top of page
Writer's pictureefeitobts

MAP OF THE SOUL & BTS: A jornada continua

Como prometido, hoje daremos continuidade à análise de Map of the Soul & BTS e as relações que vem sendo, assim, construídas.


Na publicação anterior, descobrimos que “Map of the Soul” é, na verdade, um livro publicado pelo Dr. Murray Stein tratando sobre alguns dos principais conceitos e ideias desenvolvidos por um dos maiores teóricos da área da Psicologia: Carl Jung. Além disso, passamos por uma breve mas detalhada análise do álbum “Map of the Soul: Persona” (2019), o primeiro desta série atual. Recomendamos que, caso você ainda não tenha lido essa primeira parte, você volte e leia para que possamos seguir em frente sem perder a nossa linha de raciocínio, beleza? Basta clicar nesse link:


Bom, para darmos sequência nesse estudo, hoje vamos voltar a nossa atenção completamente para “Map of the Soul: 7” (2020). Esse álbum traz, antes de mais nada, uma diversidade musical tão significativa e uma multiplicidade tão fantástica de mensagens que chega a ser difícil descrevê-lo. Mas uma coisa é certa: “Map of the Soul: 7” é a continuação de uma jornada ainda mais profunda pela psique humana.


Capa do álbum "Map of the Soul: 7"


No entanto, antes de saltarmos para a análise das músicas e dos conceitos ali presentes, precisamos falar sobre o número 7. S E T E. Caracterizado como simbólico, místico e até mesmo sagrado em uma pluralidade de sistemas. O Cristianismo, por exemplo, o considera o número sagrado da perfeição. Outros o consideram um número da sorte. Pode-se dizer ainda que é composto por 3 + 4, números que compõem a figura do triângulo e do quadrado, importantes para os estudos do Alquimia. Ou ainda é fácil perceber que temos sete dias na semana. Muitos exemplos podem vir à mente, não é mesmo?


Soma-se a isso o fato de que 7 é um número repleto de significados para os nossos meninos. BTS possui 7 componentes. BTS existe há 7 anos. Além disso, perceba que 7 é um número primo, ou seja, é divisível apenas por 1 ou por ele mesmo. Assim, este número também expressa muito bem a configuração do grupo: são sete homens com personalidades diversas, mas todos se unem em torno de um só propósito (como a metáfora do navio, bastante utilizada por Namjoon para explicar a dinâmica do grupo).


Seguindo em frente, vamos às músicas. Todavia, as cinco primeiras faixas deste álbum (“Intro: Persona”, “Boy With Luv”, “Make It Right”, “Jamais Vu” e “Dionysus”) já estavam presentes em “Map of the Soul: Persona”. Assim, não vamos nos ater a elas, tendo em vista que já foram exploradas na análise anterior. Vamos, então, retomar e continuar essa caminhada a partir delas, construindo as relações necessárias, ok?


“Map of the Soul: Persona”, de maneira geral, se apoiou sobre o conceito da PERSONA sob a perspectiva de Carl Jung. Para compreendermos aonde estamos nessa série, se imagine, por exemplo, diante de um oceano e você está prestes a mergulhar nele a fim de conhecê-lo melhor e explorá-lo. Logo na superfície, a primeira coisa com que teríamos contato seria justamente a persona, bem como os complexos e a compreensão inicial de que somos compostos também por um mundo interior. Porém, o álbum foi encerrado com a faixa “Dionysus”, o que diz muito sobre o que estava prestes a vir em nossa direção.


Você se lembra de quando escrevemos “Não podemos ser completamente Apolos. Não podemos ignorar o nosso lado dionisíaco”? Pois bem, a partir da percepção desse “outro lado” que também faz parte do que somos, BTS e nós passamos a nos voltar a uma outra e ainda mais profunda estrutura da psique humana: a SOMBRA.


Antes de darmos sequência nas músicas, devemos parar um pouco para compreendermos bem do que se trata a sombra e a relação dela, por exemplo, com a persona. Isso será fundamental para o nosso entendimento acerca de músicas como “Interlude: Shadow” e “Black Swan”.


Observe esses pequenos trechos retirados do livro do Dr. Stein:


. “A sombra, um complexo funcional complementar, é uma espécie de contra-pessoa. A sombra pode ser pensada como uma subpersonalidade que quer o que a persona não permitirá.” (STEIN, 2006, p. 101)


. “O conteúdo e as qualidades específicas que contribuem para a formação dessa estrutura interna são selecionados pelo processo de desenvolvimento do ego. O que a consciência do ego rejeita torna-se sombra.” (STEIN, 2006, p. 100)


. “A personalidade da sombra não está visível e só aparece em ocasiões especiais. O mundo ignora, em maior ou menor grau, a existência dessa pessoa. A persona está muito mais em evidência.” (STEIN, 2006, p. 100)


. “De uma modo geral, a sombra possui uma qualidade imoral ou, pelo menos, pouco recomendável, contendo características da natureza de uma pessoa que são contrárias aos costumes e convenções morais da sociedade.” (STEIN, 2006, p. 98)


. “O que o ego quer na sombra, entretanto, não é necessariamente mau em si […]” (STEIN, 2006, p. 99)


. “[…] o encontro com a sombra também tem um efeito transformativo […]” (STEIN, 2006, p. 101)


Em resumo, a sombra pertence ao nosso inconsciente pessoal. Sombra e persona são, assim, dois opostos. Enquanto a persona é expressa nos diversos papéis de adaptação ao mundo social no nosso cotidiano, a sombra é composta por aquilo que queremos manter no escuro, escondido de tudo e todos — inclusive de nós mesmos.


Bom, agora podemos seguir um pouco mais em frente. Assim, a faixa seguinte em “Map of the Soul: 7” é “Interlude: Shadow”. O título não poderia ser mais explícito, não é mesmo? Yoongi inicia a música afirmando uma série de desejos.“Eu quero ser uma estrela do rap, eu quero estar no topo”. Mas dali em diante, ele passa a afirmar e tornar conscientes medos, ansiedades e, talvez, até partes dele das quais ele não tenha muito orgulho ou se envergonhe. Olhar para nós mesmos sob a lente da sombra não é uma experiência prazerosa e reconhecê-la nos leva a enfrentar dilemas morais que nem imaginávamos. A sombra é a parte escondida e inconsciente do ego, mas, nessa canção, Yoongi externalizou a sua em palavras e melodias inigualáveis.


“Mesmo se eu fujo, está me seguindo

Minha sombra se torna mais escura à medida em que minha luz se torna mais brilhante”


MV de "Interlude: Shadow"


Ainda assim, caminhando para o fim da letra de “Interlude: Shadow”, Yoongi reconhece algo essencial e ele transpôs isso à letra como se fosse a sua própria sombra conversando com ele. Ele diz:


“Você sou eu e eu sou você, você entende agora, certo?

Somos um só corpo e, às vezes, vamos nos encontrar

Você nunca conseguirá me tirar de você, você entende, certo?”


Não podemos nos livrar da sombra porque ela é parte fundamental do todo que somos. Negá-la nos leva cada vez mais longe daquilo que somos e podemos ser e nos abandona à incompletude. Assim, uma vez mais vale a pena dizer: não podemos ser completamente Apolos, não podemos ocultar o nosso lado dionisíaco. É tempo de começarmos a explorar as nossas sombras, nos tornarmos conscientes delas e, desse modo, começaremos a integrá-las à nossa personalidade de forma saudável e equilibrada.


Ah! Por favor, não deixe de assistir o MV de “Interlude: Shadow”. Os cenários, as expressões, a composição de cores… Às vezes, as imagens expressam até mais do que as palavras.


MV de "Interlude: Shadow"


Em seguida, chegamos a “Black Swan”. Essa faixa logo chama a atenção em meio ao álbum porque tem o mesmo nome de uma teoria brilhante e de um filme maravilhoso — surgem até mesmo algumas referências a ele no MV. “Black Swan” é uma música belíssima e, nela, a sombra definitivamente toma conta da cena. É uma espécie de confissão do BTS enfrentando a sombra que vinha escondendo como artista.


“Como se eu estivesse enfeitiçado, eu lentamente afundo

Apesar de eu tentar lutar, eu estou no fundo do mar”


“Eu salto dentro disso

No ponto mais profundo

Eu vi a mim mesmo”


A letra, o MV e o Art Film de “Black Swan” mostram um BTS atravessando um momento doloroso e incerto mas, ao mesmo tempo, com uma postura muito madura e auto-reflexiva. Por isso, mesmo em meio ao caos da sombra, podemos observar um certo renascimento. Em meio ao nosso desenvolvimento psicológico, vamos atravessar incontáveis transições e transformações. A morte de uma velha identidade que já não nos serve é como uma cobra trocando a sua pele. Dessa forma, essa música, bem como “Map of the Soul: 7” por completo, é o início de um processo de renascimento, redescobrimento e reinvenção pessoal para o BTS a partir do contato com o seu inconsciente. Estamos falando sobre estágios de desenvolvimento e eu e você também somos convidados a descobrirmos os nossos.


MV de "Black Swan"


Na sequência, temos “Filter” e essa é uma música que, sem dúvida alguma, gruda na cabeça de qualquer um! No entanto, para além do ritmo dançante e dos vocais sedutores, Jimin está falando sobre algo bastante importante. Exatamente: filtros.


É provável que, ao ver essa palavra, você pense diretamente nos filtros do Instagram ou do Snapchat e você está no caminho certo. Dr. Stein, em um dos episódios do podcast “Speaking of Jung”, diz que, na sua interpretação, “Filter” poderia ter dois sentidos próximos. Primeiramente, é uma afirmação com um sentido de “Nós, enquanto artistas, podemos entreter você com nossos filtros” e, de fato, eles podem. Ninguém melhor que o BTS para explorar as incontáveis faces das artes e do entretenimento nesse instante. Porém, Dr. Stein ressalta que Jimin também pode estar cantando sobre a questão da "interpretação". O próprio Jung, por exemplo, foi, muitas vezes, mal interpretado. Para expressar melhor a ideia que estamos querendo trazer, dê uma olhada nesse trecho de um outro livro organizado por Carl Jung, chamado “O Homem e seus Símbolos”:


“Cada um de nós recebe noções gerais ou abstratas no contexto particular de nossa mente e, portanto, entende e aplica tais noções também de maneira particular e individual. Quando, numa conversa, uso palavras como ‘Estado’, ‘dinheiro’, ‘saúde’ ou ‘sociedade’, parto do pressuposto de que os que me escutam dão a esses termos mais ou menos a mesma significação que eu. Mas a expressão ‘mais ou menos’ é o que importa aqui. Cada palavra tem um sentido ligeiramente diferente para cada pessoa […]” (JUNG, 2016, p. 47)


Isso se aplica não apenas às nossas palavras, mas também às nossas ações, traços da nossa personalidade e muitos outros fatores. Às vezes, queremos expressar algo mas não conseguimos saber, de fato, como isso será interpretado pelas pessoas à nossa volta. Todos filtram tudo, essa é a verdade, e isso não está sob o nosso controle. Por isso, a reflexão a respeito disso pode nos ajudar muito, por exemplo, quando estamos buscando integrar a nossa sombra e a nossa persona.


“Na na na na na na na na na

Escolha o seu filtro, tente salvar apenas eu

Na na na na na na na na na

Eu sou o seu filtro, tente confiar você mesmo a mim”


Performance de "Filter" durante o concerto MAP OF THE SOUL ON:E


Ok, continuando. Chegamos a “My Time”, a faixa solo de Jungkook. Essa música vem trazer o elemento do tempo e fala sobre as diversas percepções de temporalidade do ego através de experiências pessoais do vocalista. Dr. Stein, por meio do podcast, também salientou que, na adolescência, é comum que tenhamos a sensação de imortalidade. O desejo de viver loucamente e de ser jovem para sempre. Entretanto, ao atingirmos uma determinada idade por volta da casa dos 20 anos, começamos a perceber que as nossas escolhas são significativas e trazem consequências. Começamos a perceber diferentes realidades da passagem do tempo. Assim, “My Time” é a expressão perfeita desse ‘cair em si’.


“Mas, talvez, eu tenha ido muito rápido, há rastros do que eu perdi

Não sei o que fazer com isso

Eu estou vivendo isso de forma certa?

Por que eu sou o único num espaço-tempo diferente?”


Performance de "My Time" durante o concerto MAP OF THE SOUL ON: E


“Louder than bombs” é a música seguinte e, uau, que melodia e letra profundas! A faixa traz temas como sofrimento, dor, tristeza, medo como universais. Dr. Stein interpretou essa música como se o BTS estivesse observando suas próprias dores e problemas mas, ao mesmo tempo, dando um passo para trás e observando abstratamente as dores e problemas enfrentadas por tantos ao redor do mundo. Porém e para além disso, Stein afirmou que vê essa canção também como uma declaração de empatia e esperança. Não vamos desistir, vamos continuar em frente mesmo em meio a circunstâncias difíceis — sejam em nossas jornadas internas ou externas.


“Você e eu, nós todos sentimos isso juntos

Tristeza e dor

Eles nunca são uma coincidência

Nós escolhemos esse jogo

Mais alto do que as bombas eu digo”


(Infelizmente ainda não temos uma performance de "Louder Than Bombs")


Em seguida, temos a title track, “ON”. Como diria Kim Taehyung, meus amigos, “it’s massive”. Realmente é. Por isso, nessa análise de hoje, vamos nos ater mais à mensagem da música em relação à letra e, entre outras publicações aqui, retomaremos com mais intencionalidade o MV e outros aspectos - que podem ser fundamentais para possíveis próximos passos do BTS dentro da série “Map of the Soul”.


Bom, Jung disse, certa vez, “Me mostre uma pessoa sã e eu a curarei para você” e a letra de ON vem nos dizer“Para ficar são, é necessário ficar insano”. O que ambos têm em comum? O que estão querendo dizer? Dr. Stein nos explica que a sanidade é considerada uma alta qualidade e virtude, porém a sanidade, por ela mesma, não é suficiente. Falta imaginação. Falta profundidade. É claro, precisamos dela, mas ela não satisfaz a psique humana nem de perto. É paradoxal, sim, mas é real.


Em termos bem jungianos, o que Jung e a letra de “ON” estão nos dizendo é que precisamos incluir o inconsciente a fim de alcançarmos a integridade do que somos. O que é consciente e racional é parte do que somos, mas não é tudo o que somos.


“Eu me lancei por completo dentro desse mundo de dois lados”


Por fim, cabe dizer que “ON” é ainda uma música de resiliência. Uma música de força. Um respirar no meio da caminhada para que seja possível levantar e seguir por essa eterna jornada. Continue seguindo em frente. Continue se movendo. Junte energia e volte para a jornada.


“Chuva vai estar caindo

Os céus vão estar desabando

Todo dia, oh na na na

Traga, traga a dor, oh yeah”


“Onde minha dor se assenta

Me deixe respirar”


“Você não pode me segurar para baixo porque sabe que eu sou um lutador”


"ON" Kinetic Manifesto Film


A 12ª faixa é “UGH!”, essa masterpiece da nossa rap line. Antes de mais nada, o título coreano (욱) é pronunciado como “wook”. Vem de uma outra palavra, 욱하다, que significa algo como perder a paciência por causa de alguma coisa ou alguém que te fez explodir de raiva repentinamente. Esse termo faz muito sentido também com o título em inglês, UGH, que seria o som que fazemos quando estamos bravos ou frustrados.


Sobre os significados por trás de “UGH!”, Dr. Stein ressalta que a música tem uma mensagem forte diante de um mundo quebrado e hipócrita. Pessoas que se escondem por trás de máscaras e um mundo dominado por ira, antipatia, inveja, violência e intolerância. E o que cabe a nós buscarmos fazer em meio a tudo isso? Devemos buscar resiliência e não perder o foco em meio à jornada.


“Até a verdade se torna mentira

Até a mentira se torna verdade

Nesse lugar, todo mundo se torna alguém com um pensamento e julgamento de moral perfeita

Que engraçado”


“É como se ninguém conseguisse viver sem raiva

Eles ficam com raiva, raiva e raiva”


Performance de "UGH!" durante o concerto MAP OF THE SOUL ON:E


Na sequência, a faixa da vocal line, “00:00 (Zero O’Clock)”, tem tons bem diferentes da anterior. Essa é, verdadeiramente, uma música de esperança. Tem uma letra tão simples e sincera e, ao mesmo tempo, tão real. Todos nós temos dias em que enfrentamos exatamente a sensação ali descrita e é por isso que “00:00” é capaz de tocar os nossos corações e trazer tanto conforto.


A faixa também acaba passando pela questão de como percebemos o tempo. A realidade do tempo e as nossas relações com a temporalidade. O tempo passa e não podemos recapturá-lo, mas, com esse olhar de esperança, existe um momento — 00:00 — em que tudo para e pode ser resetado. Um tempo em que podemos começar novamente. Esse tempo é o amanhã. Assim, “00:00 (Zero O’Clock)” expressa a esperança de que dias melhores virão e isso pode nos trazer conforto e um fôlego a mais para prosseguirmos na nossa jornada.


“Quando os ponteiros se encontram

O mundo segura seu fôlego por um breve momento

Zero horas

E você vai ser feliz

[…] Vire tudo isso para lá

Um tempo onde tudo é novo

Zero horas”


Performance de "Zero O'Clock" durante o concerto MAP OF THE SOUL ON:E


“Inner Child”, a música seguinte, é a faixa solo de Taehyung. Antes de tecer alguns comentários sobre a letra, dê uma olhada nesse trecho da descrição da música no Spotify: “V dedica esse solo ao menino que esteve batalhando para se tornar a pessoa que ele é hoje. O menino assustado continuará a viver dentro dele para sempre, mas V estende uma mão de conforto, sabendo que as cicatrizes se tornaram agora um emblema de felicidade […]”.


“Inner Child” nitidamente se refere a esse eu do passado e às memórias e sensações de quando ele era apenas um garoto. Todavia, sob a psicologia jungiana, essa criança interior também pode representar um arquétipo. Arquétipo? Que raios é isso? A gente te explica! Arquétipos, segundo Jung, são conjuntos de imagens primitivas que vem de uma sucessão de repetições de uma mesma experiência durante muitas gerações na humanidade e que ficaram, assim, armazenadas no inconsciente. A partir e por causa disso, Dr. Stein pontuou que essa criança interior que temos é bastante sensível mas, ao mesmo tempo, tem um tremendo potencial. Assim, falar sobre essa “Inner Child” é falar sobre a nossa futuridade e o nosso potencial de desenvolvimento. Essa faixa realmente conecta passado, presente e futuro.


“Porque as luzes que brilharam em seus olhos

São o eu de agora

Você é o meu garoto, meu garoto”


Performance de "Inner Child" durante o concerto MAP OF THE SOUL ON:E


Em seguida, temos “Friends”. Ah, “Friends”… Essa subunit da 95’ Line é um presente para nós e para eles próprios através da sua história. O título não poderia ser mais evidente. Essa faixa é uma afirmação e também uma celebração da amizade entre Jimin e Taehyung. A princípio, podemos até nos questionar o porquê de uma música como essa estar nessa posição do álbum. Porém, ao olharmos para a letra, tudo se esclarece. Eles cantam:


“Quando os aplausos acabarem, hey

Fique comigo ao meu lado”


Em meio às jornadas em que embarcamos ao longo da vida, sejam internas ou externas, por mais que às vezes pareça que conseguimos fazer tudo sozinhos, a verdade é que não conseguimos. Dr. Stein escreveu em “Map of the Soul” que “todos precisamos de outras pessoas para sobreviver física e psicologicamente” (STEIN, 2006, p. 107). Precisamos de outros para compartilhar a eterna jornada e torná-la mais leve. E quem melhor para isso do que um amigo? Jimin e Taehyung já passaram por muita coisa e é por isso que essa música significa tanto. Mesmo em meio a mudanças ou a diferentes circunstâncias da vida, fique comigo.


“Sete verões e invernos frios

E há mais por vir

Muitas promessas e memórias

E há mais por vir”


Performance de "Friends" durante a Bang Bang Con: The Live


Continuando. Se você acompanha o BTS e nunca se emocionou ao ouvir “Moon”, uau, você é realmente forte. Essa música foi composta para o ARMY e essa letra, somada à voz do Seokjin, é capaz de desestruturar qualquer um. Ele canta se auto representando como a Lua e representando o ARMY como a Terra. No entanto, perceba que o fato de ele ter escolhido a Lua como personagem principal dessa faixa é muito interessante. Dr. Stein pontuou que Seokjin poderia, por exemplo, estar cantando sobre o Sol, mas ele é diferente. O Sol é fixo e representa uma característica consciente. Já a Lua é o que dá luz à escuridão, porém é também mutável e passa por diferentes fases. Por isso, muitas vezes, a Lua, sob a psicologia jungiana, simboliza o inconsciente pessoal — a nossa imaginação, nossas reações emocionais, nossa memória afetiva e outros fatores. Além disso, a Lua também carrega tons um pouco mais românticos, não é mesmo? Assim, “Moon” é uma canção de amor para o ARMY e um passeio por uma parte do inconsciente pessoal do Seokjin.


“Eu vou orbitar em torno de você

Eu vou ficar ao seu lado

Eu serei a sua luz

Tudo por você”


Performance de "Moon" durante o concerto MAP OF THE SOUL ON:E


“Respect”, a faixa seguinte, é uma música e tanto, a subunit perfeita entre Namjoon e Yoongi. Até certo ponto, sim, eles estão cantando sobre respeito, sendo esse uma alta virtude humana, até mesmo mais alta do que a admiração e, talvez, até mesmo do que o amor. Observe esses versos:


“Certamente pertence a uma camada mais alta que o amor

Uma camada mais alta, talvez a mais alta

Um conceito que pertence a isso

Não é isso o respeito?”


Respeito é essencial, sobretudo quando passamos a compreender mais a fundo a jornada em que estamos e que outros também podem estar. É aquela famosa frase: Nunca sabemos o que o outro está enfrentando. Assim, respeito desperta sensibilidade. Entretanto, como dissemos em uma publicação anterior, quando se trata do BTS, precisamos olhar duas vezes antes de tirar qualquer conclusão.


Nessa faixa, Namjoon e Yoongi estão também brincando com a palavra do título. Perceba que RESPECT pode ser uma junção do prefixo em inglês RE (que significa ‘de novo’) + SPECT (que, em inglês, tem um sentido de observar, olhar ou assistir algo). Assim, “Respect” vem nos falar sobre olharmos novamente para algo, talvez sob novas perspectivas — o que também não deixa de estar ligado à palavra original, “respeito”. Muitas vezes, precisamos olhar mais de uma vez para algo ou alguém para compreendê-lo melhor e respeitá-lo. Esse significado duplo fica muito claro nesse verso: “Re-speito, como a própria palavra, é olhar novamente e novamente”.


Performance de "Respect" durante a Bang Bang Con: The Live


A penúltima faixa de “Map of the Soul: 7” é a insuperável “We Are Bulletproof: The Eternal”. Essa música vai a fundo nas memórias, no passado e na trajetória do BTS e do ARMY até aqui. Eles estão afirmando que BTS e ARMY são um e não vão cair. Para entender do que estamos falando, caso você ainda não tenha assistido, recomendamos que você assista à animação produzida como MV para essa música, liberada em junho em meio ao BTS FESTA, período comemorativo a mais um ano completado pelo grupo desde seu debut:



É relevante também ressaltar a importância do título “WAB: The Eternal”. Sabemos que, no passado, BTS já havia lançado duas músicas de mesmo nome: “We Are Bulletproof: Pt. 1”, antes mesmo de debutarem e terem essa formação atual, e “We Are Bulletproof: Pt. 2” (2013) em seu primeiro álbum. Mas ficamos pensando: Por que agora eles colocariam “The Eternal”? Por que não “Pt. 3” ou algo do tipo?


‘Eternal’ (Eterno) é uma palavra forte, pois traz a ideia de superar a temporalidade e foi exatamente por meio desse ponto que podemos entender o porquê desse título. BTS, como grupo ou cada um dos meninos individualmente, devido à sua carreira e a essa unidade com o ARMY, tem atingido um patamar e um caminho que supera o tempo. Eles têm, de fato, marcado seus nomes na história e também nos corações de milhões de pessoas ao redor do planeta. Por isso, “WAB: The Eternal” descreve perfeitamente passado, presente e futuro e como BTS e ARMY, como um, tem se eternizado em todos estes em meio à jornada. Você já se imaginou lá pelos 70 anos, se sentando em sua cama e trazendo à tona lembranças de tudo o que temos vivido e aprendido através desses 7? Sinceramente, eu pretendo contar sobre o movimento de BTS & ARMY para os meus netos. Assim, não há dúvidas que as próximas gerações saberão o que o BTS trouxe ao mundo.


“Nós éramos apenas sete

Mas temos todos vocês agora

Depois de sete invernos e primaveras

Nas pontas dos nossos dedos entrelaçados

Chegamos ao céu”


Performance de "WAB: The Eternal" durante o concerto MAP OF THE SOUL ON:E


Finalmente chegamos ao nosso ponto final de hoje — “Outro: EGO”. Você se lembra de como tínhamos finalizado o álbum anterior, “Map of the Soul: Persona”? Exatamente, encerramos com “Dionysus”, celebrando a recepção de um outro lado da psique — no caso, a sombra. Em “Map of the Soul: 7”, também finalizaremos falando sobre mais uma estrutura da personalidade humana: passamos por Persona, Sombra e agora BTS traz o EGO para o centro das atenções.


Esse solo precioso do Hobi é uma afirmação do ego e uma celebração de onde chegamos em desenvolvimento até esse ponto da jornada. Mas, antes de falar mais sobre essa música, gostaríamos de traçar alguns pontos a partir do livro do Dr. Stein para que possamos entender de forma básica o que é o ego segundo Jung. Veja esses trechos:


. “ ‘Ego’ é um termo técnico cuja origem é a palavra latina que significa ‘eu’. Consciência é a percepção dos nossos próprios sentimentos e, no seu centro, existe um ‘eu’.” (STEIN, 2006, p. 21)


. “O ego é um ‘sujeito’ a quem os conteúdos psíquicos são apresentados. É como um espelho. Além disso, a ligação com o ego é a condição necessária para tornar qualquer coisa consciente — um sentimento, um pensamento, uma percepção ou uma fantasia. O ego é uma espécie de espelho no qual a psique pode ver-se a si mesma e pode tornar-se consciente.” (STEIN, 2006, p. 23)


. “[…] o ego forma o centro crítico da consciência e, de fato, determina em grande medida que conteúdos permanecem no domínio da consciência e quais se retiram” (STEIN, 2006, p. 25)


Resumindo, o ego ou o “eu” é um termo usado por Jung para representar o centro da consciência — perceba que ego e consciência não são essencialmente a mesma coisa, porém é por meio do ego que os conteúdos inconscientes podem tornar-se conscientes. Assim, o ego é o que um indivíduo conscientemente compreende a respeito de si e é essa capacidade de realizar um alto nível de conhecimento de si mesmo e de compreensão das razões para o seu próprio comportamento, ou seja, um ego auto-reflexivo que difere a nossa consciência da consciência animal, por exemplo - e é fundamental para a nossa jornada interna.


“Qualquer que seja o meu caminho

Apenas ego, ego, ego/eu, eu, eu

Apenas confio em mim mesmo”


MV de "OUTRO: Ego"


BTS sabe que ainda há muito pela frente, mas o solo do Hobi traz essa celebração pelo que já foi alcançado e experienciado. Começaram essa jornada pela PERSONA, passaram pela SOMBRA e, pela experiência de integração desses opostos, o EGO se fortalece e se desenvolve. Veja essas palavras do Dr. Stein sobre a importância da integração e de tornarmos conscientes os mais variados aspectos da nossa psique:


"Uma vez que a tarefa global do desenvolvimento psicológico (ou ‘individuação’) é a integração, e a totalidade é o valor supremo, precisamos perguntar aqui, de um modo preliminar, pelo menos: O que significa integrar persona e sombra? No contexto do tópico deste capítulo, a integração depende da aceitação pela pessoa de si mesmo […]. Um conflito entre opostos — persona e sombra, por exemplo — pode ser considerado como uma crise de individuação, uma oportunidade para crescer através da integração.” (STEIN, 2006, p. 112–113)


Finalmente encerrando, a nossa conclusão é que “Map of the Soul: 7” é uma intensa viagem pelo inconsciente pessoal do BTS. Por meio dela, eles se apresentaram diante do mundo e deles próprios de uma forma nova e diferente, verdadeiramente sincera, profunda e madura. Para muito além disso, eles apresentaram a cada um de nós um impulso, uma inspiração e uma oportunidade para que nós também exploremos as nossas personas, sombras e egos.


No entanto, esses três são apenas os elementos iniciais dessa eterna jornada interior. Será que eles irão mais fundo? Bom, um detalhe final aqui pode ser interessante para observarmos: a presença da faixa “ON” em colaboração com a cantora Sia na versão digital do álbum. Se pergunte por um momento: por que eles colocariam essa música nessa posição, finalizando o álbum? Por que não após a versão original de "ON"? Logo essa versão com a presença de uma voz feminina? Isso pode dizer muito sobre para onde o BTS, futuramente, poderá caminhar na série “Map of the Soul”. Então, guarde esse detalhe!


Por hoje, encerraremos por aqui. Porém, em breve, retornaremos trazendo um olhar sobre o álbum "Map of the Soul: 7 ~ The Journey". Até logo!

418 views0 comments

Commentaires


Post: Blog2_Post
bottom of page