começa dizendo que se viu em um deserto e lá ele chamou “Onde está a minha alma? Onde está a minha alma?” — como Namjoon também pergunta. Ele relata que repetiu esse chamado até ouvir uma resposta vinda de uma voz, uma voz de uma figura feminina com quem ele começa um diálogo: a alma em si.


A partir da ideia dessa ‘resposta’ é que podemos caminhar para a segunda música — tanto do álbum “Persona” como do álbum “7” — que é “Boy With Luv”. Nessa faixa, segundo a interpretação do Dr. Stein, é como se houvesse surgido uma resposta, como Jung teve em seu relato. Uma resposta da alma, representada e projetada nessa figura feminina, o que nos revela também o papel fundamental da cantora Halsey tanto para a música como para o MV. Essa ‘resposta’ desperta uma celebração do poder transformador do amor sobre a vida e nos leva a apreciar as pequenas coisas dos processos que vivenciamos diariamente — como muito bem indica o nome original em coreano “작은 것들을 위한 시”, isto é, “Um poema para pequenas coisas”.


Para além disso, ao ver o título “Boy With Luv”, é impossível não se lembrar de uma música do álbum “Skool Luv Affair” (2014), “Boy In Luv”. Dr. Stein também pontua o uso muito cuidadoso e específico das palavras WITH (COM) e IN (EM). Quando se está ‘IN LUV’ com alguém, estamos basicamente possuídos por uma emoção e uma projeção que colocamos sobre a outra pessoa. É aquele amor jovem e descontrolado do qual o nosso ego se torna escravo. Por outro lado, quando se está ‘WITH LUV’, estamos muito mais no controle da situação e dessa emoção, o que é um claro sinal de um ego ou uma personalidade com uma postura mais madura.


“O amor não é nada mais forte / Do que um menino COM amor”


Cena do MV de "Boy With Luv"


Ok, seguindo na análise do álbum “Map of the Soul: Persona”, a terceira faixa é “Mikrokosmos”. Você consegue assistir um vídeo do BTS ou BTS e ARMY cantando juntos essa música e não se emocionar nem um pouquinho? Difícil... Ela carrega, basicamente, um entendimento bastante antigo que é: cada ser humano é um microcosmo que reflete o macrocosmo — sendo esse último o universo, a totalidade de todas as coisas, inclusive de nós. Assim, o “mikrokosmos” é o nosso mundo interior.


Dr. Stein, também no episódio 44 do podcast, fala a respeito de um sonho que Jung vivenciou: ele sonhou que havia visto uma estrela refletida na água e compreendeu daquilo que, na verdade, ele era a estrela — ou microcosmo — refletida na água — ou macrocosmo. Essa percepção de que nós temos um mundo interior consistente com a totalidade do mundo exterior é essencial, sobretudo quando estamos falando do tópico da persona, pois, quando estamos presos à ela, dependemos das outras pessoas refletindo ou aprovando o nosso valor e não temos uma percepção de nós mesmos para além daquilo que os outros nos fornecem. No entanto, com a percepção e a exploração desse mundo interior, nós adquirimos um senso de valor que vem de dentro de nós mesmos. Veja esse trecho da letra:


“Nós brilhamos da nossa própria maneira

Brilhe, sonhe, sorria

Oh, vamos iluminar a noite

Nós brilhamos apenas por quem somos"


É uma expressão da personalidade se tornando livre da persona, da identificação com a persona. Cada um de nós é um indivíduo total, mas estamos todos conectados uns aos outros. Somos mais de 7 bilhões de estrelas, sendo parte de um todo e o nosso destino é nos tornarmos nós mesmos. Essa é a grande descoberta/ruptura colocada em “Mikrokosmos”.


BTS & ARMY


A música seguinte é “Make It Right”. O MV dessa música é particularmente interessante. É, na maior parte do tempo, uma animação retratando a jornada de um rapaz que passa por cenários e circunstâncias desafiadoras e difíceis, mas que prossegue devido ao apoio e à existência, uma vez mais, dessa figura feminina. É claro que “Make It Right” se destina ao ARMY, que tem sido um com o BTS por meio de tudo o que já enfrentaram. Além disso, tanto a letra como o MV carregam muitas referências a uma obra chamada “The Hero’s Journey” (A Jornada do Herói), de Josh Campbell — também muito recorrente em relação ao Bangtan Universe. Mas, por enquanto, esse é um papo para outro dia e, em breve, também exploraremos esse tópico aqui em nosso projeto.


Analisando a música e o vídeo sob a psicologia jungiana, o personagem está passando por um momento de luta e angústia em meio à sua jornada — no caso, a jornada para o seu interior. Diante disso, aparece a figura feminina. Um comentário tecido pelo Dr. Stein no mesmo episódio do podcast pode ser relevante aqui, quando ele disse que descobrimos nós mesmos também em outros e através de outros. Em outras palavras, nós descobrimos a nossa alma também em outros e através de outros. Por isso, o que é interior e o que é exterior acabam meio misturados e conectados — como vemos, por exemplo, na animação, na qual a figura feminina está, ao mesmo tempo, fora do personagem (representando ARMYs, por exemplo) e dentro/sobre ele (como quando ela se transforma numa capa para protegê-lo).


Assim, “Make It Right” é mais uma música fascinante sobre essa jornada na qual podemos embarcar pela psique. Por isso, Namjoon diz em um de seus versos: “Me deixe abrir agora esse mapa, esse mapa que é você". Estamos prosseguindo para desvendar o mapa de um território inacreditável: a alma.


Cenas do MV de "Make It Right"


Na sequência, em “Map of the Soul: Persona”, temos a faixa “Home”. É o tipo de música que você deve ouvir nos dias em que precisar de um up, sabe? Para se sentir alegre e confortável… Essa parece ser uma boa descrição da sensação que “Home” traz. Sobre essa música, Dr. Stein comentou que achou interessante também a escolha do termo “MI CASA”, em espanhol, na letra. Eles poderiam ter utilizado outras opções como “my home”, “my house”, “my place” ou até mesmo um equivalente em coreano. No entanto, “mi casa” traz, sem dúvida, uma ideia de maior intimidade, de aconchego. Assim, muito além de estabelecer um lugar que seja o lar deles, os meninos cantam sobre alguém que é o lar deles — no caso, novamente, estão se referindo ao ARMY. O lar do BTS é o ARMY e vice-versa.


Por outro lado, em vários versos, o grupo traz uma ideia de ‘retorno’, como quando cantam “A porta que eu saio porque eu tenho um lugar para retornar mesmo que eu parta agora". Isso pode estar relacionado tanto à proposta da jornada do herói — como comentaremos mais a frente — como também à jornada interior — quando, às vezes, precisamos nos afastar de algumas coisas, lugares ou pessoas enquanto navegamos em “áreas desconhecidas” para conhecermos mais profundamente a nós mesmos. Ah! E é claro que a noção do ‘retorno’ também diz muito respeito à carreira dos meninos e à forma como, muitas vezes, eles precisam se afastar dos seus lares na Coreia para estarem rodando pelo mundo em sua jornada como BTS. Porém, eles sabem que, ao fim de cada etapa dessa jornada, poderão retornar para a sua casa.


*Fato divertido: a cidade onde os membros vivem atualmente é Seul, a capital da Coreia do Sul, e a pronúncia do nome da cidade, tanto em coreano como em inglês, é exatamente igual à da palavra ‘SOUL’. Coincidência…? 😏


BTS & ARMY

Foto da linda cidade de Seul


Ok, estamos chegando à penúltima faixa de “MOTS: Persona”: “Jamais Vu”. Mesmo antes de ler a tradução da letra, essa é uma música que definitivamente vai te atingir profundamente. É possível sentir o misto de angústia, decepção e também uma certa esperança na voz de Jungkook, Jin e Hobi.


Antes de mais nada, ‘Jamais Vu’ é um termo psiquiátrico que funciona como um oposto para ‘Déjà vu’, que é um termo já mais conhecido. ‘Jamais vu’ é uma expressão em francês que significa ‘jamais visto’, ou seja, enquanto ‘Déjà vu’ é sentir que algo já foi visto ou já aconteceu, ‘Jamais vu’ é a sensação de que algo familiar é completamente desconhecido. Acontece quando nos deparamos com um lugar ou uma situação conhecida ou recorrente na nossa vida, mas temos a sensação de que não a reconhecemos. Uma experiência bastante estranha…


Assim, juntando esse conceito com a letra, compreendemos que essa é uma música sobre “repetições”, como mencionou o Dr. Stein. Uma música sobre experiências que enfrentamos, mas parece que não aprendemos com elas. Cometemos os mesmos “erros”, tropeçamos de novo e de novo e temos que lidar com os mesmos problemas novamente, como se fosse a primeira vez. Por isso, olhando sob uma perspectiva jungiana, podemos dizer que essa canção fala, de certo modo, sobre o que Jung chamou de “COMPLEXOS”. Para entendermos um pouco melhor do que estamos falando, vamos pontuar essa passagem do livro do Dr. Stein:


“Imaginemos por um momento que a psique é um objeto tridimensional como o sistema solar. A consciência do ego é a Terra, terra firma; é onde vivemos, pelo menos durante as nossas horas vígeis. O espaço ao redor da Terra está cheio de satélites e meteoritos, alguns grandes, outros pequenos. Esse espaço é o que Jung chamou o inconsciente, e os objetos com que primeiro nos deparamos quando nos aventuramos nesse espaço são o que ele chamou os complexos. O inconsciente é povoado por complexos. Foi esse território que Jung explorou inicialmente em sua carreira como psiquiatra. Depois deu-lhe o nome de inconsciente pessoal.” (STEIN, 2006, p. 41)


Um complexo é, portanto, um objeto do nosso inconsciente “composto de imagens associadas a memórias congeladas de momentos traumáticos que estão enterradas no inconsciente e não são facilmente acessíveis para recuperação pelo ego. São as lembranças reprimidas.” (STEIN, 2006, p. 55)


Dessa forma, as reações psicológicas que, usualmente, temos em relação aos complexos são exatamente o tema da música “Jamais Vu”. Entramos nas mesmas situações e reagimos da mesma forma, mesmo sabendo aonde isso vai nos levar. Cada vez é doloroso, como se fosse a primeira vez, e nos arrependemos novamente. Isso se repete continuadamente até que uma intervenção quebre esses ciclos do complexo. Repare no verso em que Jin canta:


“Dói todas as vezes como se fosse a primeira vez"


No entanto, gostaríamos de chamar a sua atenção, assim como Dr. Stein o fez no episódio 44 do podcast mencionado, para os versos que dizem:


“Remédio (que também pode significar 'solução')

Eu corro de novo e caio de novo

Honestamente

Mesmo que isso se repita continuamente

Eu vou correr novamente"


Foi por conta desses versos que dissemos antes que, em meio a agonia e angústia, também é possível sentir na voz dos meninos uma certa esperança. Representa a determinação que devemos ter de nos mantermos no caminho do desenvolvimento psicológico e da nossa jornada interior, embora caiamos muitas vezes. Lutar contra os nossos complexos faz parte de qualquer processo de crescimento e amadurecimento. Com o passar do tempo, talvez possamos reconhecer os nossos complexos e diminuir o número das nossas “quedas”. Assim, algo importante que os complexos e “Jamais Vu” nos ajudam a entender é que a vida psicológica que existe em nós sempre será repleta de luta para que possa haver amadurecimento. Nenhum de nós jamais será perfeito e está tudo bem. O que importa é que tornemos cada vez mais conscientes de tudo o que faz parte do que somos.


“Eu não vou desistir"


Foto da performance de "Jamais Vu" durante a Bang Bang Con: The Live


E, por fim, chegamos à última faixa do primeiro álbum da série “Map of the Soul”: a insuperável “Dionysus”. É uma música intensa de celebração e de rompimento da persona. Para termos um pouco mais de contexto, o Dr. Stein explica no podcast que Dionísio era um deus estrangeiro para os gregos, pois ele desceu das regiões do Norte e invadiu a Grécia. Ao fazer isso, ele passou a representar uma grande ameaça, uma vez que ele desestruturava velhos valores e quebrava a resistência das pessoas. Dionísio era visto como um disruptor e foi até mesmo chamado de “The Loosener” (O que desata ou o que solta). Mas, ao fim, os gregos conseguiram integrar Dionísio à sua cultura de tal forma que deram a ele um lugar em Delphi. Delphi, até então, era o espaço de Apolo, o deus clássico dos gregos. O deus da ordem, da beleza, da nobreza teve que compartilhar o seu templo pela metade do ano com Dionísio.


Os gregos incorporaram Dionísio, assim como o BTS celebra através dessa música este outro lado das nossas personalidades, por dois motivos: primeiro, não se pode resistir a “Dionísio”. É como uma força vital que não pode ser impedida. E, segundo e mais importante, é uma libertação da persona. Não podemos ser completamente “Apolos”. Não podemos ignorar o nosso lado dionisíaco. É necessário que reconheçamos e tornemos conscientes ambos os lados. Assim, um novo aspecto da personalidade pode ganhar forma e podemos nos tornar mais livres.


"Beba, beba de novo

Nós nascemos duas vezes"


“Apollo and Dionysus” por Leonid Ilyukhin

Performance de "Dionysus" durante o MAMA 2019



A partir daqui, vamos começar a mergulhar em áreas mais profundas do inconsciente da personalidade humana e continuaremos a integrá-las. Isso é o que temos em “Map of the Soul: 7”, “Map of the Soul: 7 ~ The Journey”, "Map of the Soul ON:E - O concerto" e o que mais ainda estiver vindo na nossa direção. De qualquer forma, essa mega análise continuará nessa quarta-feira para te ajudar! Fique de olho!



Referências:


. STEIN, Murray. Jung - O mapa da alma. Editora Cultrix, 2004.

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