*Tradução livre a partir de artigo original publicado em 12 de agosto de 2021. Caso deseje visualizá-lo, acesse: https://magazine.weverse.io/article/view?lang=en&num=221
Como surgiu "Permission to Dance":
Uma jornada de oito meses para três minutos e sete segundos
"Acho que essa música parece muito boa". Nicole Kim, líder da equipe de A&R da BIGHIT MUSIC, disse que essa foi a reação do BTS quando ouviram "Permission to Dance" pela primeira vez. De acordo com Kim, o BTS pensou que eles “precisavam dar às pessoas boas vibrações, como energia positiva e esperança” enquanto se preparavam para a nova música. É exatamente assim que os membros do BTS se sentiram durante a pandemia. “É um momento difícil para nós, mas deve haver muito mais pessoas passando por momentos muito mais difíceis do que nós e, assim, queremos dar esperança às pessoas à nossa própria maneira”, disseram eles. “Esperamos conseguir dar força às pessoas de alguma forma.” Quanto a SUGA, enquanto ele estava trabalhando na música durante a pandemia, ele disse que "as coisas não parecem estar boas agora, mas vamos fazer o que pudermos". Então, foi decidido que um objetivo para a nova música do BTS seria "ser sobre o que os membros pensaram que deveriam fazer durante essa situação" e a equipe de A&R começou a trabalhar, contatando compositores ao redor do mundo para encontrar uma música que pudesse transmitir essa mensagem. “Muitas pessoas são boas em escrever canções, mas a melhor canção é aquela que se adapta bem aos membros e enfatiza as suas qualidades”, então a decisão também “dependeu de quão bem [os compositores] compreendiam os artistas”.
Não é segredo para ninguém que Ed Sheeran trabalhou com o BTS em "Permission to Dance" e já havia trabalhado com o grupo antes, em "Make It Right". Kim disse que "não houve qualquer problema" em trabalhar com Sheeran porque "entendemos o que um lado e o outro gostam e o que estávamos buscando". O BTS “gostou da faixa como ela era, mas a letra original era mais como uma proposta de casamento – mais pessoal, como uma canção de amor”, então o grupo pediu que a letra fosse modificada. “No processo de consolidar e transmitir o tema, e como outras pessoas o traduzem na letra”, disse Kim, “se usarmos uma linguagem vaga, as pessoas que ouvem têm uma imagem completamente diferente em mente, então, às vezes, oferecemos um enredo hipotético para ser o mais específico possível". Sheeran, por outro lado, disse que, embora a versão original de “Permission to Dance” fosse cantada por apenas uma pessoa, o BTS teve que cantá-la com sete membros, cada um com a sua própria voz. Então, Sheeran e o produtor Steve Mac forneceram muitas opiniões a respeito da gravação dos vocais. Ao longo de todo o processo de composição, a equipe de A&R compartilhou opiniões com Sheeran para que a gravação dos vocais soasse como uma harmonia entre o que ele queria desde o início e o que os membros do BTS têm de particular em suas próprias vozes. Gravar um single em inglês em si já era um novo tipo de tarefa. “Quando eles estão gravando em coreano, é suficiente que eles apenas cantem bem. Porém, com as músicas em inglês, eles precisam estar cientes da sua pronúncia durante a gravação também, então houve muitas mudanças e edições, mesmo depois que a música inteira foi gravada", disse Kim, destacando as diferenças na gravação de um single em inglês. Ela também acrescentou que eles “se prepararam muito com antecedência e alguns dos membros solicitaram a letra com antecedência também. A equipe de A&R tem muito a aprender com o quão profissional eles são e eles nos inspiram a fazer mais".
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BTS e Sheeran poderiam ter se encontrado cara a cara para coordenar tais opiniões no passado, mas a colaboração dos artistas teve que ser realizada inteiramente de forma remota devido à pandemia em curso. A equipe de A&R ajudaria na gravação das partes dos membros do BTS e completaria a música na Coreia. Em seguida, enviaria para os produtores da equipe de Sheeran no exterior, trocando feedback em tempo real. "Costumava ser possível colaborar presencialmente dos Estados Unidos ou da Coreia, mas tudo foi passado para o formato online”, explicou Kim. “Depois de um ano de pandemia, me acostumei com videoconferências e gravações feitas por telefone. Ainda assim, surgem dificuldades ao fazer música exclusivamente falando e escrevendo". E os produtores enfrentam os mesmos problemas. Jessica Agombar, uma das co-produtoras de “Dynamite”, disse à Billboard em uma entrevista que trabalhou na música trocando ideias com David Stewart, outro co-produtor, por meio do aplicativo de videoconferência Zoom. Jenna Andrews, que trabalhou em “Dynamite”, “Butter” e “Permission to Dance,” disse que a diferença de fuso horário a forçou a começar a trabalhar remotamente a partir das cinco da manhã de seu horário. O BTS e a BIGHIT primeiro gravariam algo, depois enviariam para Andrews, que então enviava os seus pensamentos a respeito da música para a equipe de A&R remotamente, e assim nasceu “Butter”. Kim demonstrou o novo panorama da produção musical no mundo pandêmico, afirmando que “não poderia ter sido fácil” para Andrews e os outros produtores “ter uma ideia dos vocais dos sete membros no início, já que eles não podiam trabalhar juntos pessoalmente". Outra mudança, por exemplo, foi a de que produtores em países onde medidas de lockdown foram implementadas poderiam trabalhar imediatamente, talvez até mais rápido, se já tivessem estúdios caseiros montados, mas aqueles que não tinham, viram as suas agendas de trabalho atrasadas. Assim como cada indústria enfrentou o seu próprio conjunto de desafios com a pandemia, o mesmo aconteceu com os trabalhadores da indústria musical.
A letra serve a um propósito ainda mais importante durante essas ssituações de mudanças inevitáveis, pois as situações que as pessoas em todo o mundo estão vivenciando durante a pandemia se fazem necessariamente refletidas nas músicas. Isso é ainda mais verdadeiro para artistas como o BTS, cujas mensagens têm um alcance global. Os membros do BTS viram “Permission to Dance” como um “tipo de música que temos que fazer neste ponto” e a sua mensagem pretendida ganhou forma com o verso da música “Nós não precisamos nos preocupar porque, quando caímos, sabemos como aterrissar”, disse SUGA pela primeira vez em uma entrevista. Enquanto isso, Kim disse que “Dynamite já era boa quando chegou a nós, então a única mudança que pedimos em relação à música foi que o som em si ficasse mais cheio (mais preenchido). A letra tinha algumas gírias vulgares usadas na música estrangeira, mas pedimos que a letra fosse modificada para refletir a mensagem de esperança do BTS e para que a sua autenticidade fosse expressa de forma mais clara".
Por outro lado, Kim disse que “Butter” reflete a crença dos membros do BTS de que “seria bom cantar também sobre os próprios charmes do BTS ao invés de cantar sobre esperança para a pandemia mais uma vez”. Kim disse que a primeira versão de “Butter” que ela recebeu estava repleta do tipo de letra materialista frequentemente encontrada na música pop americana. Ela concluiu que isso estava longe de ser a mensagem que o grupo pretendia transmitir: “A letra passou por muitas mudanças. Eu conversei muito com o RM em particular, que tinha muitos pensamentos a respeito da letra da música". Foi desse processo que o rap que RM escreveu ganhou vida. Partes da letra como "Não há acessórios caros no meu pulso / Eu sou aquele cara legal / Tenho o corpo certo e a mente certa" são um reflexo da "determinação do BTS em permanecer humilde mesmo com o seu status único", explicou Kim. Através da cooperação e coordenação de todos os envolvidos, incluindo a ajuda da equipe de A&R, as músicas se desenvolvem em uma direção melhor e tudo começa com as mudanças pelas quais os artistas passam na vida. Por meio desse processo, as especificidades da mensagem do artista são refletidas ao longo de toda a música e os seus pensamentos são transmitidos com mais precisão aos ouvintes.
Claro, o processo de composição nem sempre ocorre sem problemas. “Ao contrário dos álbuns, onde podemos demonstrar o fluxo de todo o álbum ao longo de 10 músicas”, com singles como “Dynamite”, “Butter” e “Permission to Dance”, eles “têm que transmitir tudo apenas com uma música”, explicou Kim. Como resultado, “a pressão não é menor do que com um álbum completo”. Notavelmente, “Butter” veio com a sua cota de pressão devido ao sucesso de “Dynamite”. “Todos estavam cientes de que todos os olhos estavam voltados para o desempenho da sua próxima música, por causa de como 'Dynamite' se saiu”, disse Kim, acrescentando que a equipe de A&R também estava angustiada para encontrar a música certa. A equipe até pediu paciência dos demais departamentos enquanto atrasavam o cronograma de produção de “Butter” para encontrar uma música que fosse capaz de ir além do hit anterior, o que foi solidificado depois que os membros ouviram “Butter” e disseram eles acreditavam que ela teria um bom desempenho. Também é necessário determinar o tema dos remixes que saem após certas músicas, considerando "as performances em palco e as preferências das pessoas". Da direção de uma música à letra, música, gravação, mixagem, masterização e remixes, o processo de fazer uma música para os ouvintes deve ser centrado no artista, com a equipe de A&R como o meio pelo qual muitas pessoas podem colaborar e se comunicar. Paralelamente à produção, o momento do lançamento e os métodos de promoção devem ser coordenados de forma a garantir uma boa sinergia com os demais departamentos. Ao todo, o processo demorou cerca de oito meses para que os três minutos e sete segundos de “Permission to Dance” chegassem aos ouvidos do público.
A música, de maneira geral, se tornou ainda mais significativa desde a chegada da pandemia. Em uma época em que é difícil para qualquer pessoa no mundo viajar para se encontrar com outras pessoas ou vê-las pessoalmente, a música é uma das poucas maneiras de permitir que as pessoas ao redor do mundo compartilhem uma experiência comum por alguns minutos. Isso é particularmente verdadeiro quando é uma música que as pessoas ao redor do mundo ouvem assim que é lançada, como é o caso do BTS. Nessa situação, enquanto o artista pensa na mensagem que deseja enviar ao mundo, a equipe, incluindo os compositores e a equipe de A&R, usam todos os meios à sua disposição para produzir uma música que transmita a essência do que os idealizadores desejam dizer, conectando e coordenando todos. Quando questionada sobre como se sentiu ao ver os frutos de seu trabalho, Kim afirma que “ouviu que os membros do BTS disseram que se sentiram consolados com as suas próprias canções. Então, A&R também vive esse tipo de momento".
*Um departamento de Artistas & Repertório, coloquialmente abreviado como A&R, é a divisão de uma gravadora ou editora de música responsável por procurar novos talentos e supervisionar o desenvolvimento artístico de artistas (cantores, instrumentistas, bandas, compositores e assim por diante). Também atua como um elo de ligação entre os artistas e a gravadora ou editora, de modo que toda atividade envolvendo os artistas até o ponto do lançamento de um álbum ou single é, geralmente, considerada sob a alçada e responsabilidade do A&R.
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