*Tradução livre a partir de entrevista original publicada em 31 de julho de 2021. Caso deseje visualizá-la, acesse: https://magazine.weverse.io/article/view?lang=en&num=214
SUGA: “Essa é a única coisa que eu realmente sei fazer"
[Entrevista do lançamento
do álbum de "Butter"]
No You Quiz on the Block, da tvN, SUGA contou histórias de antes do seu debut. O período da sua vida em que ele lutou para viver da sua música. SUGA e o BTS seguiram em frente por oito anos e, agora, ele está no seu território, onde pode fazer o que quiser musicalmente. O que começou com aquela longa jornada é a história do SUGA erguendo a cabeça e olhando para o futuro, estendendo as suas mãos para ele.
Como você está se sentindo após a cirurgia no ombro? Você está fazendo fisioterapia paralelamente ao trabalho.
SUGA: Eu estou bem. Estou conseguindo acompanhar bem a fisioterapia também. Eu fiz a cirurgia no ano passado porque eu queria conseguir voltar ao trabalho o mais cedo possível. Eu não tenho mais nada a fazer, exceto música.
Você também disse que não há nada para você fazer além de música na entrevista do "BE-hind Story" no YouTube.
SUGA: É verdade. Eu tentei os jogos, mas não tenho talento para isso. As pessoas com quem eu jogo online ficam muito frustradas se eu jogo. Quer dizer, eu estou trabalhando muito, conquistei algum reconhecimento na minha vida e, ainda assim, as pessoas acabam comigo nos jogos. (risos)
Eu me pergunto se há um jogo em que você possa se sair melhor do que você se sai na sua carreira. Você está atualmente na sua sexta semana como número um na Billboard Hot 100 [com “Butter, no momento desta entrevista]. (risos) Como você tem se sentido esses dias?
SUGA: Quando nós ficamos no primeiro lugar por duas semanas seguidas, eu pensei: Uau, isso é incrível! Mas depois da quinta ou sexta semana, realmente começamos a conversar sobre isso entre nós: Eu realmente não consigo acreditar nisso. De qualquer forma, eu sinto que tenho uma responsabilidade. E acho que vou acabar pensando muito, muito mais quando nos prepararmos para um próximo período de promoção. Mesmo que eu tente apenas aproveitar essa situação, ainda não caiu a ficha. Nós não podemos sair do país e, além disso, há muitos problemas no mundo agora que são muito mais importantes do que o nosso desempenho no charts.
Como você disse, é uma situação difícil em todo o mundo. Como você se sente sobre o lançamento de “Permission to Dance”, com a sua mensagem positiva, nesse momento?
SUGA: Parece que todas as pessoas ao redor do mundo estão realmente cansadas dessa situação que segue se arrastando. Eu queria transmitir uma mensagem que dissesse às pessoas para continuarem tendo esperança até o fim. Levando em consideração como ponto de comparação que nós lançamos o álbum BE nesse contexto, aparentemente sem qualquer certeza, eu acredito que as coisas vão melhorar lentamente agora. Não sei se podemos retornar à forma como as coisas eram antes, mas ainda estou trabalhando com a esperança de que possamos voltar a uma situação semelhante à que tínhamos antes.
Você não está cansado da pandemia ter chegado a esse estado tão prolongado?
SUGA: Eu olho para isso como, quando você perde uma coisa, você ganha outra. Eu acabei conseguindo ver a minha família bem mais, já que estou na Coreia. Nesse sentido, me sinto mais estável, então não estou tão cansado quanto estou esperando a cada dia que as coisas ficarão bem em breve. Eu continuo indo e voltando entre trabalho e casa e eu comecei a refletir sobre partes de mim que eu não conhecia antes. Como, por exemplo, que eu me sinto um tanto confortável quando começo a trabalhar e termino de trabalhar em um determinado horário. Enquanto antes eu costumava ir para a cama em um determinado horário para trabalhar no dia seguinte ou então eu tinha dificuldade em acordar cedo, agora eu sei que descobri a que horas devo acordar para ter certeza de que me sinto bem o dia todo. O que eu busco na vida é estabilidade emocional e eu não acho que haja algo muito emocionante ou triste acontecendo esses dias.
Que efeito essas emoções têm quando você trabalha em músicas?
SUGA: Elas não têm um grande efeito nisso. Acho que afeta um pouco a maneira como eu escrevo as letras, mas não estou trabalhando em nenhuma letra no momento. Eu faço música há muito tempo, então acho que é possível para mim expressar emoções que eu não esteja sentindo no momento. E é bom termos lançado "Permission to Dance" nesse tipo de situação.
Você cantou em vez de fazer rap em "Permission to Dance". Junto ao rap, você começou a cantar mais antes e depois de BE. O que você aprendeu a respeito da sua voz?
SUGA: “Permission to Dance” foi um pouco difícil. Eu não traço uma linha-limite entre cantar e fazer rap ou qualquer outra coisa, mas era diferente do nosso estilo usual e as melodias vocais eram um pouco altas também. Portanto, embora tenha demorado um pouco para eu me preparar para isso, eu trabalhei muito e, mesmo quando perguntei a alguns músicos mais velhos as suas opiniões, todos eles disseram: "Está bom do jeito que você está fazendo. Não tente cantar melhor - apenas cante mais." Acho que a minha única opção é cantar mais, como eles sugeriram.
No que diz respeito ao estilo, vocês têm feito um tipo de música pop mais suave. Alguma diferença surgiu como resultado dessas mudanças?
SUGA: Considerando todos os aspectos, o inglês foi a parte mais difícil. Eu prestei muita atenção à minha pronúncia em "Butter" e "Permission to Dance". Não foi fácil capturar aquele sentimento suave [smooth like butter] nas músicas, então eu pratiquei a minha pronúncia numa boa quantia. Eu acabo respirando muitas vezes quando estou fazendo uma música em inglês, as partes do rap eram um pouco difíceis por esse motivo. Há uma diferença clara em relação às músicas coreanas, já que o inglês tem muitas sílabas. Mas eu não tenho nenhum método que eu use para os meus vocais ainda, então eu tendo a tentar muitas coisas diferentes.
O que você acha das conquistas do BTS no último ano com "Permission to Dance" e "Butter", bem como a mudança de estilo do grupo? No espaço de um ano, vocês lançaram músicas em um estilo diferente de MAP OF THE SOUL: 7 ou de BE.
SUGA: Como produtor, acho que as reações são importantes para um artista que trabalha no campo da música popular (pop). Pensando nisso e falando como produtor, “Dynamite”, “Butter” e “Permission to Dance” foram as melhores escolhas. Os gostos musicais são diferentes de país para país e as culturas também são diferentes. Dada essa situação, acho importante que sejamos um grupo que consegue enviar uma mensagem universal para o mundo.
O BTS realmente cresceu e mudou muito, começando com “No More Dream” e todo o trajeto até “Permission to Dance”.
SUGA: Eu acho que esse é um curso natural das coisas para nós que fazemos música pop. Os artistas misturam e combinam gêneros diferentes a medida em que crescem e a música se desenvolve a medida em que as pessoas da sua época a ouvem. Eu tenho ouvido uma tonelada de música ultimamente e, graças aos tempos em que vivemos, se eu ouvir uma música algumas vezes, me são recomendadas mais músicas em um estilo semelhante. E depois de ouvi-las, percebi que o estilo do hip hop também está mudando e se dividindo em diferentes ramificações. Além do hip hop, também ouço muita música instrumental. Sempre gostei da música do Hans Zimmer. Houve muitas vezes em que um filme do qual eu gosto acabou tendo uma música do Hans Zimmer.
O que há na música do Hans Zimmer que te atrai?
SUGA: Eu gosto de música orquestral. Há muitas músicas pop que estão abaixo da marca de três minutos agora e, embora seja meio que predeterminado que elas sejam sempre escritas com introduções de quatro compassos, a música orquestral pode fazer muito dentro da sua estrutura.
Mas, como pode ser visto na música "eight", da IU, que você produziu e participou, você quebrou o estilo de composição típico da música pop e tentou uma progressão altamente condensada. A composição do refrão é bastante direta.
SUGA: Sim. Eu insisti que o fluxo fosse bruscamente cortado pela metade em relação ao de uma música típica e espero que mais músicas pop sejam assim no futuro. E talvez ainda mais curtas com o passar do tempo. Quer dizer, hoje em dia há músicas que têm menos de dois minutos até.
Apesar de tudo, eu senti que o refrão em “eight” é extremamente dramático com a sua estrutura e a melodia do refrão. Pensei que era grande em escala também. Você diria que está tentando misturar os seus gostos e coisas que deseja fazer na estrutura da música pop?
SUGA: Como você sabe, eu amo hip hop, então, quando eu comecei a fazer música, eu pensava que tinha que ser hip hop, não importava o que acontecesse. E que eu tinha que me orgulhar das minhas próprias ideias e não aceitar nenhum comprometimento. Mas, ao obter alguma experiência na vanguarda da música pop, eu descobri que você pode continuar sendo teimoso ou inflexível porque há pessoas ouvindo você. Houve um tempo em que eu fazia música sem nenhum ouvinte, antes de me tornar membro do BTS. Mas se alguém perguntasse se eu parei de ser teimoso com a música que faço hoje em dia, a resposta é não. A medida em que cresci e me tornei adulto, percebi que eu tenho que negociar entre o que eu quero fazer e o tipo de música que o público deseja, sem comprometer nada. Quando desisto de algo que eu queria fazer, eu me pergunto: O que vou ganhar com isso? E, inversamente, quando quero fazer algo, me pergunto: O que posso ganhar com isso? É assim que mantenho o meu equilíbrio para chegar onde estou agora.
Você não tem escolha a não ser pensar sobre essas coisas quando trabalha nas músicas de outros artistas, especialmente quando você é um produtor.
SUGA: Eu sou o SUGA do BTS e eu sou o Agust D e, quando estou produzindo, eu sou chamado de "by SUGA". Mas quando se trata do "by SUGA", eu faço música perfeitamente comercial. Eu sou o produtor dessas músicas, claro, mas o dono é outra pessoa, sabe? Nesse caso, eles estão encomendando o meu trabalho. Mas eles não pensariam em apenas deixar tudo com o SUGA. A gravadora do artista tem que pensar cuidadosamente sobre se me contratará para produzir e considerar a minha situação também, além de que essas pessoas devem estar esperando por algo comercial. Essa é a parte mais importante de trabalhar com pessoas de fora. Na verdade, esse tipo de trabalho não é muito benéfico para mim, para ser honesto. "Ah, ele pode escrever esse tipo de música também". É apenas isso. A coisa mais valiosa que posso obter com isso é o reconhecimento e as realizações que o artista ou a empresa obterão com a música.
Como você observou na sua entrevista anterior à Weverse Magazine, quando discutiu o seu “interesse na indústria musical nos Estados Unidos”, você parece pensar constantemente nas coisas que os artistas podem fazer dentro da estrutura da indústria musical.
SUGA: Não sei. É que fiquei ainda mais certo desde o início da pandemia de que eu sou o tipo de pessoa que sempre tem que estar fazendo música. Disso eu tenho certeza, então eu quero continuar fazendo boa música. O mercado da música pop é algo que surgiu porque havia pessoas ouvindo e há uma longa história no mercado musical dos Estados Unidos. O país possui as paradas mais influentes de todo o mundo. Então, eu pensei: Eles não teriam passado pelas mesmas coisas que nós passamos? E realmente, sempre que converso com outras estrelas da música pop, a situação é sempre semelhante. Os Estados Unidos também são mais realistas em relação aos resultados comerciais do que qualquer outro país. Eu queria uma imagem precisa de como essas pessoas trabalham. Agora, a propagação da música pop coreana está a todo vapor e precisamos que mais bons artistas continuem aparecendo. Do ponto de vista de um produtor, se isso vai acontecer, acho que o ponto-chave é quão bem podemos misturar a nossa música com as características da indústria musical estrangeira em geral.
Qual foi a sensação ser parte da programação do Grammy Awards, um dos ícones da indústria musical dos Estados Unidos?
SUGA: O sentimento foi menos imediato porque não podíamos estar lá pessoalmente e não havia uma grande diferença, mas a performance me fez pensar: Isso é diferente porque é o Grammy. O que mudou a minha visão desde a primeira vez que fui a uma cerimônia de premiação da música americana foi, na primeira vez que fui, eu estava realmente com medo do maior mercado musical do mundo. Mas, quando eu olho para trás agora, eu não acho que tinha nenhum motivo para me sentir tão intimidado. Para ser sincero, eu comecei a gostar das cerimônias de premiação apenas agora. Lá atrás, eu não conseguia.
Não é exagero dizer que você conquistou a maioria das coisas que você pode como um artista na indústria da música. Quais passos você acha que são necessários para os artistas que virão após o BTS?
SUGA: A forma como os artistas trabalham parece tão difícil. Eles fazem uma aparição em um programa de música diferente todos os dias assim que o período promocional começa, o que significa que a exaustão que os artistas enfrentam é enorme e que a fadiga geralmente resulta em lesões a medida em que aumenta. Esse tipo de programas de música existe para fins promocionais, então não é como se os artistas pudessem ganhar uma renda adequada com eles. Além disso, apesar de toda a promoção, não há nenhum resultado visível, então eles inevitavelmente perdem a moral. Se possível, seria bom ter uma das performances com altíssima qualidade, mesmo que fosse apenas uma, mas nesse ambiente, eu diria que é muito difícil. E uma vez que o nosso trabalho não se encaixa na concepção comum de trabalho, há limites ambíguos quando se trata de questões de proteção legal. Precisamos de muitas melhorias na indústria e no seu sistema.
Eles demandam muitas coisas como garantia para o sucesso, mas ainda assim o sucesso é extremamente difícil de se alcançar.
SUGA: A coisa mais incrível sobre a gravadora com a qual eu estou é que eles ouvem as opiniões dos artistas. Acho que tanto nós quanto a gravadora sabemos até certo ponto quais tipos de atividades seriam melhores, comercialmente falando. Mas a questão é se o corpo pode suportar isso ou não. Se o cansaço aumentar conforme você faz continuamente essas atividades promocionais, é difícil fazê-las da maneira que você fazia quando debutou. Nesse caso, acho que a gravadora deve acomodar ativamente as opiniões dos artistas sobre o que eles conseguem e não conseguem fazer. Uma atitude que seja simplesmente "Oh, nós criamos vocês, crianças, e contanto que vocês façam o que mandamos, tudo dará certo, então apenas façam" - acho que esse tipo de atitude realmente não faz sentido. Claro, ainda pode haver situações em que a gravadora tenha que pressionar assim, obviamente. Mas ouvi dizer que houve momentos em que uma certa gravadora apenas dizia "Faça", sem nenhuma explicação para o artista, ou ainda dizia "Por que você está falando tanto?". Acho que esse é o maior problema e isso está destruindo a indústria. Se você vê o artista apenas como um produto, como eles podem fazer algo criativo? Eu realmente acho que é muito contraditório pedir às pessoas no palco que façam uma performance agradável quando elas não estão vivenciando nem satisfação, nem diversão.
Isso me lembra o videoclipe de “Daechwita”, de alguma forma. Você aparece na tela tanto como um personagem rebelde quanto como um rei, parecendo tão diferente quanto a sua situação entre quando você debutou com o BTS e a sua situação agora.
SUGA: Havia muito que eu queria fazer em “Daechwita”, não apenas musicalmente, mas também visualmente e muitas ideias me ocorreram enquanto eu refletia sobre quem eu sou como pessoa enquanto trabalhava no videoclipe. Naturalmente, me ocorreu separar o SUGA, o by SUGA e o Agust D. O personagem que eu interpretei naquele vídeo e que não era o rei era um estranho. Se passa durante a era Joseon, mas também existem carros e armas, que obviamente não pertencem àquela era. Acho que temos vivido as nossas vidas dessa maneira. Desde o nosso debut, uma parte dos amantes do hip hop nos criticou dizendo: Eles são idols. Mas, ao mesmo tempo, ouvimos coisas como: Eles não são idols. Eu não sabia qual batida seguir, então acho que é por isso que cada um dos nossos álbuns tomou uma direção diferente do que as pessoas esperavam. Mas acho que não posso mais me chamar de estranho nessa situação. Então, hoje em dia, o meu principal objetivo é continuar com o BTS por um longo tempo. Ter um grande público comparecendo aos nossos shows é bom, mas acho que o objetivo para todos nós é garantir que o grupo possa continuar fazendo música, mesmo a medida em que envelhecemos. Acho que agora estamos pensando muito sobre como podemos nos divertir e ser felizes no palco.
O que você quer dizer quando fala em música divertida e alegre?
SUGA: Acho que as pessoas ficam mais felizes quanto mais ocupado eu estou. Então, ultimamente, tenho pensado que eu preciso me concentrar um pouco mais. Acho que devemos fazer o máximo que pudermos pelo ARMY, já que eles se sentem felizes em nos assistir. Continuaremos a dar o nosso melhor, então espero que eles acreditem no BTS e mantenham os seus olhos em nós.
Então é por isso que você faz música.
SUGA: Essa é a única coisa que eu realmente sei fazer. Além da música e do BTS, não há nada de especial sobre mim quando olho para o Min Yoongi de 28 anos. É por isso que quero continuar fazendo isso.
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