*Tradução livre a partir de entrevista original publicada em 30 de julho de 2021. Caso deseje visualizá-la, acesse: https://magazine.weverse.io/article/view?lang=en&num=213
RM: “Eu espero estar no caminho para algum lugar”
[Entrevista do lançamento
do álbum de "Butter"]
Existem duas engrenagens na sua vida, nas quais RM muda de uma para outra: quando ele tem que ganhar velocidade como o líder de um grupo de sucesso mundial e quando ele toma o seu caminho de volta para casa e lentamente abre o catálogo de algum artista. Vamos dar uma olhada no que reside entre esses dois, na jornada do jovem artista em busca de sua própria tela.
Você ainda malha? A sua estatura parece muito diferente.
RM: Já faz cerca de... Um ano? Desde que eu comecei a me exercitar quatro vezes por semana sem falhar. É como um meu colete salva-vidas para mim. (risos) Já que, se você se exercita, o seu corpo melhora gradualmente, eu gosto de sentir que estou fazendo algo e melhorando. Se você olhar para outras pessoas postando sobre o seu progresso, você pode ver os seus corpos mudando dramaticamente, mas eu não sou muito rigoroso com a minha dieta, então não é assim para mim. (risos) Ainda assim, eu posso sentir a minha forma mudando pouco a pouco.
Eu vi no vídeo “ARMY Corner Store”, publicado no YouTube para a celebração do FESTA 2021 do oitavo aniversário do grupo, que a sua vida está focada em fazer o seu trabalho e fazer aparições nos dias de hoje. Seguir essa rotina repetitiva levou a alguma mudança na sua vida?
RM: A minha rotina diária se tornou muito bem definida. Agora que já faz exatamente um ano desde que eu comecei a fazer isso, desde meados do ano passado, eu meio que penso: Então é assim que as pessoas vivem? Eu tenho que ir trabalhar e voltar para casa, então há coisas que preciso fazer lá e coisas que preciso conseguir acompanhar, como os meus exercícios físicos ou visitar exposições. Então, eu penso que a minha própria natureza mudou muito ao longo de um ano, mas não sei se isso é bom para mim como criador.
Por que?
RM: Aconteceram tantas coisas com o BTS, mas, com a situação atual, às vezes parecia que elas eram apenas coisas acontecendo no meu celular. Quando estou ouvindo outras músicas ou assistindo alguma coisa, às vezes, eu imagino como eu teria os feito, mas a minha vida é o que é agora, então eu posso apenas tomar como recurso e inspiração coisas da minha própria vida.
Nesse caso, qual foi a sensação em manter a energia para a sua performance no Grammy e para tudo relacionado a “Butter”?
RM: Eu fiquei muito feliz por termos adicionado mais uma coisa à nossa lista de realizações. Acho que a nossa equipe realmente precisava do trabalho em si. Isso me fez perceber que ainda temos coisas a conquistar. E eu quero agradecer ao ARMY, acima de todos os outros, por tornar tudo isso possível. Eu sou coreano, então não sou um estranho quando se trata de encontrar alegria em realizações. (risos) Foi muito satisfatório, foi bom. Teria sido melhor se tivéssemos ganhado um Grammy, mas e daí se não ganhamos? No final das contas, ganhá-lo significa que você tem mais um troféu em casa e, depois disso, a sua rotina diária volta a se repetir.
Como foi a experiência de escrever parte da letra de “Butter”? A sua parte, junto ao SUGA, funciona para aumentar a energia da segunda metade da música, mas eu também acho que atinge um equilíbrio para melhorar a música como um todo. O seu breve rap parece uma fusão do pop americano com o estilo distinto do BTS.
RM: Essa foi a parte em que gastei mais tempo. Mesmo que a música fosse em inglês, eu achei que devíamos trazer a sensação de que nós a tornamos nossa, então mantivemos a original, mas colocamos um pouco do nosso próprio sabor no final.
Eu senti que esse aperfeiçoamento ficou bom. É curto, mas acho que teria sido uma música muito diferente sem essa parte.
RM: Seria como se algo estivesse faltando se não estivesse lá, certo? (risos) Eu senti como se nós absolutamente tivéssemos que ter isso dentro da música. Há algo diferente entre nós e as estrelas pop americanas. O nosso DNA é diferente.
Como foi preparar “Permission to Dance”? Você pode contar em uma mão quantas músicas do BTS têm uma mensagem tão positiva quanto aquela música.
RM: Certo. Eles falaram sobre colocar um pouco de rap em “Permission to Dance” enquanto estávamos trabalhando nela, mas nós dissemos que nunca iria funcionar. Eu me divirto mais quando estou cantando e dançando do que qualquer outra coisa. Acho que essa música foi uma das poucas vezes em que eu senti que estava apenas me divertindo enquanto eu a cantava e dançava. É uma sensação incrível ceder à música com todo o seu corpo e apenas rir ao invés de pensar muito sobre isso. Eu acho que é o poder dessa música. Eu não estava estressado me preparando para ela como eu estava com "Butter". Quando se tratava de “Butter”, eu tinha que pensar sobre o que deveríamos demonstrar e como eu poderia fazer isso. Sempre tenho o cuidado de não ser um problema dentro da dinâmica do grupo. Mas eu realmente não precisei me preocupar com isso com "Permission to Dance". Honestamente, eu senti que precisava apenas adicionar um pouco da alegria que eu senti.
Depois do sucesso inimaginável de “Dynamite” e “Butter”, essa música parece um pouco mais descontraída.
RM: Ah, isso é muito divertido. Bem desse jeito. E há uma frase na letra que diz: "Nós não precisamos nos preocupar porque, quando caímos, nós sabemos como aterrissar". A mensagem é universal, mas você poderia dizer que é também algo que o BTS sempre disse.
Você falou sobre “2! 3!” na “ARMY Corner Store", dizendo que “2015 a 2017 foi um período difícil para nós e nossos fãs”. Você conseguiu dizer isso porque acabou sabendo como “aterrissar”?
RM: O que eu faço pode ser considerado como uma espécie de negócio - um tipo de negócio pessoa a pessoa. É por isso que eu quero ser o mais honesto possível com o ARMY, quase obsessivamente. Eles dizem que isso não pode acontecer no mundo do K-pop e há um certo aspecto de boa fé nisso, porque eu não quero preocupar os fãs, mas eu quero, sim, contar a eles sobre as coisas pelas quais passamos tanto quanto eu puder. Outro motivo pelo qual eu falei sobre aquela época foi que eu queria pagar as minhas dívidas com muitas pessoas. Passar por cima dessa história como se ela nunca tivesse acontecido seria como dizer que "aqueles não éramos nós". E que aquilo está no passado. Eu acho que, já que está no passado, já que estamos bem agora e como aqueles dias foram claramente necessários, acho que devemos ser capazes de falar sobre como aqueles tempos foram difíceis.
Parece que era algo que você queria transmitir aos seus fãs também.
RM: Às vezes, nós somos artistas cujas almas estão cheias até o âmago, às vezes, somos trabalhadores de escritório meticulosos e, às vezes, fazemos parte do clube hiper-patriótico do "você conhece...". Nós somos muitas coisas ao mesmo tempo - é por isso que nós falamos sobre a persona e o ego. É meio doloroso e solitário querer discutir essas coisas em toda essa extensão, mas acho que eu sou assim. Eu quero me expressar plenamente.
Você diria que a música “Bicycle”, lançada durante o FESTA, mostra quem você é como pessoa? Você falou sobre as suas emoções cotidianas usando uma bicicleta como metáfora.
RM: Eu enfrentei muita pressão ao fazer música ao longo da minha vida. Para seguir em frente um pouco mais ou fazer uma música que se destaque melhor, desde coisas menores como a minha técnica de rap a coisas maiores como tendências musicais. Eu queria ser bom no rap e eu queria um pouco de reconhecimento. Nesse sentido, você poderia dizer que “Bicycle” é um tanto desafiadora. Eu queria lançar uma música para celebrar o FESTA, mas o tema é muito importante para mim, especificamente. As bicicletas ocupam um lugar importante no meu coração, então foi exatamente sobre isso que eu acabei escrevendo. Eu sinto que essa música é algo como uma bússola, me dizendo onde eu estou agora. A minha vida atual é o que eu absorvo como inspiração, então esse acabaria sendo o resultado, de uma forma ou de outra.
Há uma parte na letra em que você diz: “Quando você está feliz, você fica triste”. Eu imaginei você andando de bicicleta e contemplando a sua vida.
RM: Os meus sentimentos vão a extremos sempre que ando de bicicleta. A minha personalidade costumava ir aos dois extremos às vezes, mas também retorna a mim por conta própria quando eu ando de bicicleta. Quando ando com a minha bicicleta, eu me torno livre da pressão das coisas que eu devo sentir e pensar. Não me importo se as pessoas me reconhecem e isso é o mais perto que eu chego de me sentir livre, mental e fisicamente. Quando estou andando rápido e me sentindo como se estivesse em uma nuvem.
No meu caso, há uma grande livraria na minha vizinhança e há momentos em que eu vou até lá sozinho e penso sobre que tipo de pessoa eu sou enquanto escolho quais livros comprar. De alguma forma, essa experiência me leva a pensar nisso.
RM: Eu li um livro de Lee Seok Won, da Sister’s Barbershop, recentemente. Ele estava contemplando sobre por que gosta de livrarias. Ele se lembrou de como não apenas é barulhento, mas todos estão olhando para os seus livros e não olhando para mais ninguém, e há uma espécie de liberdade nisso. Eu realmente me simpatizo com isso. Então, eu arranjo tempo para ir à livraria e passo um pouco mais de tempo lendo.
Eu acabo conversando comigo mesmo apenas ao olhar as capas de todos os livros da loja. De certa forma, é contemplação sobre contemplação, mas parece ser um momento especialmente necessário para você.
RM: Acho que eu ficaria muito entediado sem isso, já que eu tenho estado tão "atrás de um escudo" ultimamente. Ler! Malhar! Ir a galerias! Andar na minha bicicleta! (risos)
Então, escrever "Bicycle" foi uma experiência pela qual você teria que passar de qualquer maneira, embora não tenhamos certeza de onde você veio, onde está agora ou para onde está indo.
RM: Exatamente. Foi exatamente esse tipo de marco que essa música foi para mim e acho que eu mantive isso em mente até certo ponto quando a lancei para o FESTA. Primeiramente, eu concordei em fazer algo, mas depois me perguntei o que eu deveria fazer e isso me veio à mente imediatamente: Vamos apenas fazer algo sobre bicicletas.
Até a própria música tem conexões profundas com todas as músicas que você já ouviu, do folk ao hip hop e também pinceladas do indie coreano.
RM: Você está certo. Me inspirei na música de pessoas que tiveram um impacto na minha vida - artistas que tenho ouvido ultimamente, como Elliott Smith e Jeff Buckley, e grupos como KIRINJI.
É interessante como o resultado final é uma música cujo estilo é difícil de atribuir a qualquer época. Nem a sensação que ela passa, nem o próprio som são retrô, mas também não refletem as tendências atuais da música.
RM: Eu e a nossa equipe estamos, pode-se dizer, na vanguarda do pop. Então, depois que eu fiz “Bicycle”, nos perguntamos se deveríamos mantê-la. Mas, na verdade, foi exatamente por isso que acabei fazendo a música assim. Porque é assim que a minha vida está agora. É bom para mim me conhecer dessa maneira, mas também não quero me prender. Por outro lado, estou interessado em artistas de todo o mundo que são totalmente diferentes de mim. Há até pessoas que fazem música repentinamente ou por capricho e não se importam com o gênero em que eu estou interessado agora. É... Como devo dizer isso? Enfim, eu estou em algum lugar da minha vida, eu acho. (risos)
No ano passado, em uma entrevista à Weverse Magazine, você disse: “Tenho apenas 27 anos na idade coreana”. Acho que “Bicycle” pode ser a sua própria resposta a essa afirmação - a música de alguém que cresceu ouvindo Drake na Coreia.
RM: Você entendeu. É exatamente isso. Drake foi quem me fez pensar que eu também poderia cantar, lá em 2009 (risos), e foi isso que me trouxe até aqui. No passado, eu queria fazer algo assim como o Drake - ele influencia a música ocidental a medida em que o estilo musical que ele segue, muda. Mas como eu não vivo a minha vida da maneira que eles vivem, eu não posso fazer exatamente a mesma música que eles.
Por esse motivo, eu percebi que esse é o tipo de música que acabaria nas playlists de pessoas como você, tendo em vista que tem um estilo que pode expressar os sentimentos de forma geral, mais do que qualquer gênero musical específico conseguiria.
RM: É assim que as coisas se dão, eventualmente. Às vezes, penso assim: Eu não poderia colocar “Bicycle” em uma mesma mixtape com algumas músicas que sejam feitas espontaneamente, como acabei de falar? Eu gostaria de ter tido esse tipo de imagem quando fiz músicas, mas atualmente eu sou muito lento em fazê-las. Eu também não consigo pensar em letras tão bem como eu costumava fazer. Eu tenho mais possibilidades de absorver coisas novas, porém a saída do que vem de dentro de mim é ridiculamente limitada e extremamente lenta. Dizem que há muitas histórias de artistas do passado indo para diante de suas telas, se sentindo incapazes de pegar no pincel e gritando: "Quem sou eu?". É mais ou menos assim que eu estou me sentindo. Tenho trabalhado em uma mixtape desde 2019, mas ainda não terminei tantas músicas.
Bem, talvez seja porque a direção que você deseja seguir com as suas letras mudou. Isto é, que você está tentando expressar as ideias que construiu dentro de você, em vez das suas experiências ou de comentários sociais.
RM: É por isso que eu não consigo escrever letras tão rápido quanto antes. Eu não sei o que estou fazendo, então não tenho escolha a não ser apenas escrever primeiro. E é por isso que eu acho que o Yoongi é uma pessoa tão incrível. Quero dizer, como ele faz tantas músicas e tão bem? Talvez seja porque ele assume também a perspectiva de um produtor, mas eu não consigo fazer isso. Eu não apenas estou com inveja, mas também acho que o ponto de partida quando estou fazendo música tem que ser a letra. Eu apenas... Eu espero estar no caminho para algum lugar. Mas é assim que eu sempre me sinto (risos), então quando ouço as minhas músicas de dois anos atrás, elas já soam como algo antigo.
Você participou da música "Don't", do eAeon, que apresenta uma letra impressionante também - letra que começa com a cor das ondas e termina com uma imagem de pedregulhos. Parece que é o seu interesse pela arte que permite que você continue desenvolvendo essas imagens visuais.
RM: Não posso dizer com certeza, mas provavelmente é um reflexo forte. Eu tinha visto um artigo no qual um artista dizia que os pedregulhos são a forma perfeita: uma rocha desgastada repetidamente em uma série de incidentes e coincidências que foi transformada em algo na forma redonda no final. Dizia que o artista havia colecionado pedregulhos por um longo tempo, dizendo que os pedregulhos são perfeitamente lisos, sem quaisquer pontas, embora não sejam nem círculos perfeitos, nem ovais. Além disso, eu absolutamente amo Lee Qoede. Eu vi uma citação em um livro sobre a arte dele: “Vamos nos emaranhar. Vamos permanecer unidos. Vamos não discutir. E vamos nos tornar pedregulhos na narrativa da nova liderança do meu país." Ele escreveu isso em uma carta enquanto trabalhava durante o período de libertação do país. Eu pensei que essa foi uma maneira muito moderna de expressar as coisas, para alguém que viveu as circunstâncias políticas caóticas de 1948 querer se tornar um pedregulho. Eu senti como se as suas palavras ainda tivessem significado - como se elas continuassem vivas. Acho que o uso da palavra "pedregulho" por esses dois artistas causou uma impressão muito duradoura em mim.
Eu fiquei impressionado pela forma como as ondas relativamente grandes dão lugar à imagem de pequenos pedregulhos e, então, você termina esse fluxo com palavras como "Não leve aquele nome embora, aquele que apenas você conhece" e "Eu odeio ser apenas qualquer flor silvestre”, no sentido de uma pequena presença que é definida por outros.
RM: Sim, foi divertido. Uma vez eu pensei em como os relacionamentos das pessoas são como ondas quebrando e acho que isso se misturou com os meus pensamentos sobre pedregulhos e veio à tona de uma vez. Há uma frase que eu escrevi há muito tempo enquanto pensava à beira-mar. Eu pensei: Há alguma cor nas ondas? Quando as pessoas falam sobre ondas quebrando, de que ondas estão falando? As ondas azuis ou as ondas brancas? Eu fiquei completamente emocionado quando estava pensando nisso (risos), mas, de novo, esse sou apenas eu. Então, eu escrevi esse verso - “Eu me pergunto de que cor são as ondas” - e ouvi a música que o eAeon havia me dado, e para mim soou como uma névoa rolando sobre o oceano. Foi realmente fácil começar a escrever a letra, pois a percepção sensorial daquela frase se justapôs ao que ele me deu. Foi um chamado “momento aha!” (risos) e sempre que isso acontece, as letras saem de mim de uma só vez. Demorou apenas cerca de uma hora e meia para escrever a letra. Eu pensei em mais opções para a letra depois, mas acabei ficando com a primeira.
O que você está buscando a ponto de estar pensando tanto?
RM: No fim, é muito importante para mim questionar quem eu sou e eu quero expressar quem eu descubro ser, mas estou passando por um momento muito difícil porque não sei se o que descobri está certo. Então, por enquanto, “Bicycle” também é o resultado desse processo de coletar as versões de mim que eu descobri que representam o que há de melhor em mim. Mesmo ao fazer uma música como “Bicycle”, eu tenho que transmitir - como coloco isso? Se trata apenas de mim, esse garoto de fora da cidade grande - uma essência da qual eu não consigo me livrar, eu acho. Eu não posso deixar o garoto que costumava se apresentar em Hongdae. Não é realmente algo que eu queira expressar ou no qual eu queira me agarrar. Mas é a minha essência, então eu realmente não tenho escolha. (risos)
Você vai apenas andar de bicicleta, de qualquer maneira.
RM: Exatamente. Exatamente isso! (risos)
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