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Por que o BTS comanda o mundo? [Wall Street Journal Magazine - 12/11/2020]

Updated: Dec 27, 2020

POR QUE O BTS COMANDA O MUNDO?


O grupo de pop sul-coreano alcançou o topo das paradas dos Estados Unidos,

uniu milhões de fãs ao redor do mundo em um ARMY,

rompeu recordes de visualizações online

e tem sido parte de ações imensas no mercado da bolsa de valores.

Agora o BTS está se preparando para lançar um novo álbum.



“Já se passou muito tempo desde que tivemos uma entrevista cara a cara como esta.”, o rapper j-hope, de 26 anos, membro do grupo sul-coreano BTS, começa a conversar enquanto espera seus companheiros de banda chegarem. A pandemia do coronavírus interrompeu a turnê mundial do grupo, que teria os levado a 17 cidades em três continentes neste ano. Mas isso não os deixou menos ocupados enquanto eles já olhavam adiante para o lançamento de um novo álbum.


No início de setembro, todos os sete membros do BTS - abreviação de seu nome coreano, “Bangtan Sonyeondan”, que eles alteram em inglês para "Beyond the Scene" - estiveram no bairro artístico de Yeonnam, em Seul, poucas semanas depois de seu último hit cativante, "Dynamite”, liderar as paradas globais e se tornar a música mais baixada de 2020 nos Estados Unidos. Vestidos com roupas monocromáticas, os rappers RM, SUGA e j-hope e os vocalistas Jung Kook, Jin, V e Jimin - como são conhecidos por seus nomes artísticos - alternaram entre as entrevistas e a sessão de fotos para a WSJ em um casa que foi transformada numa cafeteria chique. Passar pela segurança para encontrá-los envolveu um trabalho surpreendentemente pequeno: verificação de nome, exame de temperatura e formulário de saúde em relação à COVID-19 seguidos por uma curta caminhada até a entrada, onde o pessoal de segurança conferiu rapidamente as etiquetas com os nomes.



Em julho, o BTS quebrou o Recorde Mundial do Guinness por apresentar a maior performance musical de transmissão ao vivo com presença virtual, que atraiu fãs de mais de 100 países. Eles sentem falta do “real”, no entanto. “Essa sensação [de estar no palco] é realmente a melhor emoção que eu provavelmente sinto na vida. Mesmo se eu partir um dia, acho que voltarei para isso”, disse Jin, de 27 anos, sobre estar no palco na frente de fãs devotos do BTS, oficialmente apelidados de ARMY. O nome significa “Adorable Representative M.C. for Youth”, ou seja, “Adoráveis Mestres de Cerimônia Representativos para a Juventude”, embora a demografia da base de fãs da banda agora se estenda para muito além dessa faixa etária.


Em parte graças à paixão do ARMY - que estimamos em 48 milhões, com base em comentários online de autores únicos - a banda costuma ser chamada de "os Beatles do século 21". O grupo explodiu a receita familiar de boy band, levando o conceito de fandom para um novo território e desenvolvendo o gênero sul-coreano conhecido como K-pop em uma força global. Um censo voluntário conduzido por fãs entre julho e setembro reuniu mais de 400.000 respostas de pesquisas traduzidas para 46 idiomas, de acordo com a estudante de pós-graduação, Nicole Santero, da Universidade de Nevada, que liderou o esforço com outras duas pessoas sob o perfil @ResearchBTS no Twitter. Os dados, que ainda estão em análise, apontam para a diversidade demográfica e geográfica dos fãs do BTS.


BTS liderou a parada de canções da Billboard, lançou um dos álbuns mais vendidos da América em 2020 e se apresentou no Grammy com Lil Nas X. Eles lotaram o Estádio Wembley de Londres em 2019, ganharam quatro MTV Video Music Awards este ano e quebraram o recorde de mais visualizações no YouTube em um período de 24 horas (mais de 100 milhões) - tudo isso cantando quase inteiramente em coreano. Eles também colaboraram com estrelas da música como Ed Sheeran, Sia, Nicki Minaj, Halsey, Charli XCX e Charlie Puth.



Seu impacto tem se estendido para muito além da música. Em junho, a banda doou 1 milhão de dólares para o Black Lives Matter, uma marca que foi igualada por fãs de todo o mundo em apenas um dia. O grupo também usou sua influência para lançar o “Connect, BTS”, um projeto de arte pública que expôs nesta primavera obras de nomes como Antony Gormley e Tomás Saraceno em Nova York, Berlim, Londres, Buenos Aires e Seul. Em outubro, a empresa de gerenciamento da banda, Big Hit Entertainment Co., abriu o capital na bolsa de valores sul-coreana. A empresa levantou cerca de 840 milhões de dólares por meio de sua oferta pública inicial com uma avaliação de cerca de 4 bilhões de dólares, que saltou para 7,6 bilhões de dólares no final das negociações no primeiro dia, 15 de outubro, antes de cair nos próximos dias para 5,9 bilhões de dólares. (A nível de comparação, no início de junho, o IPO da Warner Music resultou em uma avaliação de 15 bilhões de dólares, que desde então caiu ligeiramente para uma capitalização de mercado de 14,36 bilhões de dólares.) A estreia das ações da Big Hit colocou as participações acionárias de Bang Si-hyuk - o fundador e co-CEO de 48 anos da Big Hit e o cérebro por trás do BTS, que possui quase 35% da empresa - com um valor de cerca de 2,8 bilhões de dólares. BTS é a maior “posse” da Big Hit e Bang deu a cada membro da banda 68.385 de suas ações pessoais, no valor de mais de 15 milhões de dólares no dia do IPO. O sucesso global do BTS impulsionou a Big Hit, que tem apenas 15 anos, com uma receita alta o suficiente para derrubar uma das "Três Grandes" empresas de entretenimento tradicionalmente consolidadas da Coreia do Sul das primeiras posições.


“Esses caras alcançaram um crescimento gradual ao colocarem suas vozes na música”, disse Bang por e-mail. “A música do BTS que trata sobre as emoções e experiências da juventude ressoou primeiro entre seus pares. Então, isso ressoou entre os cidadãos globais contemporâneos. E esse sentimento transcendeu fronteiras e atingiu as periferias do mundo. É assim que o grupo conseguiu receber tanto amor e apoio. Isso permite que o BTS se conecte com seus fãs onde quer que estejam e é o que torna esses sete meninos especiais ”.


O single mais recente, “Dynamite”, é a primeira música do grupo gravada inteiramente em inglês e é a primeira a realmente estrear no Top 40 das rádios americanas. A faixa é a primeira música a chegar ao primeiro lugar no Billboard Hot 100. Ela foi rapidamente seguida por seu segundo top nas paradas dos EUA, um remix com Jason Derulo e Jawsh 685 e seu hit do Tik Tok, “Savage Love (Laxed — Siren Beat)”. Seu quinto álbum, ‘BE (Deluxe Edition)’, será lançado este mês e os membros do BTS dizem que estão tentando manter o foco em sua música. “Estamos preparando nosso próximo álbum agora e eu acho que seria ótimo se todas as nossas músicas entrassem no Hot 100 da Billboard”, diz Jimin, de 25 anos. “Outra apresentação no Grammy seria ótimo.”, a alguns lugares de distância, SUGA, de 27 anos, provoca: "Apenas diga que você gostaria de receber o prêmio."


Quem é o BTS? E como eles ficaram tão famosos? Algumas perguntas persistiram mesmo após o mundo ficar hipnotizado pelos ganchos irresistíveis do BTS, suas produções em Technicolor e coreografias de altíssima qualidade.


As boy bands têm sido uma das construções mais consistentes e confiáveis ​​da música pop. Embora hoje olhemos para os Beatles totalmente cientes de suas inovações musicais e culturais que mudaram o mundo, quando eles apareceram no início dos anos 60, mais atenção foi dada aos cortes de cabelo do que às suas composições. O Fab Four (Expressão utilizada para se referir aos Beatles) também estabeleceu o projeto de destilar os membros para uma característica - O mais quieto ou O mais fofo - e levar os fãs a se identificarem com um favorito.



Esses padrões reapareceram alguns anos depois, com alguns grupos familiares de movimentos de dança elaborados: o Jackson 5 e os Osmonds. A estrutura foi formalizada nos anos 80 - reforçada com uma pitada de hip-hop leve - com New Edition (um toque adolescente em grupos de R&B com vários vocalistas como o Temptations) e New Kids on the Block, que vendeu mais de 70 milhões de álbuns no mundo todo. A banda Menudo, de Porto Rico, reforçou a reputação de fórmulas do gênero ao substituir os membros quando eles atingiram a idade de 16 anos.


Enquanto isso, a música pop na Coreia do Sul também estava estabelecendo um caminho para grupos de adolescentes cantores e dançarinos. Já em 1962, um single lançado por um grupo feminino coreano chamado Kim Sisters chegou a entrar no Top 10 das paradas da Billboard dos EUA. Mas o K-pop contemporâneo é geralmente visto como tendo o seu começo com o trio dos anos 90, Seo Taiji and Boys, que sintetizou a música e o estilo coreanos com destaques brilhantes tirados do pop ocidental e foram levados ao estrelato em um programa de talentos da TV. Um dos membros do Seo Taiji and Boys, Yang Hyun-suk, fundou a YG Entertainment em 1996. Agora, ela é uma das "Três Grandes" empresas de entretenimento da Coreia e gerou suas próprias bandas, incluindo o grupo feminino Blackpink.



Nos EUA, as boy bands se tornaram nucleares na virada do século com a famosa fábrica pop da Flórida, do empresário Lou Pearlman, que reuniu os Backstreet Boys e o NSYNC e dominou as paradas por anos. Pearlman tentou repetir a história com O-Town e LFO, enquanto outros grupos como 98 Degrees seguiram um modelo semelhante. Ao mesmo tempo, na indústria musical asiática, grupos como a banda taiwanesa F4 e o grupo japonês Arashi registravam grandes sucessos, com g.o.d. se estabelecendo na Coreia do Sul.


Houve uma reação e, então, inevitavelmente - porque sempre há uma nova geração de adolescentes chegando à maioridade - cerca de uma década depois, o pêndulo voltou. One Direction, construído pelo produtor musical britânico Simon Cowell em 2010, misturou alguns elementos de rock e EDM à confecção do pop usual e se tornou o maior fenômeno do Reino Unido desde os Beatles. (Atipicamente, eles desenvolveram carreiras solo de sucesso para todos os cinco membros depois que o grupo iniciou seu longo hiato em 2016).


Na Coreia do Sul, porém, o K-pop continuou a se tornar mais popular e mais formalizado, à medida que se tornou parte de um fenômeno internacional chamado Hallyu, ou seja, “a onda coreana”. BoA e Wonder Girls estavam entre os artistas que tentaram entrar no mercado ocidental, mas pararam, enquanto o sucesso de 2012 do Psy, "Gangnam Style", foi o primeiro vídeo do YouTube a atingir um bilhão de visualizações. Mas ainda foi uma surpresa para muitos quando sete rapazes coreanos se tornaram a junção entre o apelo global fervente do K-pop e a resiliência de uma boy band - amplificada pela mídia social - e começaram a invadir as paradas.



BTS estreou em 13 de junho de 2013, mas seu primeiro lançamento, "No More Dream '' (uma música de rap pesado que começa com "Ei, qual é o seu sonho?"), dificilmente afetou a cena K-pop, que foi dominado por artistas estabelecidos e grupos em ascensão, como EXO e Apink na época. Desde o início, a Big Hit e o Bang-PD estavam buscando criar um grupo de hip-hop que pudesse produzir suas próprias canções com mensagens que ressoassem com seu público. Em uma palestra de 2011 em sua alma mater, a Universidade Nacional de Seul, Bang previu a vinda de "ídolos saudáveis" que poderiam "cantar e dançar, atuar com certeza e até mesmo tocar instrumentos e compor". A essa altura, ele já estava trabalhando na criação da próxima geração de superstars do K-pop.


Sua primeira escolha foi RM (nome de batismo Kim Nam-jun, agora com 26 anos), em 2010. Na época, RM estava se apresentando na cena do hip-hop underground da Coreia do Sul sob o nome artístico de Runch Randa. O próximo a entrar, no mesmo ano, foi Suga (Min Yun-ki), que estava se apresentando e produzindo sob o nome de Gloss, depois de ter ficado em segundo lugar em um teste de rap organizado pela Big Hit. J-hope (Jeong Ho-seok) fazia parte de uma equipe de dança chamada Neuron antes de se tornar um trainee da Big Hit, como costumam ser chamados os artistas em um período de aprendizagem com empresas de entretenimento coreanas.


Jung Kook (Jeon Jeong-guk), agora com 23 anos, entrou como trainee após participar de um programa de audição de canto na televisão local. Ele recebeu ofertas de várias agências, mas escolheu a Big Hit depois de ver RM. Jin (Kim Seok-jin) era um estudante universitário a caminho da faculdade quando um funcionário da Big Hit o abordou para fazer um teste. V (Kim Tae-hyung), de 24 anos, foi descoberto em uma audição a portas fechadas realizada em uma academia de dança. Jimin (Park Ji-min) foi o último a entrar. Ele era um estudante de dança na Busan High School of Arts quando fez o teste para a Big Hit por sugestão de seu professor. Os membros criaram identidades fortes para si mesmos dentro do grupo - J-Hope é considerado a estrela da dança; RM é visto como o principal porta-voz, principalmente nos EUA, por falar inglês; Jung Kook é o "maknae de ouro" (ou seja, o mais jovem em coreano), mas todos contribuíram com suas habilidades de composição para sucessos como "Boy With Luv", "ON", "DNA", "Run" e "Idol”. J-hope descreve sua abordagem como uma pesquisa pesada. “Primeiro, estudo o assunto e penso sobre a história que preciso contar e que tipo de conteúdo ela deve abranger”, diz ele. “Às vezes, o tipo de história com que estou lidando é leve, mas às vezes não, então é importante que eu tenha conhecimento sobre o que estou trabalhando.”



SUGA diz que encontra ideias para suas canções nos livros que lê. “Eu tendo a pensar muito sobre o significado por trás das palavras”, diz ele. “Lidamos muito com emoções, por isso passo muito tempo pensando em como as palavras podem ser interpretadas de maneiras diferentes.”


RM, que tem créditos em muitas das maiores canções do BTS, vai se debruçar sobre uma linha de um filme ou uma cena passageira, às vezes, por anos antes de começar a trabalhar em suas letras. “[Escrever músicas] leva muito tempo para mim”, diz RM. "Então dói, de corpo e alma, quando tenho que jogar um fora, descartar uma."


Nos últimos anos, a música pop - geralmente associada a chicletes e canções dançantes animadas - tem se tornado mais séria e introspectiva. De Weeknd a Selena Gomez, ídolos adolescentes têm cada vez mais escrito e cantado sobre saúde mental e emocional, ansiedade e perda. (Um estudo de 2018 na Universidade da Califórnia, em Irvine, examinou centenas de milhares de canções pop em inglês e confirmou que a tristeza estava aumentando.) Embora uma olhada casual em sua coreografia complexa possa não tornar isso óbvio, o BTS é celebrado por seus fãs por tocar em questões psicológicas e sociais em suas canções.



"Não gosto de falar sobre o meu lado sombrio", diz Jin. "Estou no campo que acredita que os ídolos devem sempre mostrar seu lado bom e positivo." Ainda assim, uma conversa com Bang inspirou a balada solo de Jin de 2018, "Epiphany", que foca na autoaceitação. V, que contribuiu para a neo-soul "Stigma", que inclui versos como "A dor nunca é aliviada", recebeu recentemente um telefonema do produtor Bang sobre uma música que ele estava escrevendo. "Você poderia diminuir isso um pouco?", perguntou Bang.


"Como é que ele nunca diz coisas assim para mim?", SUGA se junta.


RM responde: “Porque essa é a (sua) personalidade.”


J-hope entra na conversa, rindo, "Estou com um pouco de inveja das expressões [de SUGA]."


“Eu sou o tipo que fala primeiro e depois pensa sobre isso”, explica SUGA.


Pdogg, o produtor-chefe da Big Hit, que forneceu direção musical para os álbuns do BTS desde o início, diz que são os membros da banda que decidem sobre a mensagem (como o título do álbum ‘Love Yourself’) que desejam enviar por meio de suas músicas. “O mais importante para o BTS como equipe é a mensagem que os membros desejam transmitir”, diz ele. Musicalmente, a inclinação inicial da banda para o hip-hop se fundiu com gêneros como rock britânico, EDM e future house ao longo dos anos.


A música "ainda tem base no som do hip-hop, mas quando se trata de gênero, estamos no processo de expandir os parâmetros para criar um som híbrido", disse Pdogg no final de setembro, alguns dias depois de concluir produção do próximo álbum do BTS. “Estamos no processo de aperfeiçoar o tom único do BTS.”


Para seu novo álbum, os membros do BTS fizeram propostas separadas de melodias que eles escreveram para apresentar como a música principal do álbum. Jimin descreve esse processo como “trabalhoso e doloroso”. Jung Kook aponta que os membros não estavam apenas competindo uns contra os outros, mas contra outros compositores que também submeteram tentativas a Bang. Jin sozinho enviou a ele três melodias diferentes. SUGA chegou à final. RM, entretanto, optou por ficar de fora. “A competição era muito acirrada”, diz ele.



Os sete membros do BTS passaram a infância em diferentes partes da Coreia do Sul. Jung Kook e Jimin nasceram em Busan, uma cidade portuária ao sul. Jung Kook cresceu em uma família criativa, com um irmão mais velho que é um ilustrador talentoso e pais que gostam de cantar. Quando criança, Jimin aprendeu kendo (uma arte marcial japonesa usando espadas de bambu) e pensou em se tornar um policial, mas mudou de ideia depois de começar a dançar no ensino médio. Seu pai costumava dizer que ele deveria ser promotor.


V queria ser cantor desde a infância, possivelmente influenciado por seu pai, que sonhava em se tornar uma estrela. (“O pai de Tae-hyung é super talentoso”, diz Jin, referindo-se a V por seu nome real.) Jin cresceu em uma família empreendedora. “Minha família é toda empresarial, então todos são bons oradores”, diz ele e V se junta para dizer: “Você tem o jeito da sua mãe com as palavras”.

J-hope nasceu em Gwangju e foi criado por seu pai, um professor de literatura, e sua mãe batalhadora, que já dirigiu um cyber café. “Eu costumava me perguntar como eu poderia dançar”, diz ele, referindo-se a como ninguém em sua família dançava ou cantava. ("Seu pai é bastante rígido", Jin acrescenta.) SUGA nasceu em Daegu em uma família que ele descreve como "longe de ter qualquer coisa a ver com artes e entretenimento", embora sua mãe tenha começado a desenhar aos 60 anos. Quando criança, ele pensou em se tornar um bombeiro e, a certa altura, seu pai tentou persuadi-lo a estudar jornalismo. Ele compôs sua primeira música quando tinha 13 anos. Ele já perdeu a gravação, mas diz: "Eu me lembro - vou usá-la um dia."



RM, que já pensou em estudar jornalismo na faculdade, escreveu sua primeira canção em 2007. Ele a descreve como um desastre, mas a manteve assim mesmo. “Não consigo nem dizer se a letra é coreana”, diz ele.


A mídia social derrubou as regras da indústria musical e elevou o poder dos fãs, com o ARMY do BTS liderando o caminho. Por anos, o grupo teve o maior engajamento social de qualquer ato no mundo. Muitos fãs ávidos assumem como responsabilidade pessoal transmitir novas músicas e vídeos do BTS através de tantos dispositivos quanto possível, tantas vezes quanto possível, ajudando a fortalecer as posições da banda nas paradas. A sensação de intimidade proporcionada pelo contato constante na mídia social também leva a uma intensidade e identificação com os membros do BTS que simplesmente não seriam imagináveis ​​para bandas anteriores. (ARMY é um coletivo muito unido. Muitos fãs declaram “Eu sou ARMY” ao descrever sua devoção à banda.)


“O BTS sabe como envolver os fãs entre seus grandes lançamentos com um fluxo constante de conteúdo”, disse Lyor Cohen, chefe global do YouTube Music, por e-mail. Quando a banda lançou seu single "Dynamite" em setembro, eles também carregaram mais de uma dúzia de clipes adicionais relacionados à música, Cohen diz, incluindo vídeos individuais de cada membro cantando a música, um vídeo de reação, imagens de seus ensaios de coreografia e um clipe “B-side” de seu videoclipe, mostrando a banda de diferentes ângulos de câmera.


Os esforços valeram a pena. Quando “Dynamite” estreou no YouTube, atraiu instantaneamente três milhões de espectadores, de acordo com Cohen. (No momento da escrita desse artigo no início de outubro, tinha quase 500 milhões de visualizações.) “Eles são realmente um ato global com uma legião de fãs leais de todo o mundo.” Mais de 90 por cento das visualizações de clipes do BTS este ano vieram de fora da Coreia do Sul, incluindo Estados Unidos, México, Brasil, Japão e Índia.



O grupo tem várias séries de vídeo em andamento no YouTube, incluindo Bangtan Bomb (clipes curtos de bastidores), com mais de 600 episódios e contando, e BTS Episode (vídeos mais longos de BTS em sessões de fotos, videoclipes ou eventos). Há também o Run BTS!, um programa de entretenimento semanal que mostra as sete estrelas envolvidas em jogos ou outras atividades, que é lançado no serviço sul-coreano de transmissão ao vivo, V Live, e no Weverse, a própria plataforma online da Big Hit, que oferece conteúdo exclusivo e também assinaturas premium pagas. Isso além dos habituais videoclipes, vlogs, clipes de entrevistas e reality shows de TV em que a banda aparece.


Randy Suh, um crítico de K-pop no Canadá, diz que o sucesso do BTS destacou a importância e a força das novas mídias na indústria musical. Desde o início, o BTS costumava lançar três ou quatro clipes no YouTube todas as semanas e lançar mixtapes em blogs, diz ela. “Isso deu a eles uma imagem acessível como cantores e veio em um momento em que as pessoas começaram a preferir influenciadores [de mídia social] que se sentiam mais próximos do que algum cantor pop distante”.


O império de conteúdo que o BTS produz é tão vasto que mesmo os fãs não conseguem acompanhar. Quando “Dynamite” foi lançado, Michelle Tack, de 47 anos, gerente de uma loja de cosméticos de Chicopee, em Massachusetts, solicitou um dia de folga para dar stream no videoclipe no YouTube. “Eu reproduzi o vídeo o dia todo”, diz Tack. Ela se certificou de assistir a outros clipes na plataforma entre a transmissão para que suas visualizações contassem para o total geral de visualizações. (O YouTube afirma que possui sistemas para eliminar os vídeos assistidos por programas de computador, o que pode distorcer a medida da popularidade geral de um vídeo.)


“Parece que faço parte dessa família que deseja que o BTS seja bem-sucedido e queremos fazer tudo o que pudermos para ajudá-los”, diz Tack. Ela diz que o BTS tornou sua vida “mais plena” e a aproximou de suas duas filhas, de 12 e 14 anos. A mais jovem a apresentou à banda há dois anos.


Abbey Hammond, de 15 anos, que mora em Falmouth, Massachusetts, relembra sua reação quando assistiu a um vídeo do BTS pela primeira vez na sétima série. “Seus vocais eram incríveis; eles faziam rap, dançavam e atuavam bastante nos vídeos - eu só pensava como eles eram totalmente talentosos e, ao olhar para as letras, elas eram realmente significativas”, diz Hammond. A barreira do idioma nunca foi um obstáculo. “Eu não acho que você precisa entender o que eles estão dizendo para entender quais emoções eles estão expressando”, diz ela. “Muito disso vem da própria performance. As palavras não são a única coisa que você precisa para entendê-las.”


“O melhor K-pop utiliza a narração de histórias de maneiras realmente inovadoras”, diz Colette Balmain, de 58 anos, professora sênior de cinema, mídia e comunicação na Kingston University de Londres, que organizou uma conferência acadêmica sobre o BTS em janeiro de 2020, na qual 200 artigos foram apresentados . Ela também examina o "Bangtan Universe", uma narrativa em constante evolução em torno do BTS que é contada através de vários meios, incluindo vídeos de música, postagens de blogs online e postagens de mídia social onde a Big Hit revela pistas ou peças da estória. O enredo do Universo Bangtan, no qual os sete membros adotam personas fictícias, não é revelado em ordem cronológica. Alguns fãs ávidos participam escrevendo e analisando as estórias com base em diferentes pistas lançadas pela Big Hit.


“Tínhamos álbuns com temas ocidentais, mas uma história entre os álbuns é algo incomum”, diz Balmain. “O que a Big Hit está fazendo com o BTS é inovar não apenas o negócio do entretenimento coreano, mas também o negócio do entretenimento dos EUA.”


Lee Ji-young, professora de filosofia na Sejong University em Seul, autoproclamada ARMY e autora de “BTS, Art Revolution”, afirma que o sucesso do BTS na indústria musical americana tem um significado histórico. "Isso não deve ser visto apenas como uma vitória para os cantores sul-coreanos, mas uma mudança de paradigma na hegemonia racial e linguística da América."


Lee diz que as inovações do BTS também se refletem em como o ARMY está redefinindo os fandoms de grupos pop. “Esta é uma comunidade extremamente ativa”, diz ela, apontando para contas do Twitter operada por fãs do BTS para organizar projetos de arrecadação de fundos de caridade (@oneinanarmy), para prestar serviços de tutoria gratuitos dentro da comunidade ARMY e para difundir um jornal acadêmico, The Rhizomatic Revolution Review, para o qual ela é membra do conselho consultivo. Esse jornal publica artigos revisados ​​por pares sobre “a arte, o fandom, os efeitos econômicos e as forças socioculturais geradas pelo BTS e pelo ARMY”.


A banda, que assinou um novo contrato de sete anos com a Big Hit em 2018, tem outros obstáculos para enfrentar no futuro, incluindo o início de tarefas militares obrigatórias por cerca de dois anos a aqueles que atingirem os 28 anos. Isso significa que o alistamento viria no próximo ano para Jin, de 27 anos, o membro mais velho da banda. Pedidos para isentar os membros do serviço (uma opção legal para atletas de alto desempenho e músicos clássicos premiados) têm aumentado, embora não exista precedentes para as estrelas do K-pop. Até agora, a Big Hit se manteve em silêncio sobre o assunto.


As estrelas do BTS dizem que ainda há mais coisas a serem conquistadas. “No passado, tínhamos objetivos claros e uma sede por eles. Tínhamos que nos sair bem - estávamos desesperados”, diz Jung Kook. “Eu ainda tenho uma mentalidade semelhante. São os alvos que conquistamos em cada etapa do caminho que me levam a querer me desafiar mais”.


“Antes, estávamos todos concentrados em olhar para a câmera quando a luz vermelha acendia”, diz Jimin. “Agora nos sentimos mais relaxados.”


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