*Tradução livre a partir de artigo original publicado em 19 de maio de 2021. Caso deseje visualizá-lo, acesse: https://www.rollingstone.com/music/music-features/suga-bts-band-cover-story-interview-dope-my-first-love-1167260/
SUGA fala sobre como o BTS permanece "com fome"* mesmo depois de conquistar o mundo
“Às vezes eu penso: 'Por que eu tive que passar tanto tempo no estúdio?'”, diz SUGA.
Com suas letras mordazes e confessionais, um fluxo de técnica intensa que pode atingir níveis semelhantes aos de Busta Rhymes no que se refere à intensidade emocional, uma extensa produção e créditos de composição, além da ética de trabalho indomável, SUGA é uma peça indispensável da alma artística coletiva do BTS. Em abril, ele se sentou na sede da sua gravadora, usando um boné de malha cinza, máscara branca e parka preta enquanto falava sobre as suas batalhas contra a depressão, o seu processo de composição, sobre permanecer "com fome" mesmo depois de conquistar o mundo e muito mais.
(Em comemoração à aparição do BTS na capa da Rolling Stone, estamos publicando capas digitais individuais com cada membro da banda. Volte amanhã para a nossa entrevista com o V.)
Você fez uma cirurgia no fim do ano passado devido a uma lesão no ombro que, eu acredita, remonta aos seus dias de trainee. Como você está se sentindo?
Muito melhor. Ainda tenho que fazer um pouco de fisioterapia, mas está muito melhor. E, sim, eu sofri a lesão em um acidente quando eu tinha 20 anos e, a medida em que ia piorando, me foi recomendado que eu fizesse uma cirurgia. Felizmente, havia um pequeno intervalo de tempo que eu poderia usar para fazer esse procedimento. Então foi isso que fizemos.
É muito impressionante que você tenha dançado coreografias elaboradas por todos esses anos com essa lesão. Como você conseguiu fazer isso?
No ano anterior à cirurgia, eu acho, eu estava recebendo tratamento e injeções quase que mensalmente. Mas havia momentos em que eu não conseguia levantar os meus braços ou ter uma amplitude de movimento completa no meio de um show. Portanto, não era tanto sobre a dor. É mais sobre se eu seria capaz de continuar fazendo essas apresentações. Quando você está realmente se apresentando, por causa da adrenalina e tudo mais, realmente não dói. Você meio que vivencia essa dor isso no dia seguinte. É quando você sente a dor ou o desconforto ou não consegue mais levantar os braços.
Eu amo a música “First Love”, onde você fala sobre o seu amor excessivo, a sua paixão precoce pelo piano e pela música. A letra sugere que o seu amor pela música também é uma fonte de tormento. O que estava acontecendo naquela época?
Quando eu estava trabalhando em “First Love”, eu queria expressar uma mistura de emoções diferentes, porque o primeiro amor nem sempre são coisas boas. Há as coisas amargas também. Então, eu estava conversando com o Sr. Bang sobre conectar a metáfora do primeiro amor ao primeiro momento em que eu conheci a música. O alvo do amor é um piano, mas pode ser qualquer coisa - um amigo, alguma outra entidade. Então, eu queria mostrar as emoções pelas quais você passa.
Você tem sido aberto nas suas letras sobre assuntos como depressão e outras lutas. Como você está agora?
Eu estou confortável agora e me sentindo bem, mas esses tipos de emoções negativas vêm e vão. Então, é quase como um clima frio. Pode voltar em um ciclo ao longo de um ano, um ano e meio. Mas quando eu ouço as pessoas dizerem que, quando ouvem a minha música, elas se sentem consoladas e confortadas por aquelas letras que expressam essas emoções, isso me faz sentir muito bem. É muito encorajador. Acho que, para qualquer pessoa, essas emoções não são algo que precisa ser escondido. Elas precisam ser discutidas e expressas. Quaisquer que sejam as emoções que eu possa estar sentindo, eu estou sempre pronto para expressá-las agora, como eu também estava antes.
Você escreveu muitas músicas para o BTS, muitas músicas para você e muitas músicas para outras pessoas. Qual é o seu processo normal de composição?
O processo é muito diferente para cada música. Às vezes, pode ser uma palavra que surge e eu construo a música em cima dessa palavra ou alguém pode fazer um pedido de uma determinada maneira que gostaria que uma música fosse desenvolvida. Frequentemente, nós decidimos sobre um tema e então trabalhamos livremente a partir do tema abrangente, mais amplo que possamos ter. Mas, geralmente, quando eu trabalho em uma música, eu crio a batida primeiro, depois a melodia, o rap e finalmente a letra. Geralmente é assim que eu as construo.
Como vai a sua relação com o violão? Você tem tocado?
Como o meu ombro melhorou muito, eu estou de volta ao violão. Eu tenho tocado músicas de outras pessoas para praticar, é claro, e estou ansioso para, em um futuro distante, ser capaz de cantar e tocar violão ao mesmo tempo. É para isso que estou trabalhando.
Em “Dope”, você tem um ótimo verso sobre a sua juventude apodrecendo dentro do estúdio. Mas você já teve arrependimentos em relação a isso?
Eu não me arrependo do trabalho no estúdio. Aqueles dias e aquele tempo me permitiram ter o tipo de oportunidades que eu tenho hoje. Portanto, não há arrependimento. Mas às vezes eu penso: “Por que eu tive que passar tanto tempo no estúdio?” [risos] Por que eu não poderia ter ido mais rápido? Eu me esforcei de forma absurda. Por que eu não poderia ter descansado um pouco mais ou me revigorado um pouco mais? Eu penso sobre isso.
Você, RM e j-hope têm todos esses incríveis sentidos duplos e triplos e outros jogos de palavras que podem se perder com oos ouvintes que não falam coreano - as traduções não podem transmitir tudo isso. É frustrante que alguns dos seus fãs estrangeiros possam acabar perdendo alguma coisa?
Quando eu estava crescendo, é claro, eu ouvia hip-hop e pop americano e o meu inglês não era muito bom. Então, eu lia as letras e as traduções delas. E, obviamente, o que os falantes nativos de inglês podem considerar como os versos-chave, os elementos cruciais, eu realmente não conseguia entendê-los por causa das complexidades do idioma. Eu acho que essa é uma parte inevitável da barreira do idioma. E, eu acho, é importante tentar encontrar um meio-termo feliz onde as pessoas de ambas as línguas e culturas ou outras línguas a entendam. Então, tentamos escrever letras nesse meio, que possam ser entendidas por pessoas que falam outras línguas. E eu também estou estudando inglês cada vez mais, tentando me familiarizar mais com ele. Então, se pudermos fazer com que tanto falantes de coreano quanto falantes de inglês entendam as letras, isso seria ótimo. Mas, novamente, isso é algo que eu também vivencio.
Há uma história de que os seus pais não gostavam que você estivesse fazendo rap, que eles até rasgaram as suas letras. Como isso afetou você?
Os meus pais não entendiam o rap. Eles são uma geração diferente de mim e nunca ouviram rap. Não fazia parte da música que eles ouviam. Então, é natural que eles fossem contra o que eu estava fazendo. E, claro, ser músico também é uma profissão muito instável. Portanto, eu posso entender perfeitamente por que os meus pais eram contra o que eu estava fazendo. Mas acho que isso me motivou ou me ajudou a trabalhar mais, porque havia algo que agora eu precisava provar. Eu tive que mostrar aos meus pais que era possível. Então, isso me motivou a trabalhar ainda mais duro.
Depois de tudo o que o BTS alcançou, como você se mantém "com fome"?
Eu sou uma daquelas pessoas que pensa que não apenas as pessoas mudam, mas as pessoas DEVEM mudar. Eu acho que é muito importante manter essa fome. Mas, desde os dias em que estávamos realmente com fome, nós estabelecemos rotinas para nós mesmos. E rotinas permanecem com você, mesmo que você mude como pessoa. Eu acho que ainda podemos recorrer às coisas de que falávamos quando ainda estávamos com fome para que possamos manter essa ética de trabalho e continuar com fome, mesmo que nós mudemos e nos desenvolvamos como pessoas. Agora, em vez de fome, acho que estamos mais zangados! Zangados e com fome [risos].**
* Todas as vezes em que o entrevistador ou SUGA mencionam "fome" ou "estar com fome", eles estão se referindo, na verdade, a como e se SUGA e os demais membros ainda se sentem desejosos de alcançar ainda mais picos, de ir ainda mais longe.
** Nesse trecho, SUGA fez um jogo de palavras misturando os termos em inglês ANGRY + HUNGRY, que significam respectivamente ZANGADO + COM FOME. Dessa forma, ele criou uma palavra que misturasse ambos os termos para descrever como se sentem: HANGRY, ou seja, HUNGRY + ANGRY.
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