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O otimismo ilimitado do BTS [ESQUIRE - 23/11/2020]

Updated: Dec 27, 2020

Tradução livre a partir do artigo original publicado em 23 de novembro de 2020. Caso deseje visualizá-lo, clique aqui: https://www.esquire.com/entertainment/music/a34654383/bts-members-be-album-interview-2020/?utm_medium=social-media&src=socialflowTW&utm_campaign=socialflowTWESQ&utm_source=twitter



O OTIMISMO ILIMITADO DO BTS

A maior banda do mundo ascendeu ao pico do pop, redefiniu a fama

e desafiou a masculinidade tradicional. Estes são os rapazes de vinte e poucos anos

por trás de tudo. E é isso o que eles querem agora.




É manhã de Chuseok, um festival coreano da colheita semelhante ao Dia de Ação de Graças e os membros do BTS normalmente o passariam com suas famílias comendo tteokguk, uma sopa tradicional de bolinho de arroz. Em vez disso, Jin, 28 anos; Suga, 27 anos; J-Hope, 26 anos; RM, 26 anos; Jimin, 25 anos; V, 24 anos; e Jung Kook, 23 anos, estão trabalhando. Ensaiando. Aperfeiçoando sua coreografia. Em alguns dias, o maior ato musical do mundo se apresentará no show ao vivo que, por enquanto, terá que representar a enorme turnê que eles passaram a primeira parte deste ano ensaiando. Neste momento, eles estão sentados na sede da Big Hit Entertainment em Seul, na Coreia do Sul, a casa que eles construíram, vestidos principalmente em preto e branco, prontos para responder às minhas perguntas. Eles estavam graciosos com isso. E grogues.


Antes que eu termine de falar com eles para escrever este artigo, o BTS terá as músicas número um e número dois no Billboard Hot 100, um feito que foi alcançado apenas algumas vezes nos sessenta anos em que esse chart tem existido. Seu próximo álbum, 'BE', está a semanas de ser lançado e as especulações sobre o álbum, a tracklist, o comunicado são abundantes na internet. BTS são, para dizer no mínimo, enormes.



Há algo sobre a dominação mundial que pode realmente cimentar uma amizade. O que se destaca para mim quando me conecto com os membros do BTS é o nível de conforto que eles sentem um com o outro. A tensão encontra meios de se tornar evidente - mesmo pelo Zoom, mesmo com um tradutor. Mas não há nenhuma para ser encontrada aqui. Eles estão relaxados da forma que uma família estaria. Descansando com os braços em volta dos ombros um do outro, puxando as mangas uns dos outros, ajustando os colarinhos uns dos outros. Quando falam uns dos outros, é com gentileza.


“Jimin tem uma paixão particular pelo palco e ele realmente pensa na performance e, nesse sentido, há muito o que aprender com ele”, diz J-Hope. “Apesar de todas as coisas que conquistou, ele ainda dá o melhor de si e traz algo novo para a mesa, e eu realmente quero aplaudí-lo por isso.”


“Obrigado por dizer todas essas coisas sobre mim”, Jimin responde.


Jimin volta sua atenção para V, explicando que ele é “amado por muitos” e o descrevendo como um de seus melhores amigos. Suga salta na conversa, compartilhando que Jimin e V são os que mais discutem entre o grupo. V responde: "Nós não brigamos há três anos!" Eles me disseram que essa distinção agora pertence a Jin e Jung Kook, os membros mais velho e mais jovem. “Tudo começa como uma piada, mas depois fica sério”, diz Jimin.



Jin concorda e conta como as suas discussões soam. "Por que você me bateu com tanta força?", ele diz antes de imitar a resposta de Jung Kook: “Eu não bati em você com tanta força.” E então eles começam a se bater. Mas não é com tanta força.


Desde o início de suas carreiras, o BTS mostrou uma certa confiança em sua estética, em suas performances e em seus videoclipes. Está bem ali no nome: BTS significa "Bangtan Sonyeondan", que se traduz como "Escoteiros à prova de balas". Mas, conforme sua popularidade cresceu nos mercados de língua inglesa, a sigla foi adaptada para significar "Beyond The Scene", ou seja, "Além da cena", o que a Big Hit descreveu como “simbolizando jovens que não se contentam com a sua realidade atual e, em vez disso, abrem a porta e seguem em frente para alcançar o crescimento”. Além disso, seu afeto mútuo, sua vulnerabilidade e franqueza emocional em suas vidas e em suas letras me parece mais adulto e masculino do que toda a frenética e perpétua lista de características e policiamento de tom que os garotos americanos forçam a si próprios e a seus colegas a cumprirem. Isso parece o futuro.



“Existe essa cultura onde a masculinidade é definida por certas emoções, características. Não gosto dessas expressões”, Suga me diz. “O que significa ser masculino? As condições das pessoas variam dia a dia. Às vezes você está em boas condições, às vezes você não está. Com base nisso, você tem uma ideia da sua saúde física. E a mesma coisa se aplica mentalmente. Alguns dias você está em bom estado, às vezes você não está. Muitos fingem estar bem, dizendo que não são ‘fracos’, como se isso fosse fazer de você uma pessoa fraca. Eu não acho isso certo. As pessoas não vão dizer que você é uma pessoa fraca se sua condição física não for tão boa. O mesmo deve se aplicar à condição mental. A sociedade deveria ser mais compreensiva.”


Quando ouço essas palavras em outubro de 2020 aqui da minha casa em um país cujo líder está ativamente tentando fazer com que apenas os fracos morram pela COVID-19, bem, me soa como o futuro também.


 

Se você está considerando começar a conhecer o BTS, é natural se sentir um pouco esmagado pela quantidade de coisas. É um pouco como dizer "Vamos ver do que se trata a Marvel Comics". Na era do streaming, o BTS vendeu mais de vinte milhões de unidades físicas em quatorze álbuns. Os ciclos conceituais de seus múltiplos álbuns, "The Most Beautiful Moment in Life", "Love Yourself" e "Map of the Soul", se desdobraram em vários álbuns e EPs. Há colaborações com marcas, incluindo um smartphone do BTS com a Samsung. Há uma série de curtas-metragens e videoclipes ligados ao chamado BU ou BTS Universe e também um universo animado chamado BT21, em que todos os membros são representados por avatares de gênero neutro. Além disso, a sua base de fãs, conhecida como ARMY, é um movimento cultural global em si.



“Dynamite”, seu primeiro single em inglês e seu primeiro single número 1 nos Estados Unidos, é pop puro e absorto. Brilhante e alegre. O que os diferencia de muitos de seus colegas e de muitos dos atos pop que alcançaram fama mundial antes deles é o que veio antes. Por baixo do brilho e das batidas sempre houve um exame inflexível da emoção humana. Suas letras procuram desafiar as convenções da sociedade - questioná-las e até mesmo denunciá-las. O primeiro single do BTS, "No More Dream", revelado em seu showcase de debut em junho de 2013, diz respeito à intensa pressão que os alunos sul-coreanos enfrentam para se conformarem e terem "sucesso". De acordo com Suga, as letras sobre a saúde mental dos jovens estavam ausentes na música pop coreana. “Comecei a fazer música porque cresci ouvindo letras que falam sobre sonhos, esperanças e questões sociais”, ele me conta. “Isso veio naturalmente para mim ao fazer música.”


A ambição inicial de Suga de fazer música não envolvia estar em um grupo. Cerca de uma década atrás, em sua cidade natal de Daegu, a quarta maior cidade da Coreia do Sul, ele começou a gravar faixas de rap underground sob o nome de Gloss, ouvindo e aprendendo com os primeiros trabalhos do compositor e produtor Bang Si-hyuk, conhecido como Hitman Bang. Bang é o fundador e CEO da Big Hit Entertainment. Em 2010, Suga, um calouro do ensino médio, mudou-se para Seul para se juntar à Big Hit como produtor e rapper. Então, Bang o convidou para fazer parte de um grupo, imaginando um ato de hip-hop com outros novos recrutas da Big Hit, no caso, RM e J-Hope. Eles chamam isso de “a primeira temporada” do seu desenvolvimento.


“Naquela época, não acho que nossa gravadora sabia exatamente o que fazer conosco”, disse RM. “Eles basicamente nos deixaram existir e tivemos algumas aulas, mas também apenas relaxamos e fizemos música, às vezes.”


Se tornou mais intenso. A família cresceu, ocasionalmente por acidente.


V acompanhou um amigo a uma audição da Big Hit em Daegu para apoio moral e acabou sendo a pessoa escolhida nessas sessões.


Jung Kook foi contratado depois de ser eliminado do show de talentos Superstar K, recebendo ofertas de várias empresas de entretenimento antes de se decidir pela Big Hit porque ficou impressionado com o rap de RM.


Jimin era um estudante de dança e presidente de classe por nove anos consecutivos em sua escola em Busan; ele fez o teste a mando de sua professora.


E então, Jin foi pego em meios às ruas. “Eu estava indo para a escola”, diz ele. “Alguém da empresa se aproximou de mim, tipo, 'Oh, esta é a primeira vez que vejo alguém com esta aparência'. Então, ele sugeriu ter uma reunião comigo.”



“A segunda temporada foi quando passamos oficialmente por um treinamento pesado”, diz J-Hope. “Começamos a dançar e é assim que eu diria que nossa formação de equipe começou.”


Escola durante o dia, treinamento à noite. “Nós dormíamos durante as aulas”, diz V.


“Eu dormia no estúdio de ensaio”, conta J-Hope.


Hitman Bang manteve a pressão relativamente baixa. E ele encorajou os rapazes a escreverem e produzirem suas próprias músicas, para serem honestos sobre suas emoções em suas letras. Suga está oficialmente afirmando que nenhum álbum do BTS estaria completo sem uma faixa que analisa a sociedade.


Mas, ainda assim, para o seu novo álbum, 'BE', eles estão colocando isso de lado. Até mesmo isso tem um propósito maior que se relaciona ao bem-estar mental: RM, o rapper principal do grupo, diz: “Não acho que este álbum terá nenhuma música que critique questões sociais. Todo mundo está passando por momentos muito difíceis agora. Então, não acho que haverá músicas tão agressivas.”


Embora as novas regras da COVID-19 signifiquem que eles não podem vir até aqui e promover 'BE', o primeiro single do álbum poderia não ter acontecido, em primeiro lugar, se não fosse pela pandemia. “Dynamite não estaria aqui se não houvesse a COVID-19”, diz RM. “Para esta música, queríamos ser simples e positivos. Não nos voltarmos a algumas vibes ou sombras profundas. Só queríamos ir com calma.”


Jin concorda. “Estávamos tentando transmitir uma mensagem de cura e conforto aos nossos fãs”. Ele faz uma pausa. “A dominação mundial realmente não era o nosso plano quando estávamos lançando Dynamite”. A dominação mundial apenas acontece às vezes.



 

MAP OF THE SOUL ON:E foi ao ar através de sua plataforma online para fãs e atraiu quase um milhão de telespectadores de 191 países. Os rapazes dizem que tentaram não pensar nessa enorme dimensão. J-Hope acrescenta: “Fiquei um pouco mais nervoso sabendo que isso estava sendo transmitido ao vivo. Na verdade, me sinto menos nervoso ao tocar ao vivo em um estádio.” Jin responde com um sorriso: "J-Hope, nascido para se apresentar em um estádio."



O layout gráfico do título do concerto lança dois pontos entre o N final e o E, o que o faz o título ser "Map of the Soul ON: E". E, enquanto assisto o show ao vivo, como faço em meu escritório às 3h da manhã com os fones de ouvido e um grande bule de café fumegante, parece que estou assistindo Map of the Soul no E. É uma explosão de cor, moda e paixão em quatro palcos gigantescos, da arrogância bêbada de "Dionysus" até a introspecção da emo-trap "Black Swan". Nem um passo, nem um gesto, nem um fio de cabelo está fora do lugar. Se havia nervos, eles não conseguiram aparecer.


Há também, no final de Map of the Soul ON:E, uma versão íntima de sua faixa de 2017 "Spring Day", que resume o que realmente fez o BTS se destacar. Na superfície, é sobre amor e perda inespecíficos, sobre anseio pelo passado. “Acho que essa música realmente me representa”, diz Jin. “Gosto de olhar para o passado e ficar perdido nele.”



No entanto, há uma alusão inegável, tanto no vídeo da música quanto no conceito da capa, a um incidente específico na história recente da Coreia do Sul. “Spring Day” foi lançada poucos anos após o naufrágio do Ferry Sewol, um dos maiores desastres marítimos do país, no qual uma balsa mal inspeccionada e sobrecarregada tombou numa curva acentuada à direita. Centenas de estudantes do ensino médio se afogaram, obedecendo às ordens de permanecerem em suas cabines enquanto o barco estava afundando. De acordo com alguns relatos, o governo sul-coreano tentou ativamente silenciar os artistas que se manifestaram contra ele, com o Ministério da Educação coreano até mesmo banindo totalmente as fitas amarelas que marcavam a tragédia nas escolas. Eu pergunto se a canção era sobre um acontecimento triste específico e Jin me diz: “É sobre um acontecimento triste, como você disse, mas também é sobre saudade”. A música manteve o desastre na mente dos jovens coreanos e da mídia, indiretamente levando ao impeachment e destituição do então presidente Park Geun-hye.



Se uma embarcação sobrecarregada, mal mantida, tombada por causa de uma curva imprudente parecer de alguma forma um símbolo do país em que o BTS está prestes a explodir ainda mais, você não ouvirá deles. “Somos de fora - não podemos realmente expressar o que sentimos sobre os Estados Unidos”, diz V. Mas suas ações falam por si. No despertar após o assassinato de George Floyd e protestos subsequentes na América, o grupo fez uma doação de US$ 1 milhão com a Big Hit Entertainment para o movimento Black Lives Matter, que foi igualada pelo ARMY.



Os fãs oferecem uma inversão fascinante da cultura stan: em vez de intimidarem ou praticarem bullying com "rivais" como muitas outras bases de fãs online fervorosas, o ARMY colocou a mensagem positiva da música do grupo em ação. Seu ativismo é profundo. Por meio de doações, eles recultivaram florestas tropicais, adotaram baleias, financiaram centenas de horas de aulas de dança para jovens de Ruanda e arrecadaram dinheiro para alimentar refugiados LGBTQ em todo o mundo. Enquanto os fãs do pop de uma geração atrás podem ter enviado ursinhos de pelúcia ou cartões para seus ídolos em seus aniversários, enquanto há cinco anos eles podem ter promovido uma hashtag para aumentar a contagem de espectadores de um vídeo no YouTube, para o vigésimo sexto aniversário de RM em setembro, o coletivo internacional de fãs, One in an Army, arrecadou mais de US$ 20.000 para escolas noturnas digitais para melhorar o acesso de crianças de zonas rurais à educação durante a crise da COVID-19. O ARMY pode até ter entrado na conversa sobre a eleição presidencial de 2020, quando centenas de milhares de ingressos para o rali de Trump em Tulsa foram adquiridos online em junho. A participação real do evento foi pateticamente baixa. Nenhuma pessoa ou entidade em particular reivindicou o crédito por esse troll de alto nível, mas um vídeo incentivando os fãs do BTS a confirmarem presença naquele comício obteve centenas de milhares de visualizações. Não temos escolha a não ser apoiar o ARMY.



O relacionamento é intenso. “Nós e nosso ARMY estamos sempre carregando as baterias uns dos outros”, diz RM. “Quando nos sentimos exaustos, quando ouvimos as novidades do mundo todo, os programas de reforço escolar, as doações e tudo de bom, nos sentimos responsáveis ​​por tudo isso.” A música pode ter inspirado as boas obras, mas as boas obras inspiram a música. “Temos que ser maiores, temos que ser melhores”, continua RM. “Todas essas atitudes sempre nos influenciam a sermos pessoas melhores, antes de toda música e as 'coisas de artista'.”


No entanto, para cada membro dedicado do ARMY, ainda há alguém que nunca viu o BTS. Jimmy Fallon, cujo 'Tonight Show' hospedou o grupo por uma semana inteira no outono passado, era uma dessas pessoas. “Normalmente, se um artista está em ascensão, eu ouço falar deles com antecedência. Com o BTS, eu sabia que eles tinham tido um impulso maluco e nunca tinha ouvido falar deles.”



Aqui está um pensamento que costumava ser engraçado para mim: havia membros do público ao vivo do 'The Ed Sullivan Show' em 9 de fevereiro de 1964 que não estavam lá para ver os Beatles. Elvis estava no exército, Buddy Holly tinha ido embora e os três álbuns número 1 nos meses antes de 'Meet the Beatles!' foram um disco de comédia de Allan Sherman, a gravação do elenco original de West Side Story e Soeur Sourire: The Singing Nun. A América havia deixado o rock'n roll para trás por enquanto e, com a cultura sem rumo e fragmentada, não tinha certeza do que escolher em seu lugar. É possível imaginar que um ser humano jovem, razoavelmente moderno e culturalmente consciente possa conseguir um ingresso para o show daquela semana, sentar-se em seu assento e dizer: “Traga uma mistura de números do musical da Broadway, "Oliver!", e a sensação do banjo, Tessie O'Shea”.


O instinto é rir daquele cara e é um bom instinto, porque que droga...


E então você se torna aquele cara.



Às vezes, existe um universo inteiro ao lado do seu, explodindo em cores que você é muito teimoso para ver, saltando de alegria que você acha que é para outra pessoa, com uma batida que você pensou que já tinha terminado de dançar. BTS é o maior ato do planeta agora, mas o trabalho de apresentá-los a alguém novo, especialmente na América, parece que nunca termina. Talvez seja porque eles são adorados por adolescentes e vivemos em uma sociedade patriarcal o suficiente para esquecer que adolescentes gritando quase sempre estão certos. Talvez seja a divisão cultural, em um momento em que nosso país tem vergonha de sua própria xenofobia para ficar abertamente fora de forma quando tem que pressionar 1 para o inglês. Talvez seja a barreira do idioma, como se entendêssemos uma única palavra que Michael Stipe cantou antes de 1989.


Seja qual for o motivo, o resultado é que você pode estar perdendo uma mudança de paradigma e um momento histórico da grandeza do pop.



 

Se o BTS parece um pouco cauteloso com suas palavras publicamente, é porque - talvez mais do que qualquer outra banda pop massiva da história - eles têm que ser. Pouco depois do nosso segundo encontro, o BTS recebeu o Prêmio General James A. Van Fleet da Sociedade Coreana dos Estados Unidos por suas contribuições notáveis ​​para o avanço das relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul. Em seu discurso de aceitação, RM disse: “Sempre lembraremos a história de dor que nossas duas nações compartilharam juntas e os sacrifícios de incontáveis ​​homens e mulheres”, uma declaração aparentemente diplomática e inócua como ele poderia ter feito. Mas porque ele não mencionou os soldados chineses que morreram na Guerra da Coreia, o resultado não foi bom. O smartphone Samsung x BTS desapareceu das plataformas de e-commerce chinesas, a Fila e a Hyundai retiraram anúncios na China que apresentavam o grupo, o jornal nacionalista Global Times os acusou de ferir os sentimentos dos cidadãos chineses e negar a história, e as hashtags “BTS humilhou a China” e “Não há ídolos que existam antes do meu país” começou a ser tendência no site de mídia social Weibo. A pressão não é pequena.



Mesmo como o grupo pop número 1 do mundo, mesmo com seu trabalho duro dia após dia, mesmo com dezenas de milhões de fãs que os adoram redefinindo o conceito de "fãs que adoram" literalmente curando o planeta em seu nome, esses caras ainda sofrem de síndrome do impostor. RM explica: “Ouvi dizer que existe este complexo de máscara. Setenta por cento das pessoas chamadas de sucesso têm isso mentalmente. É basicamente o seguinte: há uma máscara no meu rosto. E essas pessoas têm medo de que alguém tire essa máscara. Temos esses medos também. Mas eu disse 70 por cento, então acho muito natural. Às vezes, é uma condição para ter sucesso. Os humanos são imperfeitos e temos essas falhas e defeitos. E uma maneira de lidar com toda essa pressão e peso é admitir as sombras.”


A música ajuda. “Quando escrevemos as músicas e letras, estudamos essas emoções. Estamos cientes dessa situação e nos relacionamos com isso emocionalmente”, diz J-Hope. “E é por isso que, quando a música é lançada, nós a ouvimos e também recebemos consolo dessas músicas. Acho que nossos fãs também sentem essas emoções, talvez até mais do que nós. E acho que somos uma influência positiva uns sobre os outros”.


Se há algo que eles estão sacrificando, além do tempo livre e a capacidade de falar livremente sem que o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgue uma declaração oficial, são os relacionamentos amorosos. Eu pergunto sobre namoro, perguntas amplas como "Vocês estão?" e “Há tempo para isso?” e "Vocês podem?" e a resposta a todas elas é bastante clara: “Não.” “A coisa mais importante para nós agora é dormir”, insiste Jung Kook. Suga continua com "Você pode ver minhas olheiras?" Não posso porque não há nenhuma, porque a pele perfeita se mostra até mesmo através do Zoom e com um oceano entre nós.



Então, eles não estão, pelo menos publicamente, tendo relacionamentos românticos com ninguém. Se existe um relacionamento forte que guiou sua jornada até a idade adulta é com a Big Hit. “Nossa empresa começou com vinte a trinta pessoas, mas agora temos uma empresa com muitos funcionários”, diz RM. “Temos nossos fãs e nossa música. Portanto, temos muitas coisas pelas quais devemos ser responsáveis, para salvaguardar.” Ele pensa por um momento. "Acho que é isso que um adulto é."


“Nossa vida amorosa - vinte e quatro horas, sete dias por semana - é com todos os ARMYs de todo o mundo”, acrescenta RM.


Em um mundo que está determinado a reprimir qualquer coisa que não seja imediatamente reconhecível como o fã comum de música pop, quando se trata de familiarizá-lo com a cultura coreana, o BTS não quer muito segurar sua mão. Enquanto a primeira música na primeira noite de sua semana no Tonight Show foi uma alegre, mas esperada versão de “Dynamite” com Fallon e os Roots, eles arriscaram durante sua segunda apresentação.


Como uma amiga minha, uma fã do BTS de 33 anos de Los Angeles, me disse: “A segunda música que eles tocaram foi IDOL”, de Love Yourself: Answer, de 2018, “e celebraram sua identidade coreana. Eles se apresentaram no Palácio Gyeongbokgung em Seul. Eles usavam roupas inspiradas em vestes tradicionais chamadas hanboks; era quase inteiramente em coreano, então parecia super subversivo. Como fã, eu leio como: ‘Dynamite’ foi um convite, mas isso é quem somos e esta é a nossa casa.”


“Eu estava um pouco preocupado que as pessoas não entendessem”, diz Fallon. “Eu estava tipo, ‘Não há nada em inglês aqui’. Mas o que você vê é apenas o puro poder das estrelas. Talento puro. Imediatamente pensei: Uau, isso é tudo. Se você é tão poderoso assim, isso transcende a linguagem.”


A música popular americana no século XXI está mais fragmentada do que desde... bem, uma vez que Allan Sherman, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim e a Singing Nun lutaram pelo primeiro lugar. A monocultura que os Beatles ajudaram a trazer deu seu último suspiro. Cada um de nós é o diretor do programa de nossa estação de rádio privada,

deixando nossos próprios hábitos passados ​​e algoritmos de serviço de streaming servirem algo próximo do que queremos ouvir. O que é ótimo, exceto que grandes atos podem passar direto por nossos ouvidos. Cada um de nós, mesmo que sejamos mais informados do que nossos pais eram quando tinham a nossa idade, podemos perder algumas coisas excelentes que definem uma era. Principalmente se o rádio for nosso Spotify Discover Weekly ou o canal Pandora baseado na banda cujas camisetas usamos na faculdade. Podemos deixar passar um momento se o horário nobre for uma farra da Netflix e a hora do Tonight Show for gasta em mais um episódio antes de dormir. Mas não devemos. “Honestamente, acho que é uma história que vivemos com o BTS”, diz Fallon. “É a maior banda que vi desde que comecei, definitivamente.”



 

Há também o pequeno detalhe de que, diferentemente dos Beatles e literalmente de todas as outras sensações mundiais que estouram na América, o BTS não precisa se dar ao trabalho. Eles são enormes em todo o mundo. Graças ao recente IPO da Big Hit Entertainment, da qual cada membro é um parceiro, eles estão incrivelmente ricos. (Hitman Bang é o primeiro magnata do entretenimento sul-coreano a se tornar um bilionário.) De que adianta uma cultura em declínio para um ato pop tão em ascensão? “Quando sonhava em me tornar uma artista, ouvia pop e assistia a todos os shows de premiação dos Estados Unidos. Ter sucesso e ser um sucesso nos EUA é, claro, uma grande honra como artista”, diz Suga. “Sinto-me muito orgulhoso disso.”



Eles estão ascendendo em um país que os adora ou deixa de notá-los. Então, eles acham que estão recebendo respeito suficiente na América? “Como podemos conquistar o respeito de todos?” Jin pergunta. “Acho que é suficiente obter o respeito das pessoas que nos apoiam. É semelhante em qualquer outro lugar do mundo. Você não pode gostar de todos e acho que é o suficiente ser respeitado por pessoas que realmente amam você.”


Suga concorda. “Você nem sempre pode estar confortável e acho que faz parte da vida. Honestamente, não estamos acostumados a receber muito respeito desde quando começamos. Mas acho que isso muda gradualmente, seja nos Estados Unidos ou em outras partes do mundo, à medida que fazemos mais e mais”.


Há, sem dúvida, um sinal colossal e inconfundível de respeito por um músico: um Grammy. Eles foram indicados apenas uma vez e, mesmo assim, foi para o melhor embalagem de álbum. Mas seus olhos estão voltados para um grande no próximo ano. RM expõe: “Gostaríamos de ser indicados e possivelmente receber um prêmio”. Arrastar os antigos Grammys voltados para o passado e com foco no Ocidente para o maravilhoso mundo global do presente por meio de pura força de vontade, talento e trabalho árduo? Coisas estranhas têm acontecido. “Acho que o Grammy é a última parte, como a parte final de toda a jornada americana”, diz ele com um sorriso. "Então, sim, veremos."


O selo de aprovação da Recording Academy é uma coisa. Mas BTS já conquistou o mundo, tiranos palhaços, inspirou fãs a realizarem pequenos e realizáveis ​​atos de ativismo que coletivamente começaram a salvar o planeta, desafiou a masculinidade tóxica liderando com vulnerabilidade e, ao longo do caminho, tornaram-se bajilionários e ídolos internacionais. Se os Grammys estão prestando atenção, importa tanto quanto o que um membro da audiência de Ed Sullivan esperava ver naquela noite de 1964. O BTS já ganhou.

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