*Tradução livre a partir de texto original publicado em 30 de março de 2022. Caso deseje visualizá-lo, acesse: https://time.com/collection/time100-companies-2022/6159410/hybe-bang-si-hyuk-bts-interview/?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=time100-companies&utm_term=_&linkId=158753677
HYBE e Bang Si-hyuk estão transformando o mundo
da música com uma ajudinha do BTS
A potência do pop
Em abril deste ano, Las Vegas pode parecer um pouco diferente. Por dois fins de semana, as estrelas do supergrupo sul-coreano BTS farão shows para o público no Allegiant Stadium lotado, enchendo a cidade com dezenas de milhares de fãs apaixonados pela sua marca de K-pop de alta energia. Será mais um retorno ao formato de performances ao vivo para o BTS, cuja agenda global de turnês está paralisada devido à pandemia. Apesar dos contratempos, o grupo prosperou. Esse sucesso contínuo é produto direto da perspicaz agência de gestão por trás do ato musical mais popular do planeta. Inicialmente fundada como Big Hit Entertainment em 2005 pelo mentor musical Bang Si-hyuk, a empresa foi listada publicamente na bolsa coreana em 2020 como HYBE e está avaliada em US$ 9,5 bilhões hoje. E, enquanto o BTS sobe ao palco em Vegas, a HYBE também fará audições lá, em busca das estrelas da próxima década.
A HYBE não é apenas uma gravadora ou uma empresa de gestão. “A visão da HYBE sempre foi ambiciosa – a ponto de ser presunçosa”, diz Bang pelo Zoom de sua sede em Seul. (A empresa também tem bases nos EUA e no Japão.) “Nossa visão é nos tornarmos a plataforma líder mundial de entretenimento e estilo de vida, tendo a música como nossa base.” Ele próprio um ex-artista, apelidado de Hitman por seus instintos musicais infalíveis, Bang é atencioso e sério em suas respostas - mesmo que seja ousado em seus objetivos. Atualmente, ele prefere um papel nos bastidores e entregou as funções de CEO a Jiwon Park enquanto permanece como presidente da empresa. A medida em que a HYBE evoluiu, ela cresceu de uma pequena incubadora de artistas – Bang escolheu a dedo os sete artistas do BTS de toda a Coreia – para o que ele chama de “um negócio de 360 graus”, no modo de marcas como a Disney que possuem e operam um catálogo de propriedade intelectual (PI). No ano passado, a HYBE adquiriu a empresa de mídia norte-americana Ithaca Holdings – que administra nomes como Justin Bieber, J Balvin e Ariana Grande – por mais de US$ 1 bilhão, investiu mais de US$ 420 milhões em um empreendimento de criptomoedas e ampliou os negócios no Japão e nos EUA. Ela também administra o Weverse, um aplicativo de mídia social de fãs para artistas com quase 7 milhões de usuários mensais. “Estamos em um estágio em que expandimos os limites de nossa própria indústria”, diz Bang.
A HYBE consiste em três setores: IP do artista (propriedade intelectual do artista), tecnologia e construção de mundo. O BTS se apoiou em toda essa infraestrutura para encontrar um novo caminho para o domínio global, mesmo em confinamento. “A ideia era lançar novas músicas para consolar as pessoas e curar as suas mentes através da nossa música durante esses tempos difíceis, quando é difícil de se encontrar e interagir fisicamente”, disse o líder do BTS, RM, à TIME. “Os resultados foram 'Dynamite', 'Butter', 'Permission to Dance'.” Cada um desses singles animados e que te convidam a dançar, lançados estrategicamente ao longo de dois anos, se tornaram sucessos recordes e solidificaram o lugar do BTS no firmamento do pop. O BTS tem sido, diz Bang, “o rei da cena do K-pop por muito tempo”, mas os artistas mais recentes da HYBE, incluindo ENHYPEN, TXT e SEVENTEEN, estão à beira de momentos de explosão em destaque. Além disso, a HYBE está priorizando o lançamento de novos talentos da Coreia, Japão e especialmente dos EUA. “A essência da nossa empresa é a propriedade intelectual – somos uma empresa de negócios de música. Precisamos aumentar nossas propriedades intelectuais e também criar mais”, diz Bang.
Onde a HYBE se diferenciou é no investimento em tecnologia que torna possível transmitir shows virtualmente e possuir a relação artista-fã, desde ingressos a lojas de mercadorias até transmissões ao vivo de artistas, shows e murais de mensagens. O Weverse, onde os fãs podem ir para acessar todas as coisas relacionadas aos artistas da HYBE, é o que Bang chama de “grande inovação”. A HYBE também adquiriu recentemente o VLIVE, uma plataforma de tecnologia que permite streaming de vídeo ao vivo para o público.
Essa tecnologia, diz RM, possibilitou que o grupo seguisse em frente, mesmo com a decepção de turnês canceladas, e que mantivesse seus fãs engajados. “Durante a pandemia, a empresa organizou shows online e vem construindo comunidades de fãs [ao redor do mundo]”, acrescenta SUGA, membro do BTS. Os shows virtuais do grupo, transmitidos para mais de um milhão de portadores de ingressos pagantes em todo o mundo, quebraram recordes de audiência ao vivo. Foi a HYBE que possuía e operava a plataforma virtual para eles se apresentarem e também foi a HYBE, na qual os membros do BTS são acionistas, que colheu os frutos. O VLIVE está atualmente sendo integrado ao “Weverse 2.0”, com lançamento previsto ainda para o primeiro semestre deste ano.
No entanto, Bang reconhece que uma inovação não é suficiente. “O mercado está constantemente nos dizendo para criar algo novo já”, diz ele. Então, ele o fez. Uma das tendências crescentes do mercado da música em 2022 é a venda de NFTs – tokens não fungíveis que existem na blockchain – de músicas e outros ativos, como photocards negociáveis de artistas. No final de 2021, Bang anunciou que a HYBE buscaria construir uma negociação de NFT própria em uma aventura conjunta com a empresa de tecnologia Dunamu. Mas a reação dos fãs foi rápida, com preocupações sobre o impacto ambiental desses tokens. “Tudo o que eu gostaria de dizer aos fãs é que, por enquanto, não anunciamos nada”, diz Bang agora. O objetivo dessa negociação ou troca proprietária, diz ele, é ter um maior controle sobre como as NFTs são criadas e distribuídas – e abordar as preocupações dos fãs diretamente com “políticas e medidas técnicas” que reflitam melhor as suas prioridades. Ele é enigmático por enquanto, mas parece otimista sobre o futuro das NFTs para seus artistas. “Temos alguns projetos interessantes em andamento”, diz ele, acrescentando que o resultado pode persuadir os céticos que agora estão dizendo: “Esses caras não entendem por que odiamos isso”.
A questão da NFT é apenas uma parte da visão de Bang de um novo modelo de negócios que funcione melhor para os artistas. Um dos principais desafios da indústria global da música é a tensão entre artistas, gravadoras e plataformas de streaming em relação a pagamentos fracionados. O método de Bang de fugir desse campo minado é diversificar os fluxos de renda dos artistas da HYBE. “Enquanto contemplamos questões como: ‘Como podemos satisfazer os fãs e expandir o alcance do artista e, ao mesmo tempo, criar uma vida útil mais longa para a música através da estrutura narrativa?’, criamos um novo modelo no ano passado”, diz Bang.
Esse modelo é chamado de “Original Story Business” (“Negócio de História Original”), por meio do qual a HYBE está desenvolvendo tudo, desde desenhos animados a materiais educacionais em coreano que se conectam à música, mensagem e personalidades dos artistas da HYBE. Até agora, a empresa anunciou três projetos em colaboração com o Naver Webtoon, com pelo menos mais três por vir ainda este ano.
“A estrutura da nossa empresa é tão única”, diz Bang. É capaz de capturar receita de vários pontos. Isso é um contraste com muitas outras gravadoras. “A indústria da música está perdendo bastante na cadeia de valor. Acho que a indústria da música deveria ganhar muito mais dinheiro e seu valor como serviço deveria ser mais reconhecido”, diz ele, referindo-se ao trabalho dos artistas. "O Sr. Bang e a HYBE sempre priorizaram o essencial – a música”, diz j-hope, membro do BTS.
Enquanto isso, o modelo da HYBE já alterou irrevogavelmente o cenário musical global. “Em muitos casos, as pessoas apenas fazem as coisas porque é assim que as coisas têm sido. Eu tenho dificuldade em aceitar isso”, diz Bang. “E assim, ao administrar uma empresa, sempre tento me concentrar em: por que estamos fazendo isso?”
Para o BTS, isso significava ignorar as limitações impostas aos grupos de K-pop anteriores e se estabelecer como os príncipes do pop global. Para a HYBE, significa evoluir como agência de música, inovadora em tecnologia e potência criativa ao mesmo tempo. Bang, assim como o BTS, sempre sonhou grande. Então, por que ele está fazendo isso? Bem, por que não?
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